DO BLOG – KENNEDY ALENCAR
RIO DE JANEIRO
A fase de hoje, a Acarajé, deixa claro que a presidente Dilma também é alvo, porque está sendo ressuscitada a suspeita de que as suas campanhas podem ter recebido recursos ilegais. A presidente e seus auxiliares sempre negaram o recebimento de recursos ilegais nas campanhas de 2010 e 2014, seja propina, seja caixa 2.
Mas a entrada em cena de João Santana na Acarajé se deve à suspeita dos investigadores da Lava Jato de que o marqueteiro teria recebido pagamento da Odebrecht no exterior a fim de quitar compromissos de campanha. Ou seja, teria havido uma doação ilegal feita no exterior para a campanha de Dilma.
Essa é a principal tese dos investigadores nesta nova fase da Lava Jato. É uma tese grave. Se comprovada, poderá fortalecer a possibilidade de impeachment ou de cassação da chapa Dilma-Temer no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Claro que se trata de um caminho tortuoso. Como Santana não tem foro privilegiado, o juiz Sérgio Moro pode investigar o marqueteiro da presidente. Moro não pode investigar Dilma, mas pode compartilhar provas com o TSE, o STF (Supremo Tribunal Federal) e a Procuradoria Geral da República (PGR) se obtiver algo consistente. Dilma só pode ser investigada nos âmbitos da PGR e do STF.
Mas Moro faz uma investigação indireta sobre a presidente porque João Santana realizou as campanhas dilmistas à Presidência e é o principal marqueteiro do governo. Ele gravou o último pronunciamento oficial de Dilma, sobre o zika vírus, que foi feito no início deste mês. Faz reuniões frequentes com a presidente. É alguém que participa da intimidade política de Dilma e do PT.
Outro efeito é enfraquecer politicamente o governo numa hora em que há anúncio de medidas econômicas que dependem de negociação com o Congresso. A Lava Jato introduz ainda mais dificuldades políticas a um governo que já teria problemas suficientes sem essa investigação, dada a incapacidade da presidente de encontrar saídas para a crise.
Logo, é um agravante político para a presidente. Uma investigação da Lava Jato sobre recursos ilegais de campanha e um mandado prisão contra o marqueteiro presidencial dificultam bastante a tarefa de governar.
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Futuro complicado
A soltura do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) não deve evitar uma cassação do mandato por quebra de decoro parlamentar.
De fato, Delcídio é um político benquisto no Congresso. Ao contrário de Eduardo Cunha, presidente da Câmara, o senador petista é visto como boa praça. Tem menos inimigos.
Isso ajuda, claro _ainda mais se ele se licenciar para evitar o constrangimento de um senador exercer o mandato de dia e ir para a prisão domiciliar à noite. Mas já há um processo de investigação por quebra de decoro. Votação de cassação de mandato é por meio de voto aberto.
Diante da gravidade dos diálogos em que ele sugeriu um plano de fuga a Nestor Cerveró e até a ajuda de ministros do Supremo, ainda que diga que eram bravatas, parece configurada uma quebra de decoro. Nesse contexto, com voto aberto, é difícil que não seja cassado.