Quem trafega pela ponte sobre o rio Peperi-Guaçu, que separa o estado de Santa Catarina da província de Misiones, na Argentina, nota uma situação peculiar: apenas as autoridades argentinas fazem o controle alfandegário nesse trecho. Construída em 1994 por empresários da região para conectar estradas vicinais dos dois países, a passagem é considerada ilegal pelo Brasil.
Isso porque, embora esteja aberta ao tráfego, a ligação não tem autorização da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para o trânsito internacional de veículos, o que impede a construção de uma aduana com postos da Polícia e da Receita Federal.
O que era apenas uma questão local se tornou um problemão em 2010, quando o governo brasileiro transformou os 30 quilômetros que ligam a ponte à cidade catarinense de São Miguel do Oeste num prolongamento da rodovia BR-282, investindo 80 milhões de reais na pavimentação desse trecho. Atualmente, passam na ponte 2 000 motoristas por dia, entre turistas incautos e contrabandistas.
“É comum o comércio ilegal de vinhos argentinos”, diz Vilmar de Souza, presidente da Associação Comercial e Industrial de São Miguel do Oeste.
Segundo a ANTT, a falta de autorização é resultado de uma avaliação de técnicos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) de que a ponte tem problemas estruturais, como fissuras no concreto, e não foi construída com a altura adequada para evitar as cheias do rio.
O Dnit cogita fazer uma nova ponte, mas os estudos técnicos dependem de um acordo bilateral — já aprovado pelos argentinos em 2014, mas que aguarda tramitação no Congresso brasileiro.
Fonte: Revista Exame