Presidente nacional do PSDB – principal partido da oposição –, o senador Aécio Neves (MG) classificou nesta quinta-feira (10) a perda do grau de investimento do Brasil de “caos anunciado”. Em uma entrevista coletiva no Senado, o parlamentar tucano afirmou que a responsabilidade pelo rebaixamento brasileiro é “exclusivo” da presidente Dilma Rousseff.
Nesta quarta (9), a agência de classificação de risco Standard and Poor’s (S&P) retirou o grau de investimento do Brasil na classificação de crédito. A nota do país foi rebaixada de “BBB-” para “BB+”, com perspectiva negativa. No comunicado em que informou a decisão, a agência apontou como causas da decisão de rebaixar a nota brasileira a deterioração fiscal do país e a falta de coesão da equipe ministerial de Dilma.
Segundo o senador, no primeiro semestre de 2014, já havia uma queda de receita em comparação com o mesmo período do ano anterior. Para ele, essa defasagem fiscal justificaria uma reorganização das despesas públicas. “O que fez a presidente da República? Ampliou os gastos”, ironizou.
Na avaliação de Aécio, mesmo diante dos primeiros indícios da crise econômica, Dilma não quis perder popularidade “para vencer as eleições”.
“A responsabilidade exclusiva pela situação que passa o Brasil, que irá se agravar a partir deste rebaixamento, é de responsabilidade exclusiva da presidente”, ressaltou o tucano.
O Brasil conquistou o grau de investimento pelas agências internacionais Fitch Ratings, Standard & Poor’s e Moody’s em 2008 e 2009, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Nesta quinta, em um seminário na Argentina, Lula minimizou a perda do grau de investimento. Segundo reportagem do site do jornal “O Globo”, o ex-presidente disse, em um discurso de mais de uma hora, que o rebaixamento pela S&P “não representa nada”.
“É importante que a gente tenha em conta de que o fato de que eles [Standard and Poor’s] diminuíram o ‘investment grade’ de um país não significa nada, significa que apenas a gente não pode fazer o que eles querem — opinou Lula no evento que contava com a presença de empresários, acadêmicos, diplomatas e funcionários do governo Cristina Kirchner.
“Eu fico pensando: é engraçado, como é que eles têm facilidade para tomar medidas quando a dor de barriga é na América Latina. Ou seja, todo mundo sabe quantos países da Europa estão quebrados e eles não têm coragem de diminuir o “investment grade” de nenhum país”, complementou o ex-presidente.
A perda do grau de investimento do Brasil também voltou a repercutir nesta quinta-feira no Congresso Nacional. O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atribuiu o rebaixamento à incapacidade do governo de “fazer a parte dele”.
“A verdade é que o governo não está conseguindo fazer a parte dele. A arrecadação caiu violentamente, muito mais que a retração da economia, o governo não sinaliza que as despesas não vão ser aumentadas, o governo não tem a confiança dos mercados, dos investidores e dos consumidores para manter a atividade econômica”, comentou Cunha em um seminário sobre reforma política no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) ecoou as críticas de Lula à decisão da Standard and Poor’s e também desqualificou o rebaixamento brasileiro.
O parlamentar petista relembrou em uma entrevista coletiva no Senado que as agências de avaliação de risco não previram a crise mundial de 2008. Para ele, por esse motivo, não dá para o país tratar a Standard and Poor’s e as outras agências de classificação de risco como “suprassumo do conhecimento da economia”.
“É claro que, para o governo, era bom ter mantido o grau de investimento. O governo tem um déficit. Vale dizer que tem uma crise mundial. Hoje, 80% dos países do mundo têm déficit no seu orçamento. Estados Unidos, déficit. França, déficit. Itália, déficit. E Brasil tem um déficit. É ruim? É ruim. Mas o que eu estou dizendo é que o impacto é menor na economia, que o mercado já tinha se antecipado. Ele já sabia que o Brasil ia perder o grau de investimento”, avaliou Lindbergh.
Crítico da política econômica do ministro Joaquim Levy, o senador do PT aproveitou o episódio do rebaixamento para voltar a criticar o titular da Fazenda.
“Não estamos querendo fulanizar. Só acho que vai haver um debate no governo muito forte. Como atingir o superávit, como fechar as contas. O receituário do ministro Levy é um receituário que nós já conhecemos: cortes, cortes, cortes”, reclamou.
Para o senador José Serra (PSDB-SP), a nota de investimento do Brasil foi rebaixada por causa da “fragilidade” política do governo Dilma. O tucano destacou em uma coletiva de imprensa no Senado que, na opinião dele, o Palácio do Planalto não demonstra ter condições de enfrentar a crise econômica. Ele criticou a suposta desorganização do Executivo para encontrar uma solução para a crise.
“Na questão dos impostos, por exemplo, [o governo] chega e joga um balão de ensaio sobre um imposto que vai aumentar, que vai criar. De repente, volta atrás, chega outro, chega um terceiro. Isso está passando para as pessoas uma ideia de fragilidade, uma ideia de não saberem direito o que fazer. O governo precisa passar a ideia que tem um objetivo, está trabalhando consistentemente para isso. Mesmo que você não esteja de acordo, mas é preciso ter um caminho”, enfatizou.
Do G1