O ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), filósofo Mangabeira Unger, pediu para deixar o cargo nesta segunda-feira. Com a saída do filósofo, que é filiado ao PMDB, o ministério deve ser extinto. Mangabeira Unger assumiu o cargo em fevereiro, na primeira troca ministerial do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.
Ele foi o primeiro ministro da SAE, criada durante o governo do ex-presidente Lula com o nome de Secretaria de Planejamento de Longo Prazo. Ele assumiu o posto em 2007 e permaneceu no cargo até 2009.
A Secretaria é responsável por assessorar diretamente o presidente da República no planejamento nacional e na formulação de políticas públicas de longo prazo voltadas ao desenvolvimento nacional.
A informação foi confirmada nesta noite por meio de nota à imprensa divulgada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência. De acordo com o comunicado, Dilma agradeceu o serviço prestado por Unger à frente da pasta, e espera “que ele possa continuar contribuindo com seus valorosos serviços como consultor do governo federal”.
O professor Roberto Mangabeira Unger foi escolhido em 1971 como um dos professores mais jovens a ingressar no corpo docente de uma das principais universidades do mundo, Harvard, nos Estados Unidos. Formado em direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, fez seu doutorado na universidade que leciona.
Nascido em 24 de março de 1947, na Bahia, mas criado no Estados Unidos, o filósofo e político é filho da poetisa e jornalista Edyla Mangabeira e do advogado alemão naturalizado americano Arthur Unger. Por parte do seu avô, Otávio Mangabeira, líder político baiano – que exerceu os cargos de governador do seu Estado, senador, chanceler e ministro –, Roberto sempre o teve como principal influência, conhecendo e se fascinando pela política através da influência do avô.
Mangabeira Unger em evento na FGV
O governador Otávio Mangabeira foi perseguido pelo Estado Novo de Vargas, em 1938, mudou-se para Nova York, onde a mãe e o pai de Unger se conheceram. Educado nos Estados Unidos, experimentou desde muito cedo o contraste dos sistemas educacionais e das culturas dessas duas sociedades. Vindo ao Brasil todo ano, Roberto Mangabeira Unger passava as férias na Bahia – na qual, junto com seus familiares, assistia o desfile de independência da Bahia.
Com dez anos, após a morte do pai, voltou ao Brasil e cursou o ensino médio no tradicional Colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro. Em seguida, continuou seus estudos cursando direito na UFRJ. Partiu então de volta para os Estados Unidos onde continuou cursando sua carreira acadêmica em Harvard. Nos Estados Unidos, Unger percorreu, desde o final dos anos 1960, notável percurso acadêmico, alcançando muito jovem a posição de professor titular da universidade de Harvard e, desde meados da década de 1980, a de membro vitalício eleito da Academia Americana de Artes e Ciências, uma das mais prestigiadas instituições daquele país.
Os seus estudos de teoria social ganharam importância de caráter mundial, sendo citados por intelectuais do porte de Jurgen Habermas, Richard Rorty, Cui Zhiyuan e Perry Anderson. Segundo este último, Mangabeira Unger, “como Edward Said ou Salman Rushdie, faz parte daquela constelação de intelectuais do Terceiro Mundo, ativa e eminente no Primeiro Mundo, sem ser assimilada por ele, cujo número e influência estão destinados a crescer”.3 Para Anderson, Unger é “uma mente filosófica do Terceiro Mundo que vira a mesa para se tornar um sintetizador e profeta do primeiro mundo”.
Enquanto desenvolvia seus estudos e teorias sociais, Unger participou ativamente da política nacional desde o período da reabertura ao final da Ditadura Militar brasileira. Em 2007, após ter sido um crítico do primeiro mandato do presidente Lula, passou a integrar o ministério do governo federal, em outubro de 2007 e permaneceu até junho de 2009 como ministro de Assuntos Estratégicos.
Por fim, em 2009, Mangabeira Unger deixou a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e retornou às suas atividades em Harvard. No entanto, em fevereiro de 2015, foi chamado novamente para chefiar a SAE durante o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.
O pensamento do filósofo vem diretamente do que pensa na realidade como um todo e, portanto, nega grande parte do conhecimento produzido em sua época de atuação, o que pode ser visto como uma espécie de pragmatismo – e também uma tentativa de se desassociar da filosofia Ocidental influenciada pelo cristianismo.
Os dois núcleos centrais de ideias do trabalho de Mangabeira estão em Teoria Social e Filosofia. Ele aproximou-se tanto do direito quanto da economia como terrenos para o desenvolvimento de um modo de pensar sobre a sociedade e sobre a história.
Suas ideias sobre o direito e sobre a economia são extensões de seu trabalho na teoria social. A vocação do pensamento jurídico e da economia política é servir como disciplinas gêmeas da imaginação institucional. Ao mesmo tempo, as suas ideias em direito e economia servem como pontes entre a sua teoria social explicativa e suas ideias programáticas (embora haja também uma ponte direta dentro da sua própria teoria social).
Os livros de Mangabeira Unger começaram a ser publicados no Brasil no final da década de 1970 e tratam das suas teorias sociais, políticas e econômicas. Os seus livros publicados no Brasil em português são: Conhecimento e Política; O Direito Na Sociedade Moderna: Contribuição à Crítica da Teoria Social; A Alternativa Transformadora: como democratizar o Brasil; Paixão: um Ensaio Sobre a Personalidade; Democracia Realizada: a Alternativa Progressista; A Segunda Via: Presente e Futuro do Brasil; Política: os Textos Centrais; O Direito e o Futuro da Democracia; Necessidades Falsas; O que a esquerda deve propor; A Reinvenção do Livre-Comércio: A Divisão do Trabalho no Mundo e o Método da Economia.