O campo exibiu sinais inequívocos, tão questionável foi a qualidade do futebol exibido no clássico do Maracanã. Mas todo o cenário contribuía para traçar um fiel panorama do quanto será difícil, para Botafogo e Fluminense, tornarem-se competitivos em 2018.
A começar pela mobilização de sua gente. É verdade que o Campeonato Carioca não é sucesso de público em estádios há algum tempo. É verdade, também, que ainda estamos em 20 de janeiro e as atenções do público do Rio ainda não se voltaram para o futebol, tão fresca na memória está o fim da última temporada. Mas o Maracanã com pouco mais de 7 mil pagantes certificava o descrédito em torno de times cujas balanças de entradas e saídas pendem claramente para o lado das perdas. No 0 a 0 deste sábado, é até possível dizer que o segundo tempo trouxe certo alento para o tricolor. Num ano de tantas más notícias, terminar o jogo mais perto do gol é algo a que se apegar.
São dois times que, de alguma forma, atravessam reconstruções. O Botafogo em menor escala, o Fluminense de forma mais clara. Parecidos na quantidade de perigo que ofereceram nas áreas no primeiro tempo, refletiram também seus estágios.
O Botafogo tenta ser um time com um pouco mais de controle da bola do que em 2017. No entanto, diante de um Fluminense com três zagueiros e alas que se posicionavam da linha dos meias em diante sempre que o tricolor tentava atacar, ofereciam-se aos alvinegros as jogadas em profundidade pelos lados. Nas costas de Gilberto e de Marlon o Botafogo construiu seus dois lances mais perigosos. Um deles, o cruzamento de Luiz Fernando para João Paulo aparecer na área e cabecear. Outro, uma penetração perigosa de Pimpão que, ontem, jogou pela direita. Em 2017, jogava pela esquerda.
Mas o manejo de bola do Botafogo ainda sofre com a necessidade de adaptação ao novo estilo, sentiu a tarde nem tão inspirada de Léo Valencia e a timidez dos defensores em iniciar as jogadas com passes mais curtos. Eram frequentes os recursos aos chutes longos, quase lotéricos.
FLU TEM GOL BEM ANULADO
O Fluminense, por sua vez, tem mudanças muito mais nítidas em seu time base, um processo gradativo de enfraquecimento de elenco nos últimos anos, além de um ambiente externo que põe o campo à prova. Neste cenário, tenta se adaptar a um novo sistema de jogo. No primeiro tempo, construía pouco, também recorria a passes longos, mas terminou por ter uma virtude que o fez ser mais perigoso: ganhar quase todas as bolas aéreas disputadas na área rival. Numa cobrança de lateral, Gum cabeceou para Jéfferson salvar e Pedro, de calcanhar, quase marcar. E foi após um córner que Pedro desperdiçou uma boa oportunidade.
Não fosse a falta de Renato Chaves, que resultou na correta anulação do lance, o gol de Ibañez, jogador com origem de volante e agora atuando na linha de zaga, premiaria o defensor que, ao menos, mostra audácia para tentar sair jogando e iniciar jogadas com qualidade. Algo raro no Brasil.
O Fluminense acabou sendo melhor time na segunda etapa. Sornoza surgia mais próximo do ataque, ele e Marcos Junior tentando trabalhar entre volantes e zagueiros do Botafogo, deixando Pedro centralizado. Num desenho próximo de um 3-4-3 na hora de atacar, acabavam por descobrir espaços, dar opções de passe para as saídas em velocidade. Jamais chegou a haver um domínio massacrante, mas a sensação de gol na segunda etapa foi mais tricolor. Com Pedro e Robinho, por exemplo.
Logo vieram as substituições em série, marca do Estadual. É até sinal de bom senso diante do calendário mas, por vezes, times em formação perdem identidade. Algumas trocas pioraram o Botafogo, como a entrada de Lindoso como meia, com função de se aproximar do ataque. Não funcionou. Outras atuações ruins minaram o time. Pimpão não esteve bem. O Fluminense melhorou ainda mais no fim, sem o sistema com três zagueiros. Um alento para a torcida.
Alento mesmo neste clássico sem gols é a certeza de que, mais do que desempenho agora, algo difícil para dois clubes com tantas dificuldades financeiras, o momento da temporada é de se exibir sinais, mostrar para onde cada treinador pretende caminhar. Para ambos, o trajeto ainda é longo.
FICHA DO JOGO: FLUMINENSE 0 X 0 BOTAFOGO
Fluminense: Julio César, Renato Chaves (M. Alessandro), Gum e Ibañez; Gilberto, Jadson, Douglas, Sornoza e Marlon (Ayrton); Marcos Jr. (Robinho) e Pedro.
Botafogo: Jefferson, Arnaldo, Marcelo, Igor Rabello e Gilson; Matheus Fernandes, João Paulo, Leo Valencia (Rodrigo Lindoso) e Luiz Fernando (Leandro Carvalho); Pimpão (Ezequiel) e Brenner.
Juiz: Pathrice Wallace Maia
Cartões amarelos: Ibañez, Igor Rabello, Marcos Jr., Matheus Fernandes, Rodrigo Lindoso, Douglas, João Paulo.
Fonte: O Globo Online (Carlos Eduardo Mansur)