Jairo Rodrigues é filho único e nasceu em 1985, em um povoado no interior de Minas Gerais, chamado Curralinho. O povoado fica na zona rural da cidade de Salinas no Norte Mineiro.
Seu pai era lavrador, trabalhava no campo, e sua mãe dona de casa, para ele o pai era como um super-herói, andava pelas ruas do povoado sempre com ele pendurado no pescoço. Gostava de exibi-lo para todo mundo ver. Era o xodó da família. Como pai, não havia outro melhor.
Atualmente Jairo mora em São Paulo, é colunista em seu próprio Blog e almeja um grande sonho que é ser apresentador de Tv.
Infância e morte do pai…
Como foi sua infância Jairo?
Eu não posso reclamar da minha infância, apesar de todas as dificuldades eu fui pelo menos por um tempo, uma criança feliz e alegre, aliás sou até hoje, as duas coisas, ( risos), criança e alegre. Mas na minha infância eu passei por uma dor muito grande que foi perder meu pai quando eu tinha 07 anos de idade. A figura de um pai na vida de um filho significa muito e essa figura paterna foi arrancada de mim quando eu ainda era uma criança.
Como pai, era o melhor do mundo, era o meu super- herói. Já como marido, ele falhou muito com minha mãe, a magoou muito, a fez chorar muitas vezes, eles eram felizes, mas ele por algumas vezes a feriu muito. O casamento deles passou por uma crise muito grande quando o meu pai resolver se envolver com outra mulher, minha mãe nesse momento foi humilhada, mas naquela época as mulheres eram muito submissas ao marido e por muitas vezes aguentava tudo calada, inclusive em alguns momentos agressões físicas, mas foi o melhor pai do mundo.
Essa mulher com quem o meu pai teve um envolvimento fora do casamento, era casada também e quando o marido dela descobriu, ele jurou o meu pai de morte. A sentença do meu havia sido dada por aquele homem.
Em 31 de outubro de 1992, três dias após a data de meu aniversário de 07 anos, faltou arroz em casa e nós fomos até a “venda”, nome que era dado na época para os mini-mercados de hoje, para comprar arroz. Na volta, com uma das mãos, eu segurava a mão de meu pai e na outra segurava dois bombons que ele havia comprado para mim.
Chegando próximo de casa, como era uma área de muito mato, por se tratar de uma zona rural, nós não vimos que tinha um homem escondido lá, esperando meu pai passar para lhe matar.
Meu pai recebeu vários tiros de “espingarda” (arma de fogo), pelas costas e ainda foi covardemente apunhalado na barriga com vários golpes de faca, nove ao todo!
Como foi pra você viver tudo isso, sendo ainda uma criança?
“Eu só senti o barulho dos estouros e a mão de meu pai se soltando da minha e ele caindo no chão, e a voz do homem me mandando correr. Eu corri, cheguei em casa aos prantos, desesperado, gritando, mãe! Mãe! Mataram papai! Minha mãe se desesperou, começou a chorar muito, gritando por socorro e foi até onde o pai estava, caído no chão, se jogou no chão, ao lado dele, ela sofria, chorava muito, os vizinhos começaram a chegar também para ajudar e acionar a polícia. Eu tinha 07 anos, mas eu me lembro de cada detalhe, de cada detalhe daquele dia”.
Foi um momento difícil, de muita dor para mãe e filho, o tempo foi passando e os dois se uniram cada vez mais, ali parte da família já havia sido desfeita, ficou apenas mãe e filho, um pelo outro. A mãe de Jairo não quis se casar novamente, decidiu viver apenas para o filho, para que nada lhe faltasse.
Anos mais tarde, eles receberam a notícia de que aquele homem que tinha matado o seu pai e fugido para São Paulo, havia cometido suicídio.
Como vocês receberam essa notícia?
Nunca desejamos o mal para ele nem para ninguém, desejamos sim que ele pagasse pelo crime que havia cometido, mas nunca desejamos a morte de ninguém, não podemos desejar o mal, existe a lei do retorno.
O tempo foi passando, e nem mesmo as dificuldades desanimava eu e minha mãe, contamos com o apoio dos meus avós, tanto materno quanto paterno. Graças a Deus nós sempre fomos muito queridos por todos na nossa vila. Sempre fui uma criança alegre, brincalhona, arteiro demais também,e claro, já me envolvi em brigas com meus coleguinhas na escola, eu pirraçava, era pirraçado e assim a vida ia seguindo (risos).
Você era uma criança muito peralta e encrenqueira?
Eu era… Eu lembro que uma vez eu subi no telhado de casa com um guarda-chuva e me sentindo um super-herói pulei com o guarda-chuva aberto, do telhado, me esborrachei todo, quebrei o braço e ainda levei uma surra da minha mãe. Eu também gostava de colocar apelido nos meus colegas e isso gerou várias brigas, brigas das mães terem que ir na minha casa conversar com a minha.
Você foi uma criança feliz apesar de tudo?
Apesar da morte do meu pai, de toda dor que eu e minha mãe passamos, de todo o sofrimento, de todas as dificuldades que enfrentamos eu fui uma criança muito feliz, eu tinha amigos, eu tinha carinho, eu tinha amor de mãe, de avós, de tios, de primos. Nós tínhamos meu avô materno que sempre nos ajudou, minha vó paterna, nós tínhamos vizinhos muito bons também, éramos todos amigos.
Que tipo de dificuldades vocês passaram ?
Minha mãe e eu na verdade não costumávamos dizer para ninguém sobre nossas dificuldades, mas muitas vezes, tomamos água com limão, bicarbonato e açúcar como se fosse refrigerante! Não é ruim não, é gostoso. Por várias vezes não conseguíamos comprar carne, então, ela comprava aquelas peças enormes de mortadela e comíamos a semana toda.
Antes de ter televisão em casa, sabe onde a gente assistia televisão? A primeira vez que eu vi uma tv na vida foi na casa de uma vizinha que tinha uma televisãozinha pequena de 07 polegadas, que era tv e radio também, ela era ligada através de uma bateria de carro, porque não havia energia elétrica ainda em nossas casas.
Depois disso tivemos tv na praça! Havia uma televisão comunitária e todo dia uma pessoa ligava ela as 18horas e desligava as 22horas.
Depois quando já tínhamos energia elétrica em casa, minha mãe comprou uma TV 24 polegadas, preto e branco. Eu gostei, mas queria na verdade aquelas TVs a cores, para ver as coisas mais bonitas. Sabe o que minha mãe fez? Pegou aqueles plásticos meio transparentes, porém colorido, era azul, me lembro bem, e colou no vidro da Tv para ela ficar com um pouco de cor.
Logo depois também as coisas começaram a melhorar um pouquinho e minha mãe começou a fazer “geladinhos”, ou “gelinhos”, como preferirem chamar, e começou a vender, juntou um dinheiro e conseguiu comprar uma TV a cores. Nossa foi a maior felicidade do mundo, ter uma tv em cores.
Apesar de tudo você se orgulha da vida que teve?
Se tem algo que me orgulho e que não me envergonho em dizer é que apesar de todas as dificuldades da vida, eu tive a melhor mãe do mundo ao meu lado. A minha mãe foi o melhor presente que Deus me deu.
Quando terminou o Ensino Fundamental, Jairo precisava sair do povoado e ir para a cidade e começar o Ensino Médio. No começo hesitou, porque não queria deixar sua mãe para trás e ao mesmo tempo ela não poderia ir para a cidade, pois já seria difícil manter ele na cidade, quem dirá os dois. Ela então conseguiu que uma amiga, mesmo tendo parentes na cidade, foi uma amiga da mãe quem o acolheu. E assim ele fez o primeiro ano do ensino médio, morando na casa dessa amiga da mãe e nos finais de semana ele voltava para a zona rural ficar com sua mãe.
O sofrimento da mãe…
Em novembro de 2001, pouco antes das férias de dezembro, eles resolveram que essa história dele ir somente nos fins de semana não estava bom, a saudade era demais de mãe e filho, então ela com a ajuda do pai, avô de Jairo, resolveram alugar uma casa pequena na cidade para que ela fosse ficar com ele, e assim ela fez.
No ano seguinte, 2002, Jairo iria completar 17 anos e iria concluir o 2º ano do Ensino Médio e já tinha um sonho para continuar estudando que era ser ator de teatro e televisão e também ser apresentador de programas de Tv. Nisso ele já fazia alguns ensaios, colocava a mãe como plateia e ela foi a sua maior inspiração, foi quem abraçou os sonhos dele e resolveu embarcar com ele nesse sonho.
Uma noite qualquer, já na casa nova, na cidade, a mãe de Jairo reclamou de uma dor de cabeça, ele levantou, foi lá pegou um remédio pra dor, ela tomou, e com o passar dos dias ela foi reclamando cada vez mais dessa dor de cabeça, se negava a ir ao médico, mas um dia a dor foi tão forte que não teve jeito, teve de ir ao médico e ele pediu uma ressonância, fez os exames e ela contou que há mais ou menos um mês antes ela havia caído dentro de casa enquanto fazia faxina e batido com a cabeça, sangrou, mas ela lavou superficialmente e acabou deitando na cama e dormiu.
Como não tinha naquele momento muito o que o medico fazer além dos exames já pedidos e receitado os medicamentos, ela resolveu voltar para a zona rural para a fazenda do pai, pois tinha mais gente para ajudar a cuidar dela. Jairo então ficou morando sozinho na casa e aos finais de semana voltava para a zona rural novamente ficar com sua mãe e seus avós, até que chegou as férias de fim de ano do colégio e ele foi ficar com ela as férias.
As dores de cabeça foram ficando cada vez mais fortes, ela foi perdendo a coordenação motora, coordenação essa que ela não tinha 100% antes, porque já havia tido na infância, um começo de paralisia infantil. A família vendo aquele sofrimento dela, se apegou a médicos, a curandeiros, a religiosos, a tudo que fosse possível curá-la daquela dor terrível que a impedia ate de se alimentar direito ou andar.
Foi muito difícil para você ver a sua mãe naquele estado e não poder fazer muita coisa?
“A pior parte da minha vida, foi ver a minha mãe gritar a noite de dor e eu não poder fazer nada, não poder trocar de lugar com ela, toda vez que ela gritava de dor eu dizia, Deus! Passa essa dor da minha mãe para mim, não aguento ver a minha mãe sofrer desse jeito, foi o mês de Dezembro todinho assim, corre com ela para médico, corre com ela para os ‘benzedeiros’, sim! Nós recorremos a tudo que fosse possível para livra-la daquela dor. Ela sentia tanta dor na cabeça que puxava os cabelos e gritava, gritava tão alto que aquilo me doía por dentro, doía a minha alma e eu só conseguia olhar para ela e chorar e pedir a Deus que tirasse aquela dor dela e passasse para mim. Banho era eu e minha vó que dávamos nela, nem isso ela conseguia mais fazer sozinha,nem mesmo ir ao banheiro fazer as necessidades fisiológicas ela conseguia ir, mas nós não desgrudávamos dela um só minuto”.
A morte da mãe e a superação…
Você está visivelmente emocionado, quer parar a entrevista, ou consegue nos dizer como aconteceu?
Tudo bem! Vamos continuar! Na madrugada de 25 de Janeiro de 2002 novamente minha mãe teve uma daquelas dores fortíssimas na cabeça e chovia muito, mas muito forte mesmo. O dia amanheceu e ela começou a passar muito mal, foi aí que mesmo contra a vontade dela, nós resolvemos leva-la ao médico.
Meu avô estava sem carro naquela época, somente um vizinho que tinha um corcel velhinho, ano 75, e foi a ele quem recorremos e pedimos ajuda, eu me lembro da minha vó, logo após abraçar a minha mãe, se virar para o meu avô e dizer chorando que aquela era a ultima vez que ela estava vendo a filha dela, como se pressentisse que realmente aquela seria a ultima vez.
Entramos no carro e saímos da fazenda rumo a cidade, era mais ou menos uns 45 km de distância ate o hospital. Minha mãe hora desmaiava, hora voltava a si dentro do carro, eu chorando, meu avô pedindo calma que tudo iria ficar bem. Faltando acho que uns 8 km para chegar na cidade o carro acabou o combustível. Eu saí correndo, acabei de chegar a pé até o Pronto Socorro, pedi ajuda mas não tinha ambulância, corri ate um ponto de táxi, chorando, pedindo ajuda e o taxista achou estranho aquele desespero, aquela era uma época que estava tendo muito assalto, então ele ficou com medo, achando ser uma emboscada e não quis ir, um outro taxista de trás me reconheceu perguntou o que tinha acontecido, eu expliquei e nós fomos até onde o carro tinha parado de funcionar. Isso já era mais de 2 horas da tarde. Conseguimos levar minha mãe para o Hospital Geral, de lá fomos de ambulância para Pronto Socorro.
Vocês então passaram por mais de um hospital até conseguir atendimento? Que barra!
Sim, e ao chegar no Pronto Atendimento, o medico veio, explicamos a situação da minha mãe, e entramos na sala, ela muito, mas muito fraca mesmo, mal conseguia falar, mesmo assim conseguiu dizer para o médico: “Por favor Dr. não me deixe morrer, eu tenho um filho para criar”.
Em seguida começou novamente a sentir as dores de cabeça fortes, o médico disse para ajudar a colocar ela na cama de Raio X. Quando eu a abracei para coloca-la na cama ela olhou pra mim, lágrimas caíram de seus olhos e me disse, “eu te amo filho”, começou a suspirar forte, foi aí que o médico gritou pra enfermeira para trazer um aparelho que agora não me lembro o nome e pediu pra me tirarem da sala também.
As 3 horas da tarde, eu tava na sala de espera, chamaram meu avô lá dentro e quando ele saiu, me olhou chorando e disse que ela havia descansado, que o sofrimento dela teria acabado. O meu chão desabou, eu havia perdido meu maior tesouro, havia perdido parte de mim, como assim minha mãe, minha mãe não!
Comecei a gritar por ela, mas ela não veio, foi então que eu disse naquele momento que eu seria o maior orgulho dela, que eu iria realizar o meu sonho, por mim e por ela.
Você superou a morte da sua mãe?
A partida dela sim, mas essa saudade eu carrego no meu peito até hoje e irei carregar até o meu ultimo dia de vida. Hoje eu entendo e acredito que ela realmente descansou, que ela realmente parou de sofrer e é isso que importa pra mim. Minha mãe está presente em todos os momentos da minha vida, em todas as lembranças, em cada ato de bondade que faço, em cada passo que dou, em cada conquista que tenho.
Conclusão do Ensino Médio
A morte da sua mãe foi em Janeiro, em fevereiro você já voltou a estudar?
Sim! Eu pensei em desistir dos estudos, eu não tinha estrutura para continuar naquele momento, mas meus avós me deram força e logo eu pensei também na promessa que havia feito para minha mãe de que eu iria estudar e iria realizar o nosso sonho.
Eu não tinha condições psicológicas para morar sozinho então, meu avô não queria incomodar mais ninguém pedindo lugar para eu ficar na cidade para continuar estudando, então ele alugou um quarto para mim em um ‘pensionato’, Pensão da dona Luiza, lembro como hoje o primeiro dia que eu cheguei lá.
E como foi essa experiência de morar em um pensionato?
Era uma casa comum com vários quartos feitos de madeira mesmo, acho que um cômodo era transformado em dois, até três quartos. No quarto onde eu ficava, havia uma beliche e uma outra cama de solteiro.
Eu dividia o quarto com mais dois garotos que também eram de outras zonas rurais e estavam ali para estudar também. Porém um certo dia eu descobri algo no mínimo curioso sobre o pensionato.
Sério? E o que descobriu?
Não era somente nós estudantes que frequentávamos ali. A dona da pensão alugava quartos também para casais, ou seja, alem de pensão de estudantes era também uma espécie de ‘motel’. As vezes presenciávamos coisas terríveis naquele lugar, mas de certa forma eu fui feliz por um tempo ali.
Depois eu comecei a procurar outras alternativas, fui morar com uma colega, não deu muito certo porque eu também não era tão fácil de lidar, eu tinha os meus defeitos, aliás tenho os meus defeitos, assim como todo mundo.
Você se considerava então uma pessoa difícil de se lidar?
Ah! Como todo mundo né, ninguém é perfeito e eu tenho até hoje os meus defeitos, naquela época eu não tinha a cabeça, a estrutura emocional que eu tenho hoje em lidar com certas situações, mas ainda me considero uma pessoa meio chatinha de se lidar. ( risos).
O seu sonho era ser ator de teatro e tv e também apresentar um programa jornalístico ou de entretenimento. Como foi o ponta pé inicial em busca desse sonho?
No ensino médio mesmo eu e uns colegas montamos um grupo de teatro, o “Sete Faces”, e começamos a participar de festivais de teatro pelo Vale do Jequitinhonha levando a peça “Zé Toim no Mundo da Imaginação”. Uma peça que contava a história de um rapaz simples que dormia e acordava no sonho em um mundo totalmente diferente do que vivia, um mundo de cultura, de poesias, de canções, de pinturas e obras de arte, um verdadeiro banho de cultura. E a peça tinha claro, um toque de humor, eu era o Zé Toim. Até hoje alguns deles me chamam assim. Eu amei dar vida a ele.
Isso na cidade onde você morava, e sua ida para Belo Horizonte com 17 anos, sozinho, como foi isso?
Sim! Mas logo o colégio acabou e cada um também procurou outros rumos, eu ainda não tinha condições financeiras para iniciar uma faculdade, então uma amiga que era quem dirigia essa nossa peça, me fez o convite de ir morar em Belo Horizonte com ela, o marido e alguns outros colegas, iríamos dividir um apartamento lá. Eu não pensei duas vezes, aceitei o convite e nem hesitei, avisei meu avô que estava indo morar em Belo Horizonte e assim eu fiz.
Chegando lá, me inscrevi no processo seletivo de bolsa de estudos para uma oficina de teatro na PUC de BH e ganhei 50% de desconto. Nessa época eu ainda recebia uma pensão do INSS pela morte do meu pai e assim eu fui vivendo lá, ajudando nas despesas do apartamento e arcando com a metade da oficina de teatro.
Lá conheci pessoas incríveis, tive professores e colegas maravilhosos. Mas com o passar dos meses algumas pessoas que a dividia o apartamento comigo foram embora para suas terras natais, as despesas aumentando, porque tinha diminuído o número de pessoas, essa minha amiga havia voltado também. Eu me vi sozinho ali. Um dia tive um desentendimento com um dos colegas do apartamento, fui acusado de uma coisa que eu não tinha feito então eu achei por bem sair do apartamento.
Um dia eu estava indo para o curso, chateado com toda aquela situação, em ter que voltar para minha cidade, em ter que abandonar meu sonho, eu conheci no elevador um casal, viram eu chorando e me perguntaram o que tinha acontecido. Resultado: Me deram abrigo até eu me ajeitar, fui morar com eles pagando uma quantia por mês. Eles já tinham alugado o quarto para duas meninas então eu fiquei dormindo na sala.
Teve também uma história de um emprego que você arrumou que não era bem um emprego, como assim?
Então! Certo dia eu estava olhando esses classificados de jornais e vi um anúncio de uma empresa que procurava um auxiliar de escritório, primeiro emprego. Logo tratei de me inscrever no processo seletivo. Mas era um emprego em um escritório, faltava um terno, uma gravata. Liguei para minha tia que morava no interior de São Paulo, falei desse emprego, que era o emprego dos sonhos, ela imediatamente junto com meu tio me mandou o dinheiro, corri comprei o terno e fui fazer a entrevista de emprego.
Chegando lá, teve o processo seletivo, ficaram de nos ligar no dia seguinte, dei até o numero do orelhão que ficava em uma banca de jornal, a mesma que eu havia comprado o jornal, para recados. No dia seguinte me ligaram dizendo que eu havia sido aprovado e que a vaga era minha, para eu ir imediatamente lá. Vesti meu terno, me sentindo o empresário e lá eu fui.
Chegando lá, subi no elevador, era no 18º andar, um prédio todo de vidro, com vista para a avenida principal de Belo Horizonte, a Avenida Afonso Pena, fiquei maravilhado né. Conversei com o recrutador e ele me disse que a vaga era minha e que eu só precisava fazer uma coisa para de fato a vaga ser minha, vender um plano imobiliário que custava acho que R$ 120,00 mensais.
Saí de la disposto a vender aquele plano para a vaga ser minha, passou o dia todo e eu não consegui vender nada, foi aí que tive a ideia estapafúrdia de ligar para o meu avô e empurrar o plano nele, para eu conseguir a vaga. Ele me depositou o dinheiro, no dia seguinte fui no escritório levei o dinheiro e disse que na próxima semana o cliente, no caso meu avô, iria mandar a documentação. Ainda bem que ele não mandou. ( risos)!
O recrutador me disse, “Parabéns, a vaga é sua, pode começar daqui dois dias, essa vai ser sua sala e sua mesa”. Fui para casa todo feliz, pois iria ter dinheiro para continuar pagando o curso de teatro. Assim eu fiz, dois dias depois eu voltei no prédio e chegando lá o porteiro me disse, “ Não tem mais ninguém lá, mudaram ontem , carregaram todas as coisas e hoje cedinho a polícia veio aqui, a empresa era de fachada, eram estelionatários”, eu fiquei branco, bege, pálido, não sabia se chorava, se ficava espantado ou que fazia.
Saí de lá frustrado, desnorteado por ter sido enganado daquela forma, ou seja, era um golpe, não tinha emprego nenhum. Foi aí que resolvi tomar outro rumo, outra atitude, ir para São Paulo, lá sim as oportunidades na área de teatro e tv eram maiores, lá eu iria conseguir rapidinho realizar meu sonho.
Que história! Foi aí que você veio para São Paulo?
Era fevereiro de 2005, não lembro exatamente o dia, mas eu acordei cedinho e disse ao casal, “vou para São Paulo”. O prédio era cerca de 5 minutos da rodoviária, eu tinha ainda um pouco de dinheiro que dava somente para comprar a passagem de ida e sobraria alguma coisa para um café na estrada. Corri lá e comprei a passagem para o dia seguinte.
E aí depois que você chegou aqui na rodoviária Tietê, fez o que?
A primeira coisa foi pegar minha mala, sentar no meio do saguão e ficar paralisado olhando aquele monte de gente andando pra lá e pra cá. Em seguida eu fui até um orelhão, disquei a cobrar para um tia minha que morava como caseira em um sítio no interior de São Paulo e quando ela atendeu eu disse: “Tia, adivinha onde eu estou?” Ela respondeu: “Em Belo Horizonte filho!” eu: “Não! Estou na rodoviária Tietê, quero ir pra sua casa e não sei como faço para ir”. Ela se espantou! Por alguns instantes ficou muda no telefone e em seguida me ensinou que ônibus pegar e como chegar ate metade do caminho que ela e meu tio iriam encontrar comigo.
Como eu não tinha dinheiro pra chegar até lá e fiquei envergonhado de pedir eu fiquei por algumas horas na rodoviária tentando vender um baú, desses que a gente coloca roupas dentro e serve tbm de assento, sabe? Resumindo, eu consegui vender, acho que por R$ 40,00 o baú e seguir viagem para a casa da minha tia. Cheguei no local combinado, eles já me esperavam. Morei com eles por 9 anos, depois consegui trabalho, comecei a morar sozinho, fiquei morando por 3 anos fora da casa deles e atualmente eu moro com eles novamente.
E como está sendo sua vida aqui em São Paulo, já conseguiu realizar seu sonho?
Não consegui ainda, mas posso te dizer, não vou desistir, mas se não acontecer, eu já me sinto um vitorioso, já me sinto realizado só de saber que conquistei tanta coisa bacana na minha vida apesar de tudo que já passei de ruim também e que me serviu de aprendizado.
Quando cheguei aqui em São Paulo, depois de um tempo comecei a trabalhar em uma empresa de produtos orgânicos, eu separava, lavava e embalava verduras e legumes para serem vendidos nos grandes supermercados de São Paulo. Um tempo depois nessa mesma empresa de Junior eu fui para Sênior, fiquei alguns anos lá.
Depois consegui um outro emprego em uma empresa de arquivos de documentos onde eu digitalizava esses documentos para arquivar posteriormente. Depois trabalhei em uma loja de roupas como auxiliar de escritório, depois em outra empresa de venda de lenhas para lareira.
Em 2012 eu fui convidado a ocupar o cargo de Diretor de Assuntos Comunitários na prefeitura da cidade onde moro hoje que é Vargem Grande Paulista, na zona oeste da Grande São Paulo, fiquei no cargo até janeiro de 2017 quando houve a troca de prefeito e eu fui exonerado do cargo para dar lugar a outra pessoa.
Mas e os cursos de teatro e tv, abandonou nesse período?
Então, paralelo a tudo isso, desde que cheguei em São Paulo eu iniciei alguns cursos livres na área de teatro e Tv mas não consegui concluí-los por falta de condições financeiras para arcar com os custos. O único ligado na área que eu concluí foi o curso de repórter de Tv, esse eu tenho até certificado. Foi um dos melhores cursos que já fiz e pretendo fazer novamente.
Nesse meio tempo eu iniciei também alguns cursos superiores e não me identifiquei com nenhum ate que decidi fazer a faculdade de jornalismo, foi onde eu realmente me encontrei, eu amo o jornalismo, eu quero ser jornalista. Hoje estou no ultimo ano da faculdade, tive de parar um tempo por falta de condições financeiras, mas vou concluir minha faculdade e me tornar um jornalista.
Criei um blog na internet onde sou repórter e colunista, trago notícias, entretenimento, entrevistas e tem tido uma aceitação tão incrível que eu agradeço a cada dia os meus seguidores, leitores e espectadores e agradeço também aos assessores de imprensa que me mandam pautas, cada dia mais e mais pautas chegando e eu amo o que faço.
Em 2016 eu tive uma experiência maravilhosa também com a televisão, uma experiência única que só aumentou a minha esperança de realizar o meu sonho. Eu conheci uma apresentadora de um programa na Record News e ela me convidou para ir ao programa dela fazer um quadro que falasse de saúde estética das celebridades, então em 2016 eu tive essa experiência incrível com a televisão.
Jairo, qual realmente é o seu sonho e o que falta para você realiza-lo?
O meu sonho é um dia estar em uma emissora de Tv apresentando um programa onde leve informação, notícia, entretenimento, entrevistas, um programa que preste serviços a sociedade e a comunidade. Um programa mais popular, mais próximo das pessoas.
O que falta para eu realizar esse sonho é uma porta aberta, uma única oportunidade de mostrar a minha capacidade, de mostrar aquilo que eu amo fazer. É encontrar um empresário disposto a abraçar essa causa comigo e patrocinar o meu programa que já tem até nome e formato, em alguma emissora, emissoras locais mesmo, tem tantas por aí.
Mas sozinho é difícil, no momento eu não tenho um trabalho fixo para poder me ajudar a bancar esse programa. Se não ele já estaria no ar em alguma emissora. Porque eu tenho certeza que é um programa de qualidade e de prestação de serviço a todos.
Então o que me falta nesse momento é condições de levar esse programa para o ar, ou uma oportunidade em alguma emissora.
Nós poderíamos ficar por aqui muito tempo, porque sabemos que você tem muita história de vida e superação para contar, mas precisamos finalizar essa entrevista. Para finalizar, que lição você deixa aqui para quem está lendo essa sua entrevista, para quem pensa em desistir dos sonhos ou para quem assim como você está em busca de realizar algum sonho?
Primeiro é, nunca desista de seus sonhos, jamais perca a hombridade, procure sempre ser uma pessoa de bem. Na vida nós podemos optar por vários caminhos, jamais opte pelo caminho errado, dando certo ou não as coisas na sua vida agora, siga sempre com sua cabeça erguida, aprenda com seus erros. Para você que acredita em Deus, tenha muita fé que ele um dia vai realizar o teu sonho, se este for para o seu bem.
Procure amar mais e reclamar menos e nunca, mas nunca permita que alguém diga que você não é capaz. Aproveite com muita sabedoria todas as oportunidades que aparecerem em sua vida, e nunca esqueça suas origens, de onde você veio. Tenha força, foco e fé!
Lembre-se: Se um dia você cair, levante-se e recomece, pois sempre é possível e necessário recomeçar. Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo, é renovar as esperanças da vida e o mais importante, é acreditar em você de novo.