Artigo, Por Gabriel Bocorny Guidotti – O Brasil se projeta à comunidade internacional como um país cujas eleições são totalmente digitalizadas. A crise, entretanto, acaba de pulverizar esse orgulho tupiniquim. Na tarde de segunda-feira (30), a União publicou em seu Diário Oficial uma portaria na qual informa severos cortes no orçamento do poder Judiciário. Em síntese, o voto eletrônico dará lugar ao ultrapassado voto analógico, por cédulas.
Embora o documento esteja assinado pelo presidente do Superior Tribunal Eleitoral (TSE), Dias Toffoli, a entidade publicou uma nota na qual critica, mesmo que indiretamente, as consequências dos cortes. “O total que não será repassado para a Justiça Eleitoral soma exatos R$ 428.739.416,00 o que prejudicará a aquisição e manutenção de equipamentos necessários para a execução do pleito do próximo ano. Esse bloqueio no orçamento compromete severamente vários projetos do TSE e dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs)”, diz o texto.
O ano que vem, anunciam os economistas, será pior do que 2015. A julgar pelos contingenciamentos, o povo deve se preparar. A suspensão da utilização das urnas eletrônicas é um retrocesso escabroso, assim como outros patrocinados pela atual gestão do Executivo. O país chegou a isso. Remediar a situação exige colaboração de todos os poderes, na esperança de que um dia as finanças respirem novamente.
A nota informa também que Dias Toffoli apelará ao Congresso para que os processos licitatórios em andamento de urnas eletrônicas seja mantido, isto é, que o valor de aquisição seja liberado. Desse modo, as eleições eletrônicas de 2016 estariam asseguradas. O assunto viralizou na web. Gregos e troianos criticaram situação e oposição por mais este desmando. Bem-humorados internautas abusaram de memes debochados. Este novo episódio consagra um dos anos mais dramáticos da história da política brasileira.
Particularmente, acredito que a decisão será revista a qualquer momento. Não cheguei a votar na época das cédulas impressas, mas pessoas que vivenciaram esse período me reportaram palavras como “trabalhoso” e “manipulação”. O meio eletrônico – intransponível, segundo o TSE – veio para certificar o resultado do pleito. Em um país polarizado, onde o coronelismo ainda impera em algumas regiões, não seria temerário tamanho retrocesso? Só o futuro dirá.
Gabriel Bocorny Guidotti
Bacharel em Direito e estudante de Jornalismo
Porto Alegre – RS