Ter um diploma de curso superior não é garantia de emprego, mas coloca o trabalhador em uma vantagem de salário aumentar. Um trabalhador com ensino superior completo receber, em média, 5,7 vezes a renda de um brasileiro com até um ano de estudo. O aumento desta disparidade é mais um dos efeitos perversos causados pela crise económica: os brasileiros que foram para a escola por menos tempo têm sido os mais afetados pela piora no mercado de trabalho.
Atualmente, um trabalhador com ensino superior completo têm uma renda média de R$ 4.911,66, enquanto um brasileiro com até um ano de estudo ganha r$ 859,81. A diferença entre os rendimentos dos dois grupos, de 471%, é maior do que era no ano passado, de 443%. Mas foi ainda pior: em 2012, a mais de anos de escolaridade ganhou, em média, de quase 500% a mais do que aqueles que tinham até 1 ano de estudo.
E não piorou apenas para quem tem pouco estudo: para os brasileiros com ensino médio completo, diferencial neste ano em relação a quem tem o superior completo atingiu 169%. A diferença é o mais alto desde outubro de 2012.
Procura
Os dados contidos em um estudo feito pelo pesquisador Sergio Firpo, professor do Insper. Desde o final dos anos 90 e, especialmente, sobre o início da presente década, a economia brasileira foi capaz de diminuir a disparidade salarial entre os diferentes níveis de escolaridade, o que foi fundamental para a redução da desigualdade, por exemplo.
“Em algumas faixas de escolaridade estamos vendo um retorno da diferença de salário para o nível observado em 2012”, diz Firpo. Os números da pesquisa foram extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) e foram com base no rendimento mensal habitual do trabalho principal dos brasileiros com mais de 14 anos.
“Há um agravamento do quadro, embora seja lento. Mas é importante lembrar que esse diferencial já foi maior, principalmente na década de 90 e no início do ano 2000”, diz Firpo.
Sem emprego, o bocal da opção de turnos
Parte da deterioração pode ser colocado na conta do crescimento da informalidade no mercado de trabalho, onde o salário, em geral, é menor do que no mercado formal.
O caso de Daniele Feitosa da Silva, 30, desencadeado a partir de uma confecção têxtil há dois anos, que concluiu o ensino médio e tem enfrentado dificuldade de se recolocar. Desde que foi demitido, não conseguiria o emprego formal. A renda mensal de R$ 1,2 bilhões, caiu para R$ 500, graças aos bicos que você pode fazer em trabalhos de limpeza. Nas últimas semanas, passou a procurar emprego como atendente e o supermercado.
Com três filhos, Daniele, tem sido sustentada pelo marido, que trabalha como tatuador, com o rendimento da mãe-de-lei. “Em casa, nós corte de bastante coisa: a caminhada dos filhos, as despesas com a roupa e o supermercado. Já são dois anos desempregado e sem muita perspectiva,” ele diz.
Assim como Daniele, os trabalhadores de baixa qualificação que não são capazes de recolocar no mercado de trabalho optou pela tradicional bico para aumentar a renda mensal.
Tatiane Amorim, de 34 anos, está sem trabalho desde 2017. O último trabalho foi como operador de caixa. Com dois filhos, a renda da casa é garantida pelo marido, que trabalha como motorista de ônibus. Para ajudar no orçamento de casa, ela já trabalhou como manicure. “Mas muitas pessoas deixaram de procurar manicures para economizar dinheiro. As pessoas dão preferências para outras despesas”, diz Tatiane.
Na plataforma digital Bicos, que se propõe a fazer a conexão entre aqueles que precisam de trabalho e aqueles que o procuram, a maior parte do registro de quem procura uma renda extra é de mulheres de baixa escolaridade.
“A maior demanda é para trabalhos que exigem baixa qualificação, sem a necessidade de um curso específico. Há uma grande procura por diaristas e empregados”, diz o gerente de produto de Bicos, Priscila Comitto.
Ocupação cai para os menos escolarizados
Com a recessão e a lenta saída da crise económica, os trabalhadores com menor escolaridade foram os mais prejudicados com o fechamento de postos de trabalho. No primeiro trimestre deste ano, a ocupação para trabalhadores sem educação ou com menos de um ano de educação diminuiu de 19,9% em comparação com o mesmo período de 2017.
Entre os brasileiros que terminaram o ensino secundário, a ocupação cresceu cerca de 2% este ano e, para os trabalhadores com ensino superior, o avanço foi de 5,3%.
“Durante a crise de 2015 e 2016, houve uma perda de lugares fortes em pessoas com menor escolaridade. Eles acabaram sendo feridos”, diz o economista e sócio da tendências Consultoria Integrada, Alessandra Ribeiro.
Além de enfrentar um mercado de trabalho mais restrito, ou que cresce em um ritmo mais lento e mais fraco, os trabalhadores, os menos instruídos ainda não viu a concorrência aumentar. Nos últimos anos, os brasileiros estão gastando mais tempo na escola – uma média de 9,1 anos – e, por isso, hoje, há mais trabalhadores com algum nível de qualificação mais adequada para um mercado reduzido.
“A escola é muito popular, para o fornecimento de pessoas com este nível de ensino tem mais concorrência para o trabalho, enquanto a demanda diminuiu”, diz o diretor da FGV Social, Marcelo Neri.
Os dados do último inquérito nacional aos agregados familiares sobre a educação revelou, por exemplo, que o número de brasileiros com mais de 25 anos e que tenha concluído o ensino médio foi de 26,3%. A parcela de brasileiros com ensino superior é de 15,3%, enquanto o número de brasileiros sem instrução ou com menos de um ano de estudo foi de 11,2%.