Três novos estudos divulgados na última quarta-feira (10) reforçam as evidências de que a epidemia de zika pode estar associada ao surto de casos de bebês nascidos com microcefalia no Brasil. Os trabalhos da Eslovênia, dos Estados Unidos e do Brasil identificaram a presença do vírus no cérebro de bebês com microcefalia.
O estudo europeu foi feito em um bebê abortado com microcefalia, cuja mãe havia engravidado no Brasil. A mulher, de 25 anos, optou por interromper a gravidez com 32 semanas de gestação, após uma ultrassonografia confirmar a existência da má-formação, e autorizou a realização do estudo, feito na Universidade de Ljubljana e publicado na quarta-feira no site da revista médica americana The New England Journal of Medicine.
Segundo o relato dos pesquisadores, a paciente era uma mulher europeia que estava fazendo trabalho voluntário em Natal (RN). Ela engravidou no fim de fevereiro de 2015 e apresentou sintomas de zika três meses depois. Exames de ultrassonografia realizados na 14ª e 20ª semana de gestação não revelaram nenhum problema.
Na 29ª semana, logo após ela voltar à Europa, uma ultrassonografia identificou os primeiros sinais de anomalia, e semanas depois foi confirmada a microcefalia. A circunferência craniana do feto era de 26 centímetros. Após o aborto, os médicos constataram no cérebro vários pontos de calcificação, ausência de dobras e acúmulo de líquidos. A presença do zika no órgão foi confirmada por análises genéticas e microscopia eletrônica. Os pesquisadores acreditam que o vírus tenha uma predileção pelo sistema nervoso, o que ocasiona a morte dos neurônios, levando à má formação do cérebro.
Forte evidência – Outro resultado similar veio do Centro de Controle de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), que analisou amostras do Rio Grande do Norte de dois bebês que morreram cerca de 20 horas depois de nascer e de dois fetos abortados. As quatro mães tinham apresentado sinais clínicos de infecção por zika no primeiro trimestre de gravidez. O vírus foi encontrado em amostras de cérebro dos recém-nascidos, no tecido dos fetos e nas placentas.
O diretor do CDC, Thomas Frieden, se dirigiu ao Congresso americano ontem para pedir apoio aos esforços contra a epidemia e disse que a análise do material genético no cérebro de bebês brasileiros é “a mais forte evidência até agora” da relação entre zika e microcefalia.
O virologista brasileiro Pedro Vasconcelos, do Instituto Evandro Chagas, que tinha feito a primeira identificação de zika em um bebê com microcefalia no Brasil, informou ao Estado que também no País há novas evidências. Seu grupo acabou de identificar em 12 bebês com microcefalia a presença de zika no líquido cefalorraquiano, encontrado no crânio e na medula espinhal. “Não tenho nenhuma dúvida da relação. Mas isso nos dá a certeza de que estamos no caminho certo e, como não temos vacina nem tratamento, o alvo tem de ser combater o mosquito.”
(Com Estadão Conteúdo)