Artigo, Gabriel Bocorny Guidotti – Pela primeira vez desde o advento da Constituição de 1988, um senador foi preso em pleno exercício do mandato. E não se trata de um senador qualquer. Delcídio do Amaral (PT-MS) é – era – líder do governo na Casa, de modo que sua retenção abre um novo capítulo no livro de escândalos colecionados pelos associados da presidente Dilma Rousseff. Na noite de quarta-feira (25), seus colegas senadores decidiram, em sessão solene, mantê-lo em cárcere. Até que enfim, uma decisão coerente.
A grande conquista da Lava-Jato é o efeito erga omnes, isto é, para todos. A operação tem por intuito limpar toda a sujeira que se acumulou em Brasília nesses anos de democracia ainda noviça que vivemos. Delcídio teve sua prisão decretada após vazamento de áudio em que ele sugere a fuga de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, do país, a fim de atrapalhar as investigações. O petista ofereceu também R$ 50 mil mensais para que Cerveró não fechasse o acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal.
Com autorização do STF, o mandado de prisão saiu naturalmente. Se o líder do PT no Senado comete um crime dessa magnitude, me pergunto sobre outras eventuais atrocidades em andamento nos gabinetes de deputados e senadores de menor gabarito. É de se supor que, dentro de um trabalho coletivo de gestão, Delcídio não puxou esse gatilho criminoso sozinho. Destarte, suposições não são provas. A julgar pelos últimos acontecimentos em Brasília, entretanto, a Lava-Jato parece que não terá fim num futuro próximo.
Dilma, nesse entremeio, sofre com mais um grande baque ao seu já debilitado governo. Os índices de reprovação da presidente bateram todos os recordes. Lembrando que a inação leva também à corrupção. Por mais que não haja provas contra a petista – ou contra Lula – as maquinações abjetas que foram forjadas no quintal do Planalto acabam respingando nela. E não são atos toleráveis. O povo brasileiro está cansado de tantos desmandos.
Este ano foi atípico. A beligerância política deu o tom de um país polarizado. Novos escândalos surgiram. Indivíduos que ocupam altas esferas, no Congresso e no Governo, estão sob suspeitas. É assim que funciona no Brasil. Corte a cabeça de um corrupto, duas novas nascem no lugar. O sistema articula interesses rapidamente, sem lamentações para a queda de um soldado. A Lava-Jato é uma esperança, um início. Mas a mudança de verdade ainda levará muito tempo para acontecer.
Gabriel Bocorny Guidotti
Bacharel em Direito e estudante de Jornalismo
Porto Alegre – RS