Desde que pediu a abertura de uma investigação contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o deputado Fausto Pinato (PRB-SP) teve de mudar sua rotina: de um parlamentar de primeiro mandato ainda desconhecido na política nacional, ele passou a sofrer ameaças e pressão para que renunciasse ao posto, começou a andar em carro blindado e a ser acompanhado por um policial militar, inclusive dentro de sua própria residência. O relato foi feito pelo parlamentar nesta quarta-feira, instantes após ser destituído da relatoria do processo contra Cunha no Conselho de Ética.
Em tom de desabafo e indignação, Fausto Pinato afirmou: “Só Deus e minha família sabem o que eu vinha passando desde o momento em que protocolei o meu parecer. Eu sofri ameaças, sofri pressão e recebo recados dia e noite. Eu estava brigando com um exército de duzentos deputados”, disse. “Eu fiquei com medo de morrer. Queria terminar a minha missão com um relatório em cima da minha consciência. Podem me tirar da relatoria, mas não podem tirar minha dignidade, minha esperança e imparcialidade”, continuou.
Pinato foi destituído do posto nesta quarta-feira após uma ação do vice-presidente da Câmara e aliado de Cunha, deputado Waldir Maranhão (PP-MA). Cunha já havia pedido ao presidente do Conselho de Ética e ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o tirasse da relatoria, mas teve a proposta rejeitada. O argumento é o de que Pinato integrou um bloco de apoio a ele durante as eleições da Câmara, o que o impediria a julgá-lo no colegiado.
O parlamentar afirma ter feito um boletim de ocorrência confidencial para registrar as ameaças e diz ter seencontrado com o secretário de Segurança de São Paulo, Alexandre de Moraes, e, em outra ocasião, com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a quem pediu abertura de inquérito para apurar o caso. “Tomei as medidas cabíveis. Eu não posso afirmar de onde partiu e não quis que isso interferisse no processo. Mas protocolei [a representação] porque estava com medo”, afirmou Pinato.
Ele narrou ainda que em uma das abordagens, lhe falaram para pensar na minha família e no fato de que tem filho pequeno. “A questão de pressão faz parte [da vida] do parlamentar. A partir do momento em que se chega perto da nossa família, fica um pouco mais obscuro”, disse.
O deputado ainda pediu para que partidos entrem em obstrução e fez um alerta: “Hoje sou eu, amanhã é o presidente do Conselho de Ética. O único relator que consegue sobreviver hoje no conselho é o que arquive o processo. Esse é o sentimento desse deputado”.
(Via agência)