Diante das investigações sobre a propriedade do apartamento tríplex no Guarujá e do sítio em Atibaia, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está preparando o discurso de vítima de uma perseguição feroz de adversários que ele vê em toda parte – na mídia, no Judiciário e na própria oposição política.
A partir daí, ele vai alinhavando esse discurso com aquele do preconceito do qual ele se valeu ao longo de seus dois mandatos sempre que enfrentava alguma dificuldade.
Nas conversas que teve com petistas nos últimos dias, Lula disse que está sendo “caçado por todos os lados, como se fosse bandido”.
Ao receber deputados do PT na manhã desta quarta-feira (17), depois que foi suspenso o depoimento que prestaria ao Ministério Público de São Paulo, Lula disse que está sob ataque: “Aos filhos, à mulher, ao Instituto Lula, à empresa de palestras e até por conta dos presentes recebidos de vistantes estrangeiros no período em que era presidente”.
Neste momento, dizem os mais próximos, Lula está sofrendo duas angústias: a primeira, de ver a pressão sobre sua família por conta das investigações das operações Lava Jato e Zelotes e também do sítio em Atibaia; e a segunda, ao ver em risco o que os petistas chamam de “o projeto” – que é a chegada do PT ao poder, as quatro vitórias do partido.
Foi por isso que ele disse na reunião do Conselho Político do PT, na segunda-feira, que se Dilma não tomar medidas para reverter a crise econômica até junho, “o projeto estará ameaçado”. A crise econômica recolherá os avanços obtidos nos últimos anos. Muita gente viu na afirmação de Lula um gesto crítico a Dilma, e ao mesmo tempo, jogando o ministro Nelson Barbosa às feras.
Com o agravamento da crise econômica, o PT no Congresso vai se distanciando do governo. O PT nacional vai refazendo seu discurso, tentando voltar às bases, às centrais sindicais e, ao mesmo tempo, puxando seu principal líder, o ex-presidente Lula.
“Está cada dia mais perto de vermos o PT votar contra muitas propostas do governo”, avisa um parlamentar. E ainda mais dependente de Lula.
O partido não concorda com a agenda de Dilma que começa pela reforma da Previdência. Por isso, as bancadas, sem se sentirem atraídas por Dilma e sua agenda, buscam Lula cada vez mais.
E, neste momento em que ele está sendo cobrado para dar explicações sobre o apartamento e o sítio, o gesto fica ainda mais forte.
Nesta quarta, muitos deputados foram ao Instituto Lula; nesta quinta, serão senadores. Ou seja, mais do que nunca, Lula virou o polo de união do PT.
A presença de militantes na frente do fórum, em São Paulo, em defesa de Lula e do PT foi considerada demonstração de que a vibração com o PT sobrevive às dificuldades.
Nesse movimento, um petista avisa: “Se não pegarem o Lula depois de toda essa devassa, ele voltará mais forte do que nunca”.
Esse foi o filme do mensalão. Lá, Lula foi atingido, reconheceu que foi traído e, com o passar dos anos e a recuperação econômica, foi recuperando prestígio político até chegar a 85% de aprovação popular. Os petistas esperam o mesmo desfecho agora.
por Cristiana Lôbo – G1