*A carta foi enviada para o Coelhinho da páscoa e vazou…
Papai Noel,
“Verba volant, scripta manent” (As palavras voam, os escritos permanecem)
Esta é uma carta pessoal, um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo.
Desde logo lhe digo que não preciso alardear publicamente minha lealdade. Tenho-a revelado desde meus 5 anos de idade quando finalmente você me deu aquela bicicleta cor-de-rosa da Estrela com que tanto sonhava dia e noite. Os presentes que vieram depois (o filme proibido da Xuxa, o LP do Menudo e a faca do Rambo) só fizeram com que a lealdade que eu já tinha se intensificasse ainda mais.
Entretanto, sempre tive ciência de sua absoluta desconfiança e dos gnomos e duendes em seu entorno em relação a mim e ao meu clubinho de amigos, os Lobinhos. Desconfiança incompatível com tudo o que fizemos para manter funcionando a sua casa no Pólo Norte.
Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles:
- Passei os quatro primeiros anos como peça decorativa, um abajur. O Senhor sabe disso. Só acendia se alguém colocava o dedo. Isso machuca…
- Jamais fomos chamados para escolher os brinquedinhos que estavam sendo entregues aos outros clubinhos.
- Negou o aviãozinho que meu amiguinho Moreirinha queria tanto só por ele ser meu amiguinho. Saiba que ele era fã de “Top Gun” e tinha um pôster gigante do Tom Cruise no quarto. Ele merecia mais que ninguém.
- De qualquer forma, mesmo eu sendo o líder dos Lobinhos o Senhor sempre me ignorou. Os melhores brinquedos sempre ficaram para os outros. Saiba que os escoteiros não são melhores que os Lobinhos. Não, não…
- Claro que converso com Lobinhos de outras regiões, mas, isso não tem nada a ver com Déficit de atenção.
- Querer ser o Senhor não quer dizer que eu tenha inveja. Nem que eu queria seus brinquedos, sua casinha, as renas, os gnomos, seu trono…
- Mais recentemente, conversa nossa foi divulgada e (apesar de ser apenas entre nós dois), insisto que não fui eu quem falou pra imprensa.
- Os Lobinhos sabem que o Senhor busca promover a nossa divisão, o que já tentou no passado, sem sucesso. Como líder dos Lobinhos, devo manter cauteloso silêncio com o objetivo de procurar o que sempre fiz: nada!
- Faz tempo que não sou chamado pra nenhuma festinha na sua casa. Tudo porque espalharam o boato de que eu só como coxinhas. Isso é coisa de gente invejosa e fofoqueira.
- Até o programa “As portas da esperança”, cujas propostas poderiam ser utilizadas para trazer dor de cabeça em massa e assim aumentar a economia com a venda de Dipirona, Novalgina, Anador e até Gardenal, foi tido como manobra desleal. Isso não é coisa de Deus…
- Já que a Câmara tinha o Tiririca, tentei trazer ao Senado o Sérgio Mallandro e fui muito criticado por isso, numa visão equivocada do nosso sistema. E não foi sem razão que em duas oportunidades ressaltei que deveríamos trazer também o Patati e o Patatá.
Passados todas essas fofocas, tenho certeza que o Pólo Norte terá tranqüilidade para crescer e voltará a distribuir os presentinhos como antigamente.
Finalmente, sei que o Senhor não tem confiança em mim e nem nos Lobinhos, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção.
Respeitosamente
MICHEL TREMER
(Líder dos Lobinhos, mãe-de-santo e globeleza)
Autor:
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