A obesidade é uma condição que predispõe o desenvolvimento de diversas doenças. A Organização Mundial da Saúde estima que cerca de três milhões de pessoas morram por ano em consequência do sobrepeso e obesidade. Devido ao seu crescimento epidêmico nos últimos anos e seus efeitos prejudiciais ao organismo (como diminuição da qualidade e encurtamento do tempo de vida) muito tem se estudado sobre as possíveis causas da obesidade. Sedentarismo e maus hábitos alimentares associados à urbanização são as principais. No entanto, muitas outras podem ter uma contribuição importante.
Pouco tem sido estudado sobre os efeitos no organismo de uma das principais consequências da urbanização – o aumento do setor de transportes e seus ruídos. Algumas pesquisas revelam que o barulho do tráfego é um importante fator de risco para doenças cardiovasculares, tais como hipertensão, infarto e acidente vascular cerebral (AVC ou derrame). No entanto, pouco se sabe sobre seu efeito sobre o metabolismo.
Preenchendo esta lacuna, foram publicados recentemente dois trabalhos científicos que tiveram por objetivo estudar uma possível associação entre intensidade do ruído do tráfego e marcadores de obesidade. Um dos estudos foi realizado na Noruega, onde foram acompanhados mais de oito mil participantes por um período de 10 anos. O outro estudo foi na Suécia, onde mais de cinco mil participantes foram acompanhados por um período de 8 a 10 anos. Os marcadores de obesidade avaliados foram o índice de massa corporal, a circunferência abdominal e a relação entre cintura e quadril. A exposição ao ruído do tráfego foi medida seguindo a Diretiva Europeia de Ruído Ambiental e três tipos principais de ruídos foram identificados: os provocados pelo tráfego de automóveis, de aviões e de trens.
Os resultados das pesquisas revelaram que há uma associação proporcional e positiva entre a intensidade de ruído a que o individuo está exposto e sua circunferência abdominal. Quanto mais ruído maior a circunferência. Além disso, o risco para um aumento da cintura cresce com a associação de ruídos de diferentes origens. Assim, aqueles que estão expostos a ruídos de somente uma origem (tráfego de automóveis, por exemplo) têm uma chance 25% maior de ter aumento abdominal que aqueles que não estão expostos. Este risco dobra para aqueles expostos aos ruídos das três origens (avião, carro e trem). E este aumento é proporcional à intensidade de ruído.
As explicações para estes achados estão ligadas a fatores indiretos desencadeados pelos ruídos. Seriam eles o estresse crônico (produzindo aumento do hormônio cortisol) e as alterações de sono. Estes mesmos fatores que são responsáveis pelas doenças cardiovasculares estariam na gênese do desenvolvimento da obesidade abdominal.
Além do seu tom de curiosidade, estes resultados podem servir de importante subsídio para a abordagem multifatorial da prevenção e tratamento da obesidade.
Autor: Equipe ABC da Saúde