Servidora Sara Lília Silva Pereira e secretário de Direitos Humanos, Francisco Gonçalves (Foto: Divulgação)
“Falta verdade no que é divulgado sobre o MST [Movimento dos Sem Terra]. Tenho muito orgulho da formação que recebi no movimento. Não somos invasão, somos luta, produção e conquistas”, enfatizou Sara Lília Silva Pereira, que já foi sem terrinha. Ela se mudou com a família para um assentamento aos quatro anos de idade, em 1995, e hoje integra a equipe de servidores da Secretaria de Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop), em São Luís, e participa de projetos voluntários em Itapecuru aos finais de semana.
A figura dos sem terrinha ganhou notoriedade na última semana, quando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) divulgou nota em repúdio à reportagem veiculada pelo programa Domingo Espetacular da Rede Record de Televisão sobre os Sem Terrinha (crianças que vivem nos assentamentos) que, segundo o movimento, teria manipulado informações para fortalecer o processo de criminalização de organizações populares, que lutam pela defesa de seus direitos.
“Num país, em que o número de analfabetos supera a marca de 11 milhões de pessoas e que 1 a cada 5 crianças está fora da escola, nos surpreende que um Encontro Nacional de Crianças Sem Terrinha, onde foram discutidos temas relacionados aos direitos das crianças e a produção de alimentos saudáveis, seja classificado como doutrinário”, dizia a nota.
À ocasião, o movimento iniciou uma campanha de divulgação de histórias de sucesso de pessoas que cresceram em assentamentos pelo país e hoje desempenham papéis notáveis na sociedade como médicos, advogados, professores, etc.
Segundo Sara Pereira, o Encontro de Crianças Sem Terrinha é um evento lúdico em que as crianças aprendem sobre a importância dos alimentos orgânicos para a saúde e para o desenvolvimento socioambiental. Ela conta que foi em seu primeiro encontro que descobriu a importância do trabalho dos pais para as pessoas de dentro e fora do assentamento e que o alimento orgânico que eles cultivam, além de matar a fome, contribui com um estilo de vida mais saudável.
Educação
Sobre os processos de educação e formação política e profissional nos assentamentos, a ex-sem terrinha conta que há uma superestrutura desconhecida pela sociedade. O movimento elabora o projeto de formações profissionais e fecha parcerias com instituições públicas de ensino para a execução do plano, arcando com os custos de seus estudantes. Além disso, há um programa de formação para jovens, chamado escola estadual, em que as crianças assentadas aprendem o valor da cooperação e do trabalho coletivo.
“Lá, nós cuidamos de hortas, jardins, ajudamos idosos com dificuldades na rotina doméstica, consertamos móveis e estudamos questões históricas e sociais relevantes para uma compreensão ampla de mundo”, conta Sara.
Graças aos estímulos que recebeu em sua comunidade, Sara – que possui curso técnico em secretariado – cursa, hoje, Tecnologia de Alimentos, na Universidade Estadual do Maranhão (Uema), e se orgulha também da formação dos irmãos: um técnico agrônomo e uma pedagoga.
“A vida nos assentamentos é harmoniosa, simples, produtiva. As pessoas mudariam de ideia se conhecessem melhor essa realidade que está espalhada por todo o país”, acredita.
Hoje, Sara sonha em dedicar seus conhecimentos acadêmicos para a produção do assentamento de Itapecuru, onde ela atua voluntariamente junto ao coletivo de mulheres que produz polpa de frutas, bolos, artesanato e que movimenta a economia solidária e fomenta o gosto pelo trabalho na comunidade.
“Ninguém ali é vagabundo, todos trabalham desde pequenos e a preocupação com a educação é maior que a de muitas comunidades urbanas com amplo acesso a tecnologias de educação”, desabafa.
O secretário de Direitos Humanos e Participação Popular, Francisco Gonçalves, conta que Sara desempenha um trabalho de destaque na Secretaria: “ela possui um bom senso de equipe, é criativa e laboriosa, além de ter uma formação técnica bastante elogiada pelos colegas”.
Na Sedihpop, Sara é responsável pelo processo administrativo e de articulação das oficinas e cursos promovidos pela Escola de Conselhos, setor vinculado à Sedihpop.
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