Desenvolvida no campus de São Carlos para o tratamento de tumor maligno, a substância é apontada como possível cura para diferentes tipos de câncer, mas não passou por esses testes em humanos e não tem eficácia comprovada, por isso não é considerada um remédio. Ela não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e seus efeitos nos pacientes ainda são desconhecidos
Na quinta-feira (31), oficiais de justiça, advogados e pacientes voltaram ao Instituto de Química da USP para tentar com mandados de busca e apreensão pegar as cápsulas de fosfoetanolamina sintética, mas a universidadecontinuava descumprindo as determinações judiciais, assim como ocorreu na quarta (30). A USP foi procurada novamente, mas não se manifestou sobre o assunto.
Problema administrativo
O químico Salvador Claro Neto disse que não existe mais a substância no laboratório da universidade. “Nós estamos com um problema administrativo. Nós não vamos fazer isso. Não vai ter tempo mais porque eu vou ficar em Cravinhos. Nós estamos num vácuo. É parar de fazer para 400 pessoas para fazer para 13 mil”, disse.
Ele foi afastado do trabalho na USP para ajudar a fabricar o composto em Cravinhos. Segundo o químico, ele deve ficar na cidade por um mês.
Mesmo com a informação de que não teria a substância, oficiais de justiça e advogados insistiram e foram até o laboratório com uma funcionária da USP, mas a entrada da reportagem da EPTV não foi autorizada.
Última remessa da USP
Na saída, a advogada Gabriela Mariana Frutuoso afirmou que há cápsulas da substância em uma estufa e que a substância estará pronta em três dias. “Existem cápsulas de fosfoetanolamina, inclusive elas estão em fase de finalização. Segundo declarações do doutor Salvador, essa é a última remessa da instituição”, afirmou.
Para tentar conseguir a substância na semana que vem os advogados foram ao Fórum de São Carlos pedir um novo mandado de busca e apreensão.
Esperança de pacientes e parentes
A ‘pílula do câncer’ é uma esperança para a analista de sistema Bernadete Cioffi, que luta pela liberação da fosfoetanolamina desde o ano passado. Ela veio de São Paulo para buscar as cápsulas, que começou a usar há cerca de seis meses porque tem metástase nos ossos. Ela disse que a saúde melhorou. “Foi a única coisa que me possibilitou a retornar o meu estilo de vida de uma pessoa saudável. Hoje até pilates em pratico, para quem estava de cadeira de rodas”, adestacou.
A médica Cristiane Jourdan veio do Rio de Janeiro para pegar as cápsulas para a mãe dela que tem câncer de mama. Ela afirmou que não vai voltar para casa enquanto não conseguir. “Não pode haver a possibilidade de uma interrupção de tratamento. Existe o que a gente chama de efeito rebote, que são pacientes que começam a melhorar em razão do uso da medicação, mas, por uma interrupção todos os sintomas passam a voltar de forma exacerbada. Nós temos que sair daqui com a fosfo”, afirmou.
Suplemento alimentar
O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Celso Pansera, recomendou na quarta-feira (30), que a fosfoetanolamina seja legalizada como suplemento alimentar junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), segundo nota de sua pasta.
“Achamos que uma saída seria a produção da fosfoetanolamina como suplemento alimentar, mediante orientações, obviamente. É preciso ficar bem claro que isso não substituiria nenhum acompanhamento médico, nem tratamentos com eficácia comprovada.”
Uso compassivo
No dia 22 de março, o Senado aprovou o projeto de lei que que permite a fabricação, distribuição e o uso da fosfoetanolamina sintética. O projeto aguarda a sanção ou veto da presidente Dilma Rousseff.
Pelo projeto aprovado, pacientes com tumor maligno poderão usar a “pílula do câncer”, desde que exista laudo médico que comprove a doença. O paciente ou seu representante legal terá ainda que assinar um termo de consentimento ou responsabilidade. A proposta vai além e também permite a fabricação da fosfoetanolamina sintética mesmo sem registro sanitário.
Anvisa recomenda veto à liberação
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vai recomendar à presidente o veto. “Vai ser um medicamento que não tem lote, data de fabricação, quem fiscaliza para saber se é mesmo a substância ou alguma pessoa inescrupulosa está falsificando. Vai criar uma área de sombra onde seguramente a saúde de quem consome o produto não vai estar garantida”, afirmou o presidente da Anvisa, Jarbas Barbosa, em entrevista à EPTV.
Investigação de curandeirismo
A Procuradoria da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos, denunciou à Polícia Civil o químico Gilberto Chierice, pesquisador que desenvolveu a fosfoetanolamina sintética, a chamada ‘pílula do câncer’, nos laboratórios do Instituto de Química. A universidade alega que ele cometeu crime de curandeirismo e de expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto iminente, previstos como crimes nos artigos 284 e 132 do Código Penal, respectivamente. A pena para o primeiro é de prisão de 6 meses a 3 anos e, para o segundo, de 3 meses a 1 ano. O pesquisador e a USP não comentaram o assunto.
Fonte: G1