Artigo, Gabriel Bocorny Guidotti – O terrorismo que vitimou dezenas na França chocou o mundo. Mas há, em andamento, outras cruéis realidades que passam despercebidas. No Brasil, em 2014, 58 mil pessoas morreram em função da violência. Isso equivale a um óbito a cada nove minutos, em média, no país. Diante de números tão dramáticos, os agentes do Estado Islâmico viram aprendizes na perniciosa escola da morte.
O descaso brasileiro forja marginais diariamente. De nada adiantam políticas de inclusão, programas afirmativos, sem projetos duradouros. Como corrigir os problemas? Educação. Há indivíduos que nascem em ambientes completamente desvirtuados, sem nenhuma referência moral. O desfecho é sempre o mesmo. Como a cabeça da Hidra, corta-se a cabeça do crime. No lugar, crescem duas. A ação das polícias tenta corrigir uma mazela que já criou raízes. Não se trata da ferramenta ideal de reparação social.
Os dados de mortalidade constam do 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. O estudo revelou também um crescimento de quase 5% no número de mortes em relação a 2013 (55.878). O número, antes de 27,8 mortes a cada 100 mil habitantes, agora está em 28,9. No total, 58.559 pessoas morreram vítimas de homicídios dolosos, lesões corporais seguidas de morte, latrocínios e ações policiais em 2014.
Se a frieza da matemática pudesse substituir a emoção de uma família que perde um ente querido, a dor seria amenizada. Somos, diariamente, punidos pelos erros dos outros. Um governo que não age, pais displicentes, escolas que não funcionam, etc. Sobreviver nessa selva de diferentes, na qual os valores cultuados são absolutamente opostos, é o desafio da sociedade pós-moderna. Especialmente a brasileira.
Não existe, na vida, anomalia maior que uma morte prematura. Ainda mais quando forçada por agentes alheios. A violência não se justifica em um país que, dizem as propagandas eleitorais, está fundando os pilares de um futuro brilhante e acolhedor. Mais injustificável ainda é a impunidade. Os franceses sentiram o pavor do terrorismo somente neste ano. O brasileiro está vacinado. A autoproteção faz parte de sua agenda.
Gabriel Bocorny Guidotti
Bacharel em Direito e estudante de Jornalismo
Porto Alegre – RS