Os fieis que compareceram à Praça de São Pedro, no Vaticano para receber a bênção do Ângelus ouviram do papa Francisco a promessa de continuar as reformas na Igreja e a determinação de enfrentar o novo escândalo de vazamento de documentos financeiros secretos que expuseram a vida de esbanjamento de altos quadros da Cúria Romana. Dois livros com as novas revelações demonstram o quanto é difícil a batalha enfrentada pelo pontífice para imprimir sua linha na Igreja.
O papa mostrou-se indignado nos últimos dias, desde que as novas revelações vieram à tona, pois entendia que já havia deixado claro aos prelados resistentes às mudanças, que estas vieram para valer. Talvez, a idade avançada do pontífice tenha levado alguns a suporem que empurrando as coisas com a barriga seria possível protelar as reformas, tempo suficiente para a vinda de um papa mais palatável. Mas, isso parece fazer com que Francisco se empenhe ainda mais em levar adiante as mudanças. Certamente, apesar do sofrimento interior ele não pretende renunciar, como fez Bento XVI, depois de ter as forças exauridas no empenho de mudar uma burocracia modorrenta e que se agarra a privilégios.
Para o papa Francisco, é intolerável que enquanto ele denuncia as mazelas de uma sociedade ocidental hedonista, que só dá relevo ao prestígio, ao poder e ao dinheiro, no próprio coração da Igreja existam segmentos que insistem em continuar de mãos dadas com esse sistema. Ademais, ele tem feito um esforço enorme para reaproximar a Igreja do mundo dos explorados e do mundo do trabalho e toda essa articulação é posta em xeque quando os próprios responsáveis pelo sistema financeiro do Vaticano têm se portado como dirigentes de qualquer instituição financeira mundana, fazendo aplicações duvidosas, inclusive, criminosas – como a lavagem de dinheiro – para grupos cujas atividades são incompatíveis com os princípios cristãos.
O desgosto do papa é com o fato de que ele já vinha tomando iniciativas de moralização, desde que assumiu a cadeira papal, e agora descobre que houve vazamentos passando a impressão de que as coisas não têm mudado, quando na verdade sua luta apenas começou e sua determinação é leva-la até o fim.
O novo capítulo que se abre, ao contrário do pretendido pelos críticos das mudanças, fará, com toda probabilidade, que elas avancem com uma velocidade ainda maior.
Fonte: Jornal de Hoje