O envolvimento do São Paulo FC com a história da Seleção Brasileira em Copas do Mundo não se conta somente através das participações de grandes jogadores. O Tricolor também possui nomes importantes ligados aos bastidores e ao comando da equipe nacional.
Em algumas delegações, dirigentes e técnicos são-paulinos tomaram parte da cadeia decisória da Seleção. Eram responsáveis pelo bom andamento da equipe em solo estrangeiro durante a competição e certamente também merecedores de louros e críticas.
Conheça um pouco, então, de Vicente Feola, Paulo Machado de Carvalho e Aimoré Moreira:
VICENTE ÍTALO FEOLA
Feola, à esquerda, com uniforme são-paulino na Concentração da Seleção Brasileira. Foto: Placar/Abril
- Copa do Mundo de 1950: Assistente-técnico
- Copa do Mundo de 1958: Técnico
- Copa do Mundo de 1966: Técnico
Ex-jogador de futebol, Vicente Feola teria atuado pelo Tricolor em equipes secundárias quando o time ainda se situava no bairro da Floresta (não há registro fiel do fato). Começou a carreira de treinador no São Paulo em 1937, após passagem pelo Estudantes. Desde então, apesar de idas e vindas e troca de postos, sempre esteve ligado ao clube de alguma forma.
Foi o treinador efetivo do Tricolor em sete oportunidades e ainda o técnico substituto em outras quatro situações. É aquele que mais tempo permaneceu no cargo são-paulino, somadas todas as passagens, como também é o detentor do recorde de jogos no comando do time, com 532 partidas.
Em 1950, devido ao sucesso obtido com os títulos paulistas de 1948 e 1949, deixou o Tricolor provisoriamente nas mãos de Leônidas da Silva, recentemente aposentado, para tornar-se o assistente do treinador Flávio Costa na Copa. Foi vice-campeão do mundo. Mas a história com a Seleção Brasileira não poderia parar por ai.
Sob comando de Paulo Machado de Carvalho, também são-paulino, Vicente Feola foi o técnico do Brasil na conquista do primeiro campeonato mundial, em 1958. Responsável pela convocação de um garoto de 17 anos para a disputa do torneio mais importante do futebol (Pelé), Feola acabou ofuscado pelos craques e estereotipado por lendas como um senhor bonachão, mas em verdade era profundo conhecedor da técnica e da tática do esporte.
Quatro anos depois da conquista da Copa do Mundo da Suécia, Feola dirigiria a Seleção Brasileira, desta vez no Chile. Adoentado, ele deu lugar a Aimoré Moreira (também Tricolor). Voltou a comandar o Brasil em uma Copa do Mundo em 1966, mas dessa vez sem o braço forte de Paulo Machado de Carvalho, a organização da delegação lhe causou problemas e o time foi eliminado do certame.
No São Paulo, mesmo antes do sucesso na Seleção, assumiu cargos administrativos. Mas sempre que a situação pedia, após queda de um técnico ou outro, lá esteve presente guiando o Tricolor. Faleceu em 1975, no mesmo ano em que foi inaugurada, no Estádio Cícero Pompeu de Toledo, uma Escolinha de Futebol com o nome dele.
PAULO MACHADO DE CARVALHO
Paulo Machado de Carvalho, ao centro, compartilhando a Copa do Mundo com José de Almeida (à esquerda) e Feola (à direita)
- Copa do Mundo de 1958: Chefe da delegação
- Copa do Mundo de 1962: Chefe da delegação
Radialista famoso e empresário bem-sucedido (dono e fundador da Rádio Pan-Americana e da Rádio e TV Record), Paulo Machado de Carvalho foi eleito, em 1940, membro do Conselho Deliberativo do São Paulo FC. Também exerceu o cargo de Secretário Geral. No mesmo ano, ele foi indicado e eleito para o cargo de Presidente da Diretoria.
Em 1942, foi o responsável direto pela contratação do ídolo são-paulino, Leônidas da Silva. Dois anos depois foi escolhido para dirigir o Departamento de Futebol Profissional. Outro par de anos a seguir, foi novamente eleito presidente do São Paulo FC, desta vez por aclamação.
Mas Paulo Machado preferia o comando direto do futebol. Assim, em 1948 voltou a dirigir o departamento profissional do Tricolor, onde permaneceu até 1951. Nesse ano, o Dr. Paulo pregou uma peça em todos os são-paulinos: com Geraldo José de Almeida, locutor da Pan-Americana, produziu a locução de um jogo fictício entre São Paulo e Milan, no qual os italianos goleavam por 8 a 1. Era tudo mentirinha de 1º de abril.
Ficou conhecido também como “Marechal da Vitória” por ter chefiado as delegações brasileiras nas conquistas dos Campeonatos Mundiais de 1958, na Suécia e 1962, no Chile. Apesar de ser exemplo pelo modelo de gestão administrativa, é mais notória a intervenção de Paulo Machado na decisão do primeiro título mundial, na passagem sobre a camisa da seleção na partida:
A Suécia, dona da casa, jogaria de amarelo. Não havia segundo uniforme. Um outro conjunto que o Brasil anteriormente usava era branco, mas a mera visão daquela camisa remetia lembranças dolorosas de 1950 (quando com essa vestimenta perdeu o título no Maracanã, para o Uruguai). Os jogadores ficaram tensos e preocupados com o fato.
Feola alertou o Dr. Paulo, que era muito supersticioso (durante toda a Copa de 1958 ele usou o mesmo terno, afinal, começou ganhando com ele) e o chefe da delegação não deixou por menos: Mandou comprar jogos de camisas azuis em uma loja em Estocolmo, depois pediu que arrancassem os escudos da CBD das camisas amarelas e que pregassem nas novas, bordando também os números.
Por fim, reuniu-se com os jogadores, para motivá-los sobre a nova vestimenta, primeiramente dizendo que das cinco Copas anteriores, quatro seleções haviam sido campeãs com a cor azul; depois, apelando a emoção, concluiu: “É a cor do manto de Nossa Senhora Aparecida”. E assim, de azul, o Brasil foi campeão mundial pela primeira vez.
AIMORÉ MOREIRA
Ao centro, Aimoré Moreira celebra com a Copa do Mundo
- Copa do Mundo de 1962: Técnico
Do trio de irmãos treinadores, somente Ayrton Moreira não treinou o Tricolor. Zezé Moreira foi técnico do São Paulo em 1970 (campeão paulista). Já Aimoré Moreira comandou o Tricolor anos antes, em duas ocasiões: 1962 e 1966.
Na primeira passagem, justamente a que o levou para a Copa do Mundo do Chile, Aimoré só esteve à frente do São Paulo em 12 partidas, nas quais conseguiu levar o São Paulo ao vice-campeonato do Torneio Rio-São Paulo, a melhor colocação do clube naquela disputa até então.
Em 17 de março, após jogo contra o Flamengo no Pacaembu, Aimoré deixou o Tricolor para assumir a Seleção, mas mantendo o contrato com o clube e garantindo o retorno. Porém, os processos de convocações e cortes de jogadores minaram o relacionamento do treinador com a diretoria do São Paulo.
Aimoré havia pré-selecionado cinco jogadores do São Paulo para a lista de 40 nomes enviados a FIFA: Bellini, Jurandyr, De Sordi, Benê e Prado. Somente os dois primeiros seguiram junto à Seleção para a Copa, fato que desagradou muitíssimo os dirigentes são-paulinos e ainda mais o próprio Aimoré, que desgostoso com essa reação e após a conquista do bicampeão mundial do Brasil, rompeu o contrato com o Tricolor no dia 1 de julho.
Mas a história entre Aimoré Moreira e o São Paulo não terminou assim. Em 1966, ambos se acertaram novamente e o técnico comandou o São Paulo mais uma vez, agora a temporada inteira. Não conseguiu, contudo, repetir o mesmo sucesso que teve com a camisa amarela do Brasil.
PROFISSIONAIS DE PONTA
Além do chefe de delegação e dos dois técnicos citados, o São Paulo também contribuiu em outras funções técnicas, com profissionais que reconhecidamente significaram avanços tanto nos campos de atuação de cada um, como para o futebol em geral. Veja a relação dos nomes, abaixo:
- Professor João Carvalhaes (Copa do Mundo de 1958: Psicólogo);
- Moraci Sant’Anna (Copa do Mundo de 1994: Preparador físico);
- Luiz Rosan (Copa do Mundo de 2006 e 2010: Fisioterapeuta);
- Ricardo Sasaki (Copa do Mundo de 2018: Preparador físico);
- Ratinho (Copa do Mundo de 2018: Roupeiro).