SÃO PAULO – A sequência de dois meses de inflação abaixo da estimativa e a desaceleração na perspectiva para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) neste ano fizeram as instituições financeiras consultadas pelo Boletim Focus passarem a apostar em corte de 0,50 ponto percentual na Selic em novembro de 2016. O movimento está ligado ao recente rali do impeachment.
“Os números de fevereiro e a prévia de março mostraram comportamento melhor da inflação e há sinais mais claros de que a inflação está perdendo o ritmo”, explica Alessandra Cocarelli, economista da Tendências Consultoria.
A revisão do Boletim Focus ocorre após oito semanas consecutivas de manutenção da taxa básica de juros ao fim de 2016 no patamar atual de 14,25%. Entre as instituições Top 5 das que mais acertam resultados no curto prazo, a perspectiva é de Selic em 13,25% no fim deste ano, com corte de 0,50 pp em outubro e mais 0,50 pp em novembro.
Chama a atenção a revisão mesmo após o Banco Central sinalizar no Relatório Trimestral de Inflação, divulgado na última quinta-feira (31), que não há espaço para afrouxamento da política monetária.
Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, explica que o mercado tem dado pouca atenção para a comunicação do BC e que os menores índices de inflação já registrados e esperados ao longo dos próximos meses “dão a impressão” de que há espaço para o corte de juros. Mas ele discorda.
“Temos complicadores. Não sabemos sequer se essa equipe econômica tem emprego nos próximos meses”, explica Vieira sobre as incertezas trazidas pelo cenário político atual.
A estimativa de corte na Selic é resultado do rali do impeachment, que derrubou a taxa de câmbio ao menor patamar em 13 anos na semana passada e reduziu a aposta para o dólar no fim de 2016 para R$ 4 numa sequência de sete semanas de cortes.
Ou seja, a perspectiva para a Selic ao fim de 2016 só foi reduzida porque a projeção para a inflação caiu diante da forte desvalorização do dólar.
Vladimir Caramaschi, estrategista-chefe do Indosuez Wealth Management, explica que a mudança na perspectiva do Boletim Focus é um ajuste das apostas diante das quedas observadas no mercado de juros futuros.
Recessão recorde
A percepção cada dia mais reforçada do aprofundamento da crise econômica e de que o país passa pela maior recessão desde 1931 também contribui para a avaliação de que há espaço para o corte nos juros e isso é necessário para dar uma folga para a economia.
A projeção do Focus para o PIB (Produto Interno Bruto) de 2016 foi revisada para baixo pela 11ª semana consecutiva e passou de queda de 3,66% para retração de 3,73%. Para o próximo ano, a expectativa para o PIB foi reduzida de crescimento de 0,35% para 0,30%.
Com ou sem impeachment, a deterioração da economia neste ano já é dada como certa, ainda que alguns economistas prevejam melhora do PIB em 2017 com uma eventual saída de Dilma Rousseff.
No entanto, se Dilma continuar no cargo, a tendência é de que as perspectivas voltem aos patamares observados pouco mais de um mês atrás, antes do rali do impeachment.
“Se a presidente sobreviver ao impeachment, devemos ver o mercado revisando o câmbio para cima, junto com a inflação, o que vai bater em Selic”, explica Cocarelli.
Fonte: O Finacista