A Universidade de São Paulo (USP) abriu uma sindicância para investigar a atividade do químico Gilberto Chierice, pesquisador que desenvolveu a fosfoetanolamina sintética, a chamada ‘pílula do câncer’, nos laboratórios do Instituto de Química em São Carlos. A universidade informou nesta segunda-feira (11) que “apura uma eventual infração funcional referente à confecção e à distribuição da substância”. A USP diz ainda que o pesquisador pode ter a aposentadoria cassada.
Segundo o advogado Fábio Maia Soares, que representa o pesquisador, a USP tinha ciência da pesquisa desde o início. “Não existe base legal para o que estão tentando apontar. A diretoria sempre soube que a fosfo era produzida ali dentro por conta de um convênio que a própria USP firmou como hospital Amaral Carvalho, de Jaú. O professor designado para atender esse convênio foi o professor Gilberto. Nunca nada foi feito fora do padrão do que havia sido combinado”, disse.
Desenvolvida no campus de São Carlos para o tratamento de tumor maligno, a substância é apontada como possível cura para diferentes tipos de câncer, mas não passou por esses testes em humanos e não tem eficácia comprovada, por isso não é considerada um remédio. Ela não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e seus efeitos nos pacientes ainda são desconhecidos.
USP alega prejuízos
A sindicância ocorre a pedido do reitor, Marco Antonio Zago. Apesar de confirmar a sindicância, a USP não deu mais detalhes porque o processo tramita sob sigilo.
Segundo o advogado do pesquisador, a reitoria pede o cancelamento da aposentadoria de Chierice, alegando que o volume de processos ajuizados em relação à USP prejudicou a universidade e que houve risco na forma como foi conduzida a pesquisa, produção e distribuição da substância.
Ainda de acordo com o defensor, na última sexta-feira (8) o pesquisador foi convocado pela USP para participar de uma audiência interna em que estiveram presentes uma médica, uma professora de química, um professor de farmácia e o departamento jurídico da universidade.
Cassação da aposentadoria
Questionado sobre a cassação da aposentadoria do pesquisador, o advogado afirmou que não existe a possibilidade. “Ele já é aposentado e, além do que contribuiu no período, não existe falta grave, seja qual for o ângulo de análise. A sindicância veio para analisar para ver se existe alguma situação que a própria USP já deveria saber”, disse.
O advogado afirmou ainda que vai aguardar a conclusão da sindicância, que pode levar até 60 dias. “A gente espera que haja uma análise bastante tranquila e isso seja arquivado definitivamente”, ressaltou.
Em março deste ano, a USP já havia dencunciado o pesquisador à polícia alegando que ele cometeu curandeirismo. O inquérito concluiu que não foram encontradas evidências de crime.
Testes em laboratório
Em 1º de abril, a USP fechou o laboratório que produzia a substância. A fosfoetanolamina passou a ser produzida em um laboratório de Cravinhos (SP), autorizado a produzir a substância para análises clínicas. O laboratório entregou à Fundação para o Remédio Popular (Furp) o primeiro lote da “pílula do câncer” no dia 2 de maio.
Em maio, o Supremo Tribunal Fderal (STF)suspendeu a lei sancionada em abril pela presidente afastada Dilma Rousseff quepermitiria o uso do composto antes da conclusão dos testes clínicos.
No início de junho, um teste realizado com 40 camundongos, pesquisadores demonstraram que a fosfoetanolamina foi capaz de reduzir em 34% o tamanho de tumores de pele nos animais que a ingeriram durante 24 dias, uma vez ao dia.
Em novos testes divulgados no meio do mês passado o Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos (CIEnP) apontou baixa eficácia contra as células de câncer de pâncreas ou melanoma.
Fonte: G1