Hoje a primavera deu só umas espiadinhas, com o sol aparecendo de vez em quando por entre as nuvens, como quem diz: “tá bom, eu sei que é primavera! “ Mas os pedaços azuis de céu são muito pequenos, às vezes prometem aumentar e dá uma esperançazinha, mas logo nuvens escuras e carregadas começam a tomar o seu lugar.
Sei que o ser humano não correspondeu a sua beleza e generosidade, Primavera, desrespeitando a natureza, não cuidando da nossa velha e cansada Terra, o lugar que lhe foi dado para que vivesse em paz. E você chegou para substituir o inverno que quase não deu as caras, tal o calor que fez em dias que deveriam ser frios. E o calor faz parecer mais que chegou o verão, neste ano de 2015.
Mas vi você, Primavera, apesar do calor, presente no meu jardim, onde tudo está florescendo: os pés de araçás, os amores-perfeitos, os hibiscos, as arquídeas, as petúnias, as rosas, até os morangos. Meus pés de manacás-da-serra, os jacatirões de inverno, ainda desabrocham alguns botões temporões, vejam só, agora, quase no final de setembro, só pra homenagear você, recém chegada Primavera. Nas ruas, ainda floresce o ipê. Tudo vai florescer, daqui por diante. Apesar da chuva, apesar do vento, apesar do calor. Tudo terá mais cor, até as pessoas deixarão florescer mais sorrisos. A estação mais bonita do ano chegou. Tudo brotará, com viço, até a alegria no coração do ser humano, apesar de tudo.
Então, seja bem-vinda, Primavera, abra o céu e o sol e ilumine as cores das tantas flores que ainda permite que desabrochem, apesar do descompasso do tempo, causado pela poluição e pelo descaso de nós, homens, sábios homens, donos da Terra. Sabemos que estamos fazendo tudo errado, mas continuamos fazendo tudo errado em prejuízo de nós mesmos.
Fique mais tempo com a gente, Primavera, ilumine a mente dos homens que dirigem as nações, eles precisam se dar conta de que é preciso agir, tomar providências para que o fim do nosso planeta não cheque antes do que deveria. Quem sabe não aprendemos?
Primavera, tu és renascimento, és esperança de recomeçarmos fazendo as coisas de maneira certa, não desmatando, não poluindo, fazendo uso de energias limpas, revivendo nossos rios, não contaminando os mares e o ar.
Será que nós, homens, saberemos entender isso? É tempo de primavera, tempo de recomeçar, de renascer, tempo de brotar para a vida, de deixar a vida brotar.
Por Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor e revisor, Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, com 35 anos de trajetória, cadeira 19 na Academia SulBrasileira de Letras. http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br