Com mais de 38 mil visualizações até a tarde desta segunda-feira (22), após dois dias do lançamento, o documentário “Bichas”, do pernambucano Marlon Parente, repercute nas redes sociais com a bandeira do empoderamento homossexual a partir do relato de seis jovens gays. O filme, lançado na internet no sábado (20), mostra como a auto aceitação mudou a vida deles. A ideia do documentário surgiu depois que o criador sofreu, em setembro, uma ameaça de morte por andar de mãos dadas com outro homem.
Bruno Delgado, Igor Ferreira, Ítalo Amorim, João Pedro Simões, Orlando Dantas e João Pedro Carneiro narram desde o momento em que se descobriram homossexuais até a revelação para a família, esbarrando no preconceito social e em pensamentos de suicídio. Por fim, vem a total aceitação de quem são: bichas, não com uma conotação ruim, mas como um elogio, com orgulho de sê-lo.
Seguindo uma ordem cronológica, da auto descoberta até vir a orientação se torna algo público, as histórias seguiram rumos diferentes. Em trecho do documentário, Orlando Dantas, 22, foi confrontado pelo pai: “ele me perguntou: ” aí? Agora tu é veado? É bicha?” Mas eu não chorei. Se eu chorasse estaria me colocando como culpado de uma coisa que não sou, que é uma coisa natural. Essa coisa da não-aceitação que não é natural”, diz o jovem, em vídeo.
Já Igor Ferreira, 19, já recebe apoio da mãe até em assuntos como moda: “eu pinto minhas unhas e elas estão borradas e ela [mãe] fala “menino, ajeita essas unhas”. O jovem, que pertencia a igreja, conta também no vídeo que nem sempre sua vida foi tão positiva: “queriam me xingar de bicha, gay, veado, e eu não queria aqueles adjetivos para mim. Passei a odiar isso e parecia que [esses termos] só existiam para me zoarem. A palavra me machucava e reforçava meu pensamento de não querer ser bicha”.
A ideia de criar o documentário sobre o orgulho que deveria ser sentido pela palavra veio do publicitário Marlon Parente, 23, depois de passar por um episódio de agressão na rua por sua orientação sexual.
“Em setembro eu estava com alguns amigos no centro do Recife, andando de mãos dadas, quando um senhor passou por a gente e sacou uma arma. Ele disse: ‘eu vou atirar em vocês porque vocês são bichas e bichas merecem morrer’. Eu fiquei congelado, não acreditei que ele estava apontando uma arma por isso. A gente começou a se apressar, a querer ir embora quando o Ítalo, que está no vídeo, revidou: ‘pode atirar, agora não vai acabar aqui, vai ter bicha em todo lugar e você não vai dar conta’. Passou um carro da polícia e ficamos seguros fisicamente, mas isso ficou na minha cabeça, principalmente pela ofensa que ele disse ser ‘bicha’. Foi quando decidi que a gente deveria se impor e falar sobre isso”, conta o publicitário.
Peu Carneiro é um dos seis jovens que contam
suas histórias (Foto: Divulgação)
Um das histórias contadas no vídeo é a de Peu Carneiro, “que pode ser Britney também”. Ele também sofreu um episódio de violência no primeiro dia do ano. “Eu estava saindo com meus amigos de uma festa na virada, e a gente estava rindo, cantando na rua. Um cara não gostou e veio com um pedaço de pau bater na gente, sem motivo algum. Tentamos conversar com ele, mas amigos dele acalmaram e a gente saiu da situação”, diz o jovem.
O filme não contou com grandes pré-produções. Foram cem dias desde o início das gravações, todas dentro do apartamento do Marlon, com uma câmera emprestada e poucas noções de edição. Na internet, a página do documentário no Fecebook bomba de elogios e de pessoas se reconhecendo nas histórias contadas pelos jovens.
Depois do lançamento, Peu recebeu diversas mensagens em suas redes sociais. O conteúdo vem sendo, até então, totalmente de apoio. “Não recebi nada negativo. Hoje veio um menino falar comigo, contar a história dele, eu fiquei super emocionado. Ele disse que não era assumido e achou melhor falar depois para a família. Eu mandei uma mensagem encorajando ele. Quando você conta, nada fica bom de primeiro, mas depois se resolve. Todos os pais amam. E eu espero que ele venha me falar depois o que aconteceu”, diz Peu.
“É cada um com uma vivência: tem um mais expressivo que o outro, um mais afeminado, tem o negro falando da bicha preta, tem a bicha gordinha, tem a drag queen que já carrega uma outra bandeira. São variadas vivências de quem vai para a terapia, de quem aceita bem. Eu me vejo em cada um, e várias pessoas estão se encontrando nessas histórias”, finaliza Marlon.
Do G1