Prestes a lançar o álbum “Arembi” no Baile Charme Show do Circo Voador, no Rio de Janeiro, o cantor, compositor e baixista Jorge Ailton teve a música incluída na sua vida desde pequeno pela família. Incentivado pelo pai e pelo seu avô paterno, o renomado saxofonista Moacyr Silva, que fez carreira ao produzir vários LPs de artistas como Elizeth Cardoso, Marisa Gata Mansa, e Maysa, além de ter sido diretor da Copacabana Discos.
Tendo seu dom percebido pela família, começou a estudar música aos 8 anos e depois de passar pela flauta e pelo violão, foi aos 15 anos de idade que encontrou seu verdadeiro amor pelo contrabaixo.
Iniciou sua carreira profissional em 1999, trabalhando com artistas como Sandra de Sá, Zé Ricardo, Toni Garrido, Mart’nália, Paula Toller, e atualmente está acompanhando o cantor Lulu Santos em sua turnê no Acústico MTV 2.
Depois de ter lançado um CD com sua banda de soul “Funk U” em 2005 , decidiu partir para carreira solo, começando pela mistura de rock com soul do seu primeiro trabalho chamado “O ano 1”, produzido por Alexandre Vaz e contando com dez faixas, incluindo participações especiais.
Quando foi que seu primeiro contato com a música aconteceu?
Desde que me entendo por
gente. Venho de uma família muito musical. Meu avô por parte de pai era o
grande maestro Moacyr Silva (gravou também sob o pseudônimo de Bob Fleming),
saxofonista e arranjador. Meu avô foi também diretor artístico da Copacabana
Discos e da Editora Irmãos Vitale. Meu tio avô por parte de mãe era o cantor
Raul Moreno, que esteve nos coros de discos de samba desde os anos 50 até
falecer nos anos 90.
Sendo assim, música lá em casa era assunto sério, pois era o sustento de grande
parte da família. Tive acesso a muitos discos de qualidade o que ajudou muito
na minha formação como músico e como ser humano.
Vindo de uma família ligada à música, como foi o apoio no início da sua carreira?
Percebendo meu interesse e aptidão para a música, meu pai me colocou na aula de musicalização muito cedo, acho que eu tinha uns 9 anos de idade, na Escola de Música da UFRJ, no Passeio, centro do Rio, e já considero isso o primeiro incentivo. Depois passei para o violão e, logo em seguida, para o contrabaixo. E quando decidi de fato ser profissional, fui muito apoiado e incentivado. Foi um processo bem natural e uma coisa que todos já esperavam.Todos vibram com cada passo dado na minha carreira e é muito bacana isso.
Quais lembranças você tem ao lado do João Nogueira no “Clube do Samba”?
As melhores possíveis. Meu pai e ele eram amigos de infância e para mim ele era só o tio João, que ia nos meus aniversários e que gostava de cantar. Frequentei muito a casa dele no Méier, que veio a se transformar no Clube do Samba depois. Lembro que saia com meu pai na bateria do Clube do samba tocando tamborim, eu devia ter uns 11 anos. Quando comecei a tocar violão, com uns 13 anos, é que me dei conta da grandeza e da importância do artista João Nogueira. Ouvi muito os discos dele e continuei frequentando sua casa até meu pai falecer em 1993.
Nos anos 80, seu pai foi um dos grandes representantes dos clubes ligados a resistência negra. Como é sua ligação com esse movimento?
Meu pai foi presidente do
Renascença por 10 anos, e lá, aos sábados, sempre tinha roda de samba durante o
dia e baile black à noite. Quando eu estava indo embora eles estavam testando o
som do baile black e essa mistura meio que formou minha personalidade musical.
Sobre o movimento negro não tenho nenhuma ligação formal. Acredito que existem
várias formas de se fazer política e a minha forma é através da arte. O amor é
a força mais poderosa que existe e acaba prevalecendo a qualquer argumento,
sendo assim, fazer música, demonstrar coragem de ser artista e incentivar à
arte a meu ver é uma forma de resistência as injustiças sociais e morais que ainda
imperam no Brasil.
O que te inspirou a lançar o álbum “Arembi”, e qual foi a origem desse nome?
AREMBI é o jeito brasileiro de dizer R&B (Rythm and Blues), tão brasileiro que parece até um nome indígena. Então, se eles fazem R&B eu faço AREMBI, pois como já disse, aprendi a gostar desse estilo com os brasileiros que nos “traduziram” isso originalmente como Tim Maia, Cassiano, Hyldon, Sandra de Sá e Banda Black Rio. É o abandono do complexo de vira lata, pois acho que desde que nos façamos entender, podemos dizer as coisas do nosso jeito, puxando pra nossa realidade.
Como foi sua aproximação com o estilo R&B?
A música negra em todas as suas vertentes foi o estilo que mais ouvi e toquei em toda minha vida, principalmente a soul music, começando por Tim Maia, Hyldon, Cassiano e Banda Black Rio. Na música internacional, Aretha Franklin, Chaka Khan, Stevie Wonder, Prince e Michael Jackson. Sendo assim, é muito natural pra mim, compor, cantar ou tocar esse estilo. Me sinto em casa.
Fale-nos um pouco sobre sua experiência com o Funk U?
Foram 10 anos maravilhosos. Fizemos muitos shows, lançamos um álbum e passamos todos de meninos a profissionais da música. Conheci muitos artistas do nosso segmento que continuam meus amigos parceiros até hoje como Sandra de Sá, Hyldon e Fernanda Abreu. A partir da banda Funk U que fiz minha primeiras Gigs com o Zé Ricardo(hoje diretor do Rock in Rio) e com a Sandra de Sá.
Quais são suas inspirações no meio musical?
Os artistas pop que tem uma longa carreira e que não abrem mão da qualidade. Tenho a sorte e a honra de trabalhar com um exemplo de administração de carreira artística que é o Lulu Santos. Artistas como o Djavan, a Paula Toller, Marisa Monte e Caetano Veloso também dão um show nesse aspecto. Gostaria de fazer meu show por todo Brasil e por muitos anos, esse é o meu desejo ter uma carreira sólida
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Aos músicos e artistas que estiverem lendo essa entrevista. Não esperem por, empresário, gravadora(que quase não existe mais mesmo), por ninguém. Gerem conteúdo, confiem na sua música, precisamos de renovação e para isso devemos ocupar espaço fazendo, tocando, gravando e lançando novas canções. Viva a música.