O pecuarista José Carlos Bumlai disse em novo depoimento à Polícia Federal que repassou pedido do lobista Fernando Baiano para o amigo e ex-presidente Lula
O pecuarista José Carlos Bumlai admitiu, em depoimento à Polícia Federal, que intermediava “demandas” para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O interrogatório, realizado na última segunda-feira (21), foi dividido em dois depoimentos. Um deles tratou das relações de Bumlai com Lula, seu amigo desde 2002, e com o grupo Schahin. Outro depoimento tratou de “fatos ilícitos” que Bumlaisabia sobre a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Esse foi o terceiro dia em que o amigo de Lula foi interrogado pela PF desde que foi preso na 21ª fase da Operação Lava Jato, em novembro.
Bumlai só admitiu que repassava “demandas” a Lula depois que foi questionado duas vezes pela Polícia Federal se tratava de “assuntos comerciais” com o ex-presidente. Ele confessou que encaminhou a Lula um pedido do lobista Fernando Soares, o Baiano, “relativo a uma palestra a ser realizada em Angola, no Centro de Estudos Avançados de Angola”.
Antes de detalhar como repassava tais “demandas” ao ex-presidente, Bumlai tentou sustentar a versão de que “nunca tratou de questões comerciais ou políticas” com Lula. Mas, logo depois, admitiu que “muitas pessoas encaminhavam demandas via e-mail ao Instituto Lula e que, ante a ausência de respostas, solicitavam ao reinterrogando, na medida do possível, que fizesse contato junto ao Instituto para viabilizar ao menos a apreciação dos pedidos”. Bumlai alegou que conversava com Clara Ant, diretora do Instituto Lula, e “repassava os pedidos”. Mas o pecuarista não quis mencionar nenhum caso além do “pedido” do lobista Fernando Baiano. Disse apenas, genericamente, que os pedidos eram “apreciados”.
Bumlai disse também que conversava com Lula pelo número de telefone da ex-primeira-dama Mariza Letícia. “Lula nunca possuiu um número de celular próprio”, alegou o pecuarista no depoimento. Mas a narrativa superficial de Bumlai não convenceu os policiais. Na metade do interrogatório, o delegado Filipe Pace mostrou cópias de um e-mail enviado por Bumlai. Era uma prova de que, até aquele momento, ele insistia em omitir fatos importantes dos policiais. No e-mail, Bumlai agendava uma reunião de Lula com um embaixador do Qatar.
Na mensagem, enviada em 21 de fevereiro de 2014, Bumlai respondia a um interlocutor: “Estive hoje tratando do assunto e o Sr. ex-presidente Lula volta dia 27 de fevereiro para o Brasil e marcará a data conforme solicitada no e-mail da Embaixada, ou seja antes de 19 de março”.
Depois que a Polícia Federal mostrou o e-mail no meio do interrogatório, o depoimento foi interrompido para que o pecuarista conversasse com seus advogados Daniella Meggiolaro e Edward Carvalho. Ao retomar o depoimento, Bumlai contou a seguinte história, com o objetivo de convencer os policiais de que Lula e a presidente Dilma Rousseff eram procurados pela embaixada do Qatar para que ajudassem na realização de negócios. Bumlai envolveu o empresário Marcello Horcades Coutinho na trama. De acordo com o depoimento, Bumlai “esclarece que apenas atendeu ao pedido do secretário do Embaixador do Qatar porque havia uma explicação anterior da demanda dada por Marcelo Horcades Coutinho; que Marcello é sócio de Eleazar de Carvalho Filho numa empresa de vendas, fusões e aquisições de empresas; que Marcello disse a que uma empresa do Qatar (Qatar Trading) desejava comprar uma usina de açúcar no Brasil”, diz o depoimento.
Pela narrativa de Bumlai, o embaixador do Qatar “desejava avisar o governo brasileiro desta intenção, mas não estava conseguindo”. “O embaixador do Qatar desejava que Lula conversasse sobre o tema com a Presidente Dilma Rousseff; que Marcello disse que o ex-presidente Lula se aproximou dos países árabes e que a Presidente Dilma Rousseff não tinha este interesse”, afirmou.
Ao explicar a trama rocambolesca, Bumlai acrescentou aos policiais que iria vender uma empresa da família, a Usina São Fernando, para a Qatar Trading. Em nenhum momento foi mencionado exatamente o que Lula ou Dilma poderiam fazer pelo tal negócio. Uma minuta de contrato chegou a ser escrita, mas o negócio não saiu, de acordo bom Bumlai. De acordo com Bumlai, “a negociação não foi levada para frente”.
Depois de narrar toda a trama com o Qatar, Bumlai voltou a dizer que nunca tratou de assuntos “comerciais” com Lula. Isso fez com que o delegado Filipe Pace perguntasse como o pecuarista queria que a Polícia Federal acreditasse na versão, “se ele continua a omitir e mentir sobre fatos relevantes para a investigação”. Bumlai, então, insistiu que “não existirão tantos outros fatos a serem elucidados”. Até o próximo depoimento.