Imagina a seguinte situação: a pediatra que atende ao seu filho te manda uma mensagem dizendo que não irá mais realizar o acompanhamento médico da criança por conta de seus posicionamentos políticos. O caso aconteceu com a vereadora suplente Ariane Leitão, ex-secretária de política para mulheres do Rio Grande do Sul e filiada ao PT (Partido dos Trabalhadores), em Porto Alegre (RS).
Em um post publicado no Facebook, Ariane Leitão relata que foi surpreendida por uma mensagem da pediatra cancelando uma consulta de rotina com seu filho, Francisco. O desabafo diz ainda que a profissional revelou estar declinando de “maneira irrevogável” de atender o bebê pelo fato da mãe dele ser “petista”.
Em entrevista ao BOL, Ariane disse que se sentiu violentada com o que ocorreu. “Não diretamente, mas o meu filho foi privado de um direito, e quando as coisas envolvem seu filho é muito pior do que quando acontece contigo. O que ela fez na mensagem, citando o nome do meu filho, em caráter irrevogável, me causou tristeza e indignação”.
Por conta do acontecido, a política formalizou uma denúncia contra a médica, identificada como Maria Dolores Bressan, no Cremers (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul).
O caso ganhou ainda mais repercussão após Paulo de Argollo Mendes, presidente de outra entidade da categoria, o Simers (Sindicato Médico do Rio Grande do Sul), dizer em entrevista ao jornal Diário Gaúcho, que a médica não descumpriu nenhuma regra do código de ética e que ela – a profissional – deveria até “se orgulhar” de ter sido honesta.
Em virtude da declaração polêmica de seu presidente, o Simers divulgou uma nota afirmando que concorda com o posicionamento dele. E cita um trecho do código de ética da entidade: “O médico exercerá sua profissão com autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços que contrariem os ditames de sua consciência ou a quem não deseje, excetuadas as situações de ausência de outro médico, em caso de urgência ou emergência, ou quando sua recusa possa trazer danos à saúde do paciente”.
Ao saber da opinião do sindicato, Ariane afirma, resignada, que não acredita mais que a médica será punida. “Acho que ela sofrerá algo pontual. Mas, não quero julgar nada.
Todos temos a oportunidade de se defender. Só que depois da mensagem do sindicato, que representa um pouco o posicionamento da entidade, corporativista, eu tive a mesma sensação de quando recebi a mensagem da médica. Falta de solidariedade dentro de uma profissão que trabalha com vidas. Lamentável”, afirma.
Ariane também acredita que a ação abre um precedente perigoso, que pode permitir que profissionais comecem a negar atendimentos por diversos motivos com outras pessoas.
“O Brasil era visto mundialmente como um país solidário. Deixamos de ser isso. A violência passou dos adultos e está chegando às crianças. Se fosse com o seu filho, o que você faria? Precisamos discutir as garantias dos direitos. A violência está no ambiente infantil. As pessoas estão se sentindo no direito de violentar quem pensa diferente. Eu espero que os pais e as mães reflitam.”
A pediatra
Paralelamente a isso, uma versão da mensagem que teria sido enviada pela pediatra
Maria Dolores Bressan para Ariane Leitão via WhatsApp viralizou na web.
Na mensagem atribuída a ela, a médica teria dito que não atenderia a criança por conta das filiações políticas de seus pais e que “poderia inventar desculpas, atender de mau humor, mas prefere a honestidade que sempre pautou sua vida particular e pessoal”.
O BOL ligou no consultório da pediatra, mas, no momento, representantes dela afirmaram que ela não está comentando o assunto.
Fonte:BOL