Durante toda esta semana, o jornal O Estado de São Paulo vai divulgar uma série de reportagens feitas em diversas regiões do país, onde o foco é a violência no campo.
Em Rondônia, os jornalistas de uma das maiores publicações do Brasil, passaram por cidades como Vilhena, Ji-Paraná e Ariquemes, onde comprovaram o que os sites já vem divulgando há anos: invasões de terras violentas e com derramamento de sangue são cometidas para o comércio de lotes e não para promover a reforma agrária para famílias carentes.
Sem contar os posicionamentos das autoridades locais e até mesmo do Incra, onde as mortes são provocadas pelos próprios invasores, seja por disputas internas ou provocam em confrontos com fazendeiros a fim de causarem mortes.
Um vídeo publicado junto com a primeira matéria assinada pelos repórteres André Borges e Leonêncio Nossa e fotos de Dida Sampaio e Hélvio Romero destaca uma chacina ocorrida no dia 17 de outubro de 2015, onde cinco pessoas foram assassinadas em uma fazenda próxima a Vilhena, onde depois de baleadas, quatro delas foram queimadas vivas.
Veja o vídeo:
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De acordo com o Estadão, foi o maior massacre por disputas de terras em Rondônia nos últimos 20 anos. “Já passei por casos gravíssimos em locais onde famílias foram assassinadas na área rural por conflito pessoal. Agora, não algo dessa magnitude, que eu presidi ou tomei conhecimento nesses 10 anos como delegado de pessoas sendo mortas queimadas. Justamente por causa de conflitos agrários, muito menos”, afirmou o delegado regional de Vilhena, Fábio Campos, responsável pelas investigações.
Já Hilário Bodanese, proprietário da Fazenda Rio do Ouro, palco da execução coletiva em Chupinguaia, lamentou que organizações ligadas aos direitos humanos não apoiaram as famílias atingidas pelas mortes cruéis. “Foram lá e mataram as pessoas. Pai de família, queimaram. Só que aí, direitos humanos não apareceu [sic], quando é pra ver os coitados, não é?”.
Para Maria Madalena de Paula, vice-presidente da Central de Associações Portal da Amazônia, que acompanhou parte das discussões envolvendo as mortes no Cone Sul, analisa que houve um descontrole emocional por parte dos acusados de terem cometido os assassinatos. “Eu acredito que foi uma revolta. Nada mais do que isso. Acho que do pessoal que estava lá, acampado. Não posso afirmar, porquê não estava lá e não vi, mas acho que foi por causa da falta de materializar essa questão da documentação [da terra invadida]”.
Para o delegado Fábio Campos, a motivação do massacre está bem clara: com a possibilidade da reintegração de posse da área invadida, um grupo entre os assentados resolveu tomar medidas mais drásticas, que não deram certo. “O que nós trabalhamos como motivação é que isso foi decidido ali, na região do acampamento e foi algo que saiu do controle da própria associação. Foi uma reação de alguns dos assentados, porquê havia uma promessa por parte da associação, de terra, onde inclusive havia a cobrança de taxas para isso. Então, muitas pessoas acreditavam que aquela terra seria alvo de reforma agrária, de distribuição”, disse ele.
Para Evaldo Aparecido Pistori, líder da Associação Canarinho de Produtores Rurais, a situação ficou difícil após a morte das cinco pessoas na região de Vilhena. “Esse tipo de acontecimento, a nível nacional, isso para todos os acampamentos, para todas os assentamentos que têm essa organização, transmite uma imagem negativa. Porque quem tá lá fora acha que isso está em todos os lugares, em todos os acampamentos, em todos os movimentos”, apontou ele.
Já o responsável pelas investigações pelas execuções em Chupinguaia, disse que as apurações e depoimentos destacam que as mortes no campo agilizam a desapropriação de terras para fins de reforma agrária. “Em razão dessa chacina, é possível, politicamente, que isso se passa, é que havendo mortes, como eu já ouvi pessoas que foram ouvidas no inquérito, no local de conflito, o processo de retomada ele agiliza”, falou Fábio Campos. Na região do Vale do Jamari a situação não é diferente, existem pelo menos três acampamentos com nomes de “camponeses” assassinados, dentre os quais destacam-se; “Assentamento Élcio Machado”, “Assentamento Luiz Carlos” em Monte Negro e “Assentamento Renato Natan” (Ariquemes), estes se tornaram “mártires” da Liga dos Camponeses Pobres (LCP).
Por fim, indagado por um dos jornalistas do Estado de São Paulo, o líder da associação de produtores rurais admite que há a venda de terras, após a distribuição pelo Incra, além de que há muitas pessoas que encaram os acampamentos como forma de ganhar mais dinheiro. “Isso acontece. É a realidade. Vou ser sincero, vou dizer que sim”, encerrou Evaldo Pistori.
Uma imagem também chama a atenção na reportagem especial: na defesa da floresta, os extrativistas Éder Chaves Dias e João Coelho tentam impedir a passagem de invasores pelo Vale do Jamari. Estão marcados para morrer. Como eles, há centenas de outros na lista do crime organizado que avança sobre as terras da União.
Fonte:RONDONIAVIP