As conversas sobre um afastamento formal da legenda à qual é filiada há 15 anos ocorreram em meio aos debates sobre qual posição os deputados do PT deveriam adotar no Conselho de Ética da Câmara sobre o processo que pode levar à cassação do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Até então, o Planalto tentava convencer os três deputados petistas que integram o colegiado a votar pelo fim da investigação sobre Cunha, para evitar que ele deflagrasse o impeachment.
O PT reagiu. O presidente da sigla, Rui Falcão, pressionou publicamente seus deputados a votarem contra o peemedebista. O fim do impasse é conhecido: Cunha perdeu no conselho e, ato contínuo, acolheu um pedido de afastamento da petista.
O descompasso entre os interesses do Planalto e os da cúpula do PT nunca tinha ficado tão evidente, embora ambos os lados dessem sinais de fadiga há tempos. A crise política e econômica e os desdobramentos constantes da Operação Lava Jato desgastaram a relação entre Dilma e a sigla.
Diversos dirigentes da cúpula petista diziam que a presidente era a responsável por “afundar” a sigla, deixando em segundo plano os escândalos de corrupção que levaram à cadeia quadros importantes, como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
Entre os petistas, havia a avaliação de que o partido não deveria mais compartilhar “o desgaste” do governo Dilma, que vinha defendendo o ajuste fiscal proposto pelo ex-ministro Joaquim Levy (Fazenda), considerado severo, ortodoxo e inadequado pela direção do PT.
Houve, naquele momento, quem defendesse o descolamento completo entre a legenda e o governo.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, ainda acreditava em Dilma. A aliados, Lula confidenciou seus objetivos: salvar sua biografia, a imagem do PT e então o governo da presidente. Mas já admitia que, caso fosse preciso, lutaria para salvar o projeto do partido. Sem ela.
Foi nesse cenário que Dilma ventilou a possibilidade de se afastar do PT. A ideia era sinalizar na direção de uma gestão na qual partidos de oposição e da base aliada poderiam, juntos, encontrar saídas para a crise. A presidente também se comprometeria a não se envolver na disputa por sua sucessão, em 2018.
A tese foi debatida dentro do Palácio do Planalto e com parlamentares da base aliada e do próprio PT. Foi consenso que a estratégia até poderia render um suspiro de alívio, mas poderia também ser o atalho para o isolamento completo de Dilma. Ela, então, preferiu não arriscar.
DISTÂNCIA
A fase mais aguda da crise passou, admitem ambos os lados, mas dirigentes do PT afirmam que o partido hoje está mais distante do Planalto do que há um ano. Há uma determinação na cúpula da legenda de se posicionar sempre que a agenda do governo for contra os interesses da sigla.
A defesa da reforma previdenciária, por exemplo, está fora de cogitação para os petistas. Segundo um dirigente petista, naquilo que é “inegociável” com as bases do partido, o PT ficará na trincheira oposta à do governo, mas não haverá ruptura.
A cúpula da legenda avalia ainda que acertou ao forçar o rompimento entre Dilma e Cunha, dando a ela, num momento de pressão, um antagonista desgastado.
Mas reconhece que, à medida que a agenda do impeachment perdeu força, o foco da Lava Jato se voltou para Lula. O PT acredita que há uma operação para comprometer a imagem do petista e impedir sua candidatura em 2018.
12 desafios que a presidente terá de encarar em 2016
Segundo a última pesquisa Datafolha, Dilma Rousseff conta com a aprovação de apenas 12% dos eleitores, 56% querem sua renúncia e 65% apoiam seu impeachment. O parco apoio leva a uma largada desfavorável o 6º ano de mandato da petista
Mesmo sob uma denúncia e dois inquéritos no STF, o presidente da Câmara deve continuar a dificultar a agenda do governo na Casa. O Supremo sinalizou ao Planalto que não há elementos para afastá-lo do cargo
Todo o 2016 estará sob o impacto da possibilidade de impeachment. Um processo foi aceito por Cunha em dezembro, mas foi travado por decisão do STF. Com o fim do recesso no Congresso, a ação pode avançar
Dilma não sabe se poderá contar com o PMDB em 2016. A liderança da sigla na Câmara é disputada por um alia-do de Cunha, e a convenção do partido, em março, pode discutir a saí-da do partido do governo
Há o temor de que Nestor Cerveró possa delatar desvios em Pasadena, cuja compra foi autorizada por Dilma; Edinho Silva (Secom) é investigado e detalhes sobre a relação de Jaques Wagner (Casa Civil) e OAS podem emergir
O MP estadual e o federal investigam se um apartamento em Guarujá no nome da OAS não teria Lula e família como titulares. A Lava Jato também apura sítio usado pelo petista em Atibaia que teria tido reformas pagas pela Odebrecht
O apoio do próprio partido da presidente é incerto: a política econômica e a Operação Lava Jato têm sido fatores de grande desgaste na relação entre o Planalto e o partido
Juros, inflação e desemprego estão em alta, e o governo não tem conseguido estancar a crise. A perspectiva é de mais um ano de crescimento negativo, o que agrava o qua-dro político da presidente
O imposto sobre transações financeiras é a maior aposta do governo para reequilibrar as contas. A medida é impopular e tem resistência do Congresso e de empresários, o que dificulta a aprovação
O evento ocorrerá em agosto, no Rio, e poderá ser bom ou ruim para a imagem do país, caso obras não fiquem prontas ou doenças ligadas ao Aedes aegypti (como a dengue e zika) afetem o turismo
O país passa por epidemia de microcefalia. A principal suspeita é que o vírus zika, para o qual não há vacina, seja a causa. O ministro da Saúde, Marcelo Castro (PMDB), tem dado declarações atrapalhadas e desagradado Dilma
Em meio à pior crise de imagem, o PT encara as eleições com a missão de defender seu legado nos meios de comunicação –mas deve ser alvejado por adversários, que podem se apoiar na rejeição à sigla para angariar votos