Artigo, Por Gabriel Bocorny Guidotti – Em carta endereçada a Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer foi taxativo. “Tenho mantido a unidade do PMDB apoiando seu governo (…). Isso tudo não gerou confiança em mim. Gera desconfiança e menosprezo do governo”. Em outras palavras, ele se sente desprestigiado – ou oportunamente desprestigiado. O teor do documento é um indício de como o PMDB vai se portar face ao processo de impeachment em andamento.
Há algumas semanas atrás, Temer liderava, de fato, a ala peemedebista que permanecia fiel ao governo. Com o estouro do rito de impeachment, o cenário mudou, e os membros do partido precisaram se posicionar de vez. Tudo leva a crer que o PMDB está se unindo pela queda da presidente. A sigla não intentava assumir o Planalto no meio da crise, mas em vista das circunstâncias, a estratégia mudou.
Quando o apoio é incondicional, normalmente os políticos vão à mídia para proferir declarações contundentes de sua fidelidade. Uma semana depois de aberto o processo de impeachment, Temer não ficou do lado de Dilma em nenhum momento. Não de forma definitiva, ao menos. Por justiça, havemos de considerar a possibilidade de ele ainda não ter se decidido em qual cartilha rezar – embora isso seja improvável.
Se não pelo impeachment, a presidência está nas pretensões do PMDB. Em declaração recente, Temer afirmou categoricamente que a sigla terá presidenciável próprio nas próximas eleições. Ele nunca havia falado abertamente sobre o assunto. Desconversava, dizia que o tempo era aliado do partido para uma decisão dessa magnitude. Mas a decisão veio. O último candidato foi Orestes Quércia, em 1994. O trabalho de campanha, seja para manter um posto herdado ou para conquistar um posto vago, será árduo, especialmente na contenção das denúncias que acometeram as fundações da bancada federal.
A instabilidade do sistema político brasileiro é sentida de longe. As tensões aumentam a cada dia. Temer pender para um lado? Faz parte da democracia. Talvez ele tenha chegado à conclusão que o PT virou um obstáculo nas intenções do PMDB. Enquanto isso, segue o rito de impeachment, sem previsão de desfecho. O país entrou num estado letárgico no qual governo e congresso abandonaram os problemas sociais para se focar exclusivamente no jogo de cartas da política. Só resta aguardar e ver o que virá na sequência.
Gabriel Bocorny Guidotti
Bacharel em Direito e estudante de Jornalismo
Porto Alegre – RS