Nesta terça-feira (22), o dólar encerrou negociado com cotação inédita, a R$ 4,0538 na venda. A valorização em relação ao encerramento anterior foi de 1,83%. Em 10 de outubro de 2002, o dólar chegou a ser vendido a R$ 4 durante o pregão, mas desacelerou a alta e fechou naquele dia a R$ 3,98.
A tendência global de desvalorização das moedas dos países emergentes foi agravada pelo cenário de crise política no Brasil.
Há expectativa nesta terça-feira (22) sobre a votação do Congresso dos 32 vetos presidenciais, cruciais para o ajuste fiscal promovido pelo governo federal.
Além disso, sinais de desaceleração da economia chinesa e incertezas em relação à política monetária dos EUA causam uma procura ainda maior pelo dólar no mercado cambial internacional.
“Um conjunto de fatores influenciaram. Iniciamos o dia com o dólar forte no mundo todo. Numa cesta de 17 de moedas, o dólar só perdeu para o iene, em relação a todas as outras houve alta”, explica Jefferson Rugik, diretor da Correparti.
Ele avalia que sinalizações de que o Federal Reserve, o banco central americano, pode aumentar os juros em outubro provocaram a valorização da moeda americana no mundo. “A possibilidade de rebaixamento do Brasil pela Fitch também pesou”, acrescenta Rugik, ao analisar o encerramento inédito.
Diante do quadro econômico do país, o diretor projeta que a valorização continue, mas aponta que alguns eventos podem arrefecer o movimento. “Com o governo pedindo para que os vetos sejam votados, caso ocorra a aprovação, pode haver mais tranquilidade. A divulgação do PMI (Índice de Gerentes de Compras) da China é outro fator importante porque poderia mostrar retração na economia chinesa, causando aumento do dólar”, avalia Rugik.
No ano, o dólar já tem alta acumulada de 52,47%. Às 11h, o dólar subia 1,52%, cotado a R$ 4,042. Às 12h47, moeda subia 1,91%, cotada a R$ 4,057. Às 15h52, a moeda subia 1,69%, vendida a R$ 4,0533.
Desde o início do ano, a moeda norte-americana já acumula uma alta de mais de 50% em relação à moeda brasileira.
O Banco Central manteve a rolagem de swaps cambiais para outubro. Foram vendidos 9.450 contratos hoje. A medida, no entanto, surtiu pouco efeito sobre o preço do câmbio.
Na segunda-feira (21), o dólar teve alta de 0,57% ante o real e fechou cotado a R$ 3,9809 na venda. Foi o segundo maior valor de fechamento da história do real. Em outubro de 2002, o dólar atingiu seus recordes intradia e de fechamento, de R$ 4 e R$ 3,99, respectivamente. No mês e no ano, há alta acumulada de 9,75% e 49,73%, respectivamente.
Valorização do câmbio também tem lado positivo
Apesar de pressionar a inflação, a alta do dólar tem alguns efeitos benéficos para a economia brasileira. O setor exportador, que sofria com a queda de demanda no mercado internacional, deve registrar melhores resultados com a alta e ajudar a balança comercial do Brasil.
O turismo, que deve passar a se concentrar mais no Brasil, é outro ponto positivo. Em algumas casas de câmbio, o dólar turismo chega a valer até R$ 4,54, encarecendo viagens para o exterior.
Empresas nacionais que não precisam importar matéria-prima também passam a ter vantagens em relação aos setores importadores, ampliando sua receita.
No dia 16 de setembro, o JB publicou previsões de um conceituado economista, ex-diretor do Banco Central, de que a divisa americana atingirá R$ 4 este ano.
O cenário político preocupa investidores, à medida em que expectativas em relação ao anúncio de cortes de gastos e redução de ministérios só crescem.
Ibovespa ameniza perdas após governo assinar MP e encaminhar PEC ao Congresso
Após cair quase 3% durante o pregão desta terça-feira (22), o Ibovespa fechou em queda de apenas 0,70%, aos 46.264 pontos. As perdas foram amenizadas após notícias de que o governo assinou uma medida provisória que aumenta a cobrança do Imposto de Renda para pessoas com receitas superiores a R$ 1 milhão e enviou duas Propostas de Emenda à Constituição (PEC) ao Congresso: uma delas prevê a criação da “nova CPMF” e a outra revoga o abono de permanência dos servidores públicos.
No radar dos investidores também estiveram a análise do Congresso em relação aos vetos da presidente Dilma Rousseff e a reunião do ministro da Fazenda Joaquim Levy com representantes da agência de classificação de risco Fitch.
No encerramento, mesmo com a leve alta do Brent, as ações ordinárias (PETR3) da Petrobras tinham forte recuo de 3,13%, a R$ 8,35, enquanto seus papeis preferenciais (PETR4) desciam ainda mais, 4,52%, valendo R$ 6,97. A Vale, por sua vez, teve baixa de 2,36% em suas ações ordinárias (VALE3), cotadas a R$ 19,46, e de 2,23% nas preferenciais (VALE5), que chegaram a R$ 15,35.
No setor financeiro, os resultados não tiveram tendência definida, com Itaú Unibanco (ITUB4, R$ 27,49, +0,95%) subindo, Bradesco (BBDC3, R$ 25,10, -0,24%; BBDC4, R$ 22,70, +0,40%) variando e Banco do Brasil (BBAS3, R$ 16,22, -0,06%) caindo.
Em Wall Street, os índices Dow Jones Industrial e S&P 500 recuaram 1,09%, aos 16.330,47 pontos, e 1,23%, a 1.942,74 pontos, respectivamente. Fechamento no vermelho resultou das declarações do presidente do Federal Reserve de Atlanta, Dennis Lockhart. O representante do Fed voltou a sinalizar que um aumento na taxa de juros norte-americana pode vir ainda em 2015. Na plataforma Nasdaq, o Nasdaq Composite caiu 1,50%, fechando em 4.756,72 pontos.
Pressionadas por montadoras, bolsas europeias fecham em queda acentuada
As principais bolsas europeias também fecharam o pregão desta terça em forte queda, pressionadas por fabricantes de automóveis, após os olhos do mercado se voltarem ao escândalo envolvendo a Volkswagen.
O grupo alemão anunciou que mais de 11 milhões de seus carros a diesel foram equipados com um tipo de motor que poderia distorcer os dados de emissão de gases. Com a repercussão da fraude, o setor amargou as maiores perdas do dia.
As ações da Volkswagen caíram incríveis 26,2%, enquanto outras fabricantes também tiveram recuos significativos em seus papeis.
Também continuam influenciando os investidores europeus preocupações com a economia da China e tensões em relação ao Federal Reserve, dos Estados Unidos. No encerramento, o índice pan-europeu Stoxx 600 caiu 2,5%, aos 347,88 pontos.
Em Frankfurt, o índice DAX caiu de 3,80%, aos 9.645,90 pontos. No setor automotivo, as ações da Daimler desceram 5,77% e a BMW teve desvalorização de 5,68%.
A bolsa de Paris, que também sofreu o impacto do setor, teve recuo de 3,42%, aos 4.442,12 pontos, em seu principal índice, o CAC-40. Lá, as ações da Peugeot desceram 8,76% e os da Renaut, 7,12%.
Em Londres, os papeis da Glencore lideraram as desvalorizações, caindo 10,63%. O principal índice da bolsa londrina, o FTSE-100, recuou 2,83%, para 5.935,84 pontos. Desde agosto, é a primeira vez que ele desce abaixo dos 6.000 pontos.
Em Madri, o IBEX-35 caiu 3,11%, para 9.550,20 pontos. Em Lisboa, o PSI-20 recuou 2,40%, aos 5.011,14 pontos. Por fim, em Milão, o índece FTSE-MIB perdeu 3,33%, para 21.031,80 pontos.
Bolsa de Xangai tem alta de 0,92%
Na tendência contrária, as bolsas da China fecharam em alta. O Xangai Composto teve alta de 0,92%, aos 3.185,62 pontos, enquanto o índice SZSE Component ganhou 0,61%. Em Hong Kong, o Hang Seng subiu 0,18%, aos 21.796,58 pontos; em Seul, o Kospi teve alta de 0,88%, aos 1.982,06 pontos; em Cingapura, o Straits Times ficou praticamente estável em 0,04%, aos 2.883,37 pontos; em Taiwan, o Taiwan Weighted avançou 0,71%, aos 8.365,92 pontos. Já em Tóquio, o Nikkei 225 recuou 1,96%, aos 18.070,21 pontos. No encerramento em Sydney, o índice S&P/ASX 200 subiu 0,74%.
Do Jornal do Brasil