Com efetivo policial baixo, Blumenau enfrenta o desafio de fazer mais com menos. A cidade que em 2012 tinha cem policiais civis e 282 militares, hoje tem a missão de combater a criminalidade com 78 civis, 22% a menos, e 283 policiais militares, um a mais que há quatro anos.
Para enfrentar o aumento da criminalidade (veja tabela) e minimizar a crise na segurança pública no Estado, a comandante da 7ª Região da Polícia Militar de Santa Catarina, coronel Claudete Lehmkuhl, é enfática ao dizer que a melhor forma de lidar com o déficit é otimizaro efetivo:
– A cidade de Blumenau é a terceira maior do Estado, mas não tem o efetivo ideal. Em momentos de crise é preciso trabalhar com o que temos e usar a tecnologia a nosso favor. Para que isto seja eficiente, outros alicerces da segurança precisam funcionar. Não adianta o policial prender, se o criminoso for solto em seguida – argumenta.
Confira os dados:
Além de analisar os pontos em que os delitos ocorrem na cidade, para agir naquelas regiões, Claudete destaca a participação da comunidade no enfrentamento ao crime. Ela cita como bons exemplos o trabalho de prevenção dos Conselhos Comunitários de Segurança e o projeto Vizinho Solidário, em que os próprios moradores monitoram as casas da comunidade. O projeto existe há 13 anos e hoje funciona em sete bairros.
Segundo o coordenador da Comissão de Segurança Pública da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Blumenau, Rodrigo Fernando Novelli, a discussão sobre o baixo efetivo é uma constante na cidade.
– Sabemos que o trabalho ostensivo da Polícia Militar tem efeito pedagógico grande. Ao diminuir a presença deles nas ruas, a comunidade se sente insegura e os criminosos, confiantes da impunidade – comenta.
Na Polícia Civil de Blumenau a redução de pessoal, segundo o delegado regional Rodrigo Marchetti, é notória:
– A gente chegou a quase cem agentes em 2012. Tivemos boa sinergia, mas os policiais se aposentaram, outros mudaram de carreira e houve o enxugamento. Recentemente duas unidades de Blumenau foram fechadas (no plantão) como forma de realocar pessoal para investigação. A comarca de Ascurra nem sequer tem plantão – lamenta o delegado.
Especialista alerta a ver além dos números
Além do fim dos plantões na 1ª e 2ª Delegacia de Polícia, Blumenau também acabou no ano passado com as divisões de homicídios, tóxicos, furtos e roubos e de capturas. Hoje a Divisão de Investigação Criminal (DIC) apura homicídios e assaltos a bancos e as delegacias de área ficam responsáveis por investigar os demais roubos.
O presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Santa Catarina, Anderson Vieira Amorim, ressalta que uma das principais reivindicações da categoria diz respeito ao expediente.
– Estamos trabalhando por três. Como a previsão para início da formação dos candidatos que passaram no concurso público é julho, se for pensar que eles terão cinco meses de curso, o reforço só virá em 2017 – argumenta.
Apesar de salientar a importância da presença policial nas ruas, o especialista em Criminologia e professor de Direito da Univali Alceu de Oliveira Pinto Júnior ressalta a importância do planejamento e da estratégia de ações:
– O efetivo policial é só um ponto. Bons sistemas de vigilância e de pronta-resposta são tão importantes quanto o número de policiais.
Outra preocupação no Vale do Itajaí é a segurança de quem faz a segurança. Cada vez mais perto, os criminosos têm feito a comunidade e policiais vítimas. Neste ano, duas delegacias foram invadidas.
A 1ª Delegacia de Polícia de Blumenau foi arrombada no recesso de Ano-Novo e, em fevereiro, o prédio que abriga a 1ª e a 2ª delegacias de Polícia de Itajaí foi alvo de ladrões na folga de Carnaval.
– É uma questão da impunidade. O crime é considerado furto e a pena é ridícula, a PM prende ladrão todo dia e ele é solto em seguida. Quando é condenado, pega pena baixa e fica solto. Eles não estão nem aí, pois não terão sanção mais efetiva – ressalta o delegado regional de Blumenau, Rodrigo Marchetti.
Corte de verba preocupa PM
O anúncio do corte de R$ 35 milhões no orçamento da Polícia Militar em 2016 abalou a comunidade militar em Santa Catarina. O objetivo é ajudar a balancear as contas do Estado em meio à crise econômica. Mas uma das grandes preocupações é em relação ao efetivo policial.
Segundo o presidente da Associação de Praças do Estado de Santa Catarina (Aprasc), subtenente Edson Fortuna, o corte pode comprometer o trabalho da corporação que hoje tem pouco mais de 10 mil policiais, número que reduz a cada ano:
– O momento não é de corte, ao menos não na segurança. Uma das nossas dúvidas é sobre o curso de formação. Com menos verba, ele pode não ocorrer.