O primeiro jogo do Brasil na Copa do Mundo da Rússia provocou muitas críticas, principalmente a Neymar. O fato de não ter feito a diferença no jogo contra a Suíça se juntou a todas as críticas anteriores sobre sua falta de profissionalismo e seu individualismo, em campo e fora dele.
Estaremos cobrando demais de nossa estrela? Ou será que Neymar não está ao nível que esperaríamos de alguém com seu talento?
O que representa um ídolo?
A longa tradição futebolística do Brasil faz com que a resposta pareça óbvia. O ídolo é o melhor jogador de todos, ou aquele que ajuda a equipe a ganhar, que faz o que mais nenhum consegue fazer. E a torcida consegue ter vários ídolos em simultâneo, como aconteceu especialmente nas Copas de 1970 e 1982.
Mas os valores que o ídolo mostra fora de campo têm muita importância. Podem ter significados emocionais, políticos, morais e muitos outros. As vezes sem relação com o sucesso em campo; outra vezes, com grande influência.
Vamos falar algo que poderá ser mal compreendido no mundo do futebol. Será que Diego Maradona poderia ser considerado um jogador melhor se não tivesse caído no consumo de drogas? El Pibe foi uma sombra de si próprio na Copa de 1994, quando tinha 33 anos. Olhem Cristiano Ronaldo e vejam o que um gênio pode fazer por seu time aos 33 anos. (Parece que Sergio Ramos, jogador da seleção espanhola, também tem essa opinião.)
Neymar e… Senna
Neymar vem aparecendo como o ídolo eternamente adiado, que está esperando o desaparecimento de Ronaldo e Messi para “herdar” o posto de Melhor Jogador do Mundo. Suas atitudes fora de campo – desde a forma descolada como se relacionada com suas equipes, até seu narcisismo nas mídias sociais, ou até o fato de se dedicar de um jeito quase profissional a outro esporte exigente como o poker – vêm dificultando que ele se torne um líder. O líder que a torcida brasileira vem pedindo, para conseguir aquele resultado extra para seu time.
Curiosamente, o exemplo oposto a Neymar talvez nem venha do futebol, mas sim da Fórmula 1. Ayrton Senna foi o cara que nasceu com o talento e depois deu tudo de si mesmo para ser o melhor. Você pode colocar questões sobre determinados lances de sua carreira em termos éticos, mas não pode questionar o perfecionismo, o profissionalismo e a dedicação extrema a sua atividade. Imagina que Neymar seguia esse exemplo.
O ídolo reflete a sociedade?
Será a popularidade de Neymar um reflexo de uma evolução da sociedade? Será que a aparência pessoal, a imagem, a manutenção de vários interesses refletem uma mudança nos valores socialmente aceitos? Será que nossa única esperança para um futuro vencedor é jogar nas loterias online, e deixámos de acreditar no trabalho duro?
Não adotamos esse tom pessimista, por dois motivos. Primeiro, porque Neymar só se representa a ele mesmo, e só está no centro do debate porque ele é, ou deveria se comportar como, o melhor jogador brasileiro da atualidade. Muitos dizem que só aos 25 anos é que o jovem adulto consegue sua maturidade total, e Neymar, até o momento, não destruiu sua carreira como fizeram outros antes dele.
Segundo, porque o brasileiro quer novos Sennas. E se quer, é porque sabe que só talento não chega: o trabalho, o esforço e uma cultura de exigência são essenciais. Tenhamos fé!