Como transformar o maior desastre ambiental da história do país em um recurso pedagógico para ensinar a tabela periódica e, ao mesmo tempo, levar os alunos de uma escola pública a construir uma rede de filtros de água que ajudam a limpar as águas contaminadas do Rio Doce (ES). Essa foi a história revelada pelo professor de química, Hemerson Nogueira (27), em uma das oficinas que encerraram, nesta quinta-feira (16), o Seminário ConheCER 2018, realizado em Maceió (AL).
A iniciativa garantiu a Hemerson um lugar entre os dez finalistas do Global Teacher Prize 2017 e um prêmio de US$ 300 mil, além do primeiro lugar no Prêmio Professor Nota 10 da Fundação Victor Civita. “Na época, eu não tinha dinheiro. Tirei R$ 1.600 do meu bolso para iniciar o projeto”, contou Nogueira. “Os principais protagonistas dessa história são os alunos. Eles não tinham nada para me oferecer, apenas a confiança em mim e a credibilidade”, destacou. Hoje, a região que vai de Boa Esperança a Nova Venecia, últimos municípios a serem atingidos pela lama contaminada da barragem de Mariana, já tem instalados mais de 30 mil filtros desenvolvidos pelos alunos. Atualmente, Hemerson é coordenador de projetos da Varkey Fundation, responsável por escolher o professor mais importante do mundo todo ano. “A educação empreendedora desperta no aluno a vontade de fazer acontecer. Porque uma coisa é desejar, outra é colocar em prática”, concluiu.
Lego em sala de aula
O professor Fabiano Birchal liderou a oficina “Ensinando Professores – Educação Empreendedora na Prática” e apresentou a experiência de como usar o Lego em sala de aula. “O Lego me possibilita uma impressão 3D da experiência educacional e me permite enxergar coisas que eu talvez não conseguisse ver usando apenas o campo mental”, explicou o professor. “Antes de desenhar essa experiência, é preciso conhecer muito bem o aluno, saber quem é, o que traz na bagagem, como gosta de estudar, para só depois ter contato com conteúdos e competências”, comentou.
A criatividade das oficinas do último dia do seminário encantou os participantes, que esgotaram as vagas. A professora de português Crislaine Santana viajou de ônibus de Aracaju a Maceió em busca dos cursos. “O que eu mais gostei foi perceber que o empreendedorismo não serve apenas para criar negócios, serve também para a vida”, analisou. “Foi isso o que todas as oficinas, cada uma a sua maneira, trouxe para nós.”