Insustentável. Assim está a situação do quadro de pessoal do Banco do Brasil (BB), que há mais de um ano não repõe a saída de funcionários em seis estados (Rio de Janeiro, Amazonas, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina), e há cinco meses em outros sete (São Paulo, Alagoas, Bahia, Goiás, Mato Grosso do Sul, Pará e Tocantins), além do Distrito Federal.
Faltam em todo o país, segundo os sindicalistas, 5.880 funcionários, cenário que tem provocado sobrecarga de trabalho e insatisfação de quem trabalha na empresa. A realização dos concursos, portanto, já é considerada inevitável.
Isso porque, a partir do momento em que o banco não faz concursos públicos e, consequentemente, não contrata novos funcionários, quem está na ativa acaba sendo deslocado para os locais com maiores necessidades, o que gera insatisfação.
A denúncia é do coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB e integrante da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Wagner Nascimento.
Segundo ele, a falta de concursos públicos tem afetado o dia a dia das agências do BB e, por isso, eles já são considerados inevitáveis, embora o banco não dê qualquer previsão.
“O Banco do Brasil tem que fazer concurso para contratar. Temos percebido nas agências, principalmente do interior, atrasos no atendimento e grandes filas. Isso só traz prejuízos ao banco, como por exemplo a insegurança dos seus clientes”, denuncia.
Wagner Nascimento
O banco chegou a essa situação porque pela primeira vez na história ficou sem um cadastro de reserva válido, já que não abriu os concursos necessários.
No Rio e nos demais cinco estados, que estão há um ano nessa situação, o último concurso teve o prazo de validade expirado em 26 de setembro de 2015. Já nas demais oito localidades, o prazo de validade da última seleção expirou em 8 de maio deste ano. Hoje, o BB possui 109.615 empregados, sendo que o fixado, em setembro de 2015, pelo Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Dest) do Ministério do Planejamento, são 115.495.
Por isso, a carência é de 5.880 funcionários. No Estado do Rio de Janeiro, que está há um ano sem cadastro de reserva, faltam 250 profissionais.
PAI – Programa de Aposentadoria Incentivada
O caos no quadro do pessoal do BB começou quando, em junho do ano passado, o banco anunciou um Plano de Aposentadoria Incentivada (PAI). Aderiram ao PAI 5 mil funcionários, sendo que todas essas saídas, segundo Wagner Nascimento, não foram repostas, por enquanto.
“Desses 5 mil que saíram, apenas 2.500 foram repostos. O PAI é uma ótima iniciativa do banco. O funcionário gosta porque mantém os direitos, como o plano de saúde, sendo incentivado a se aposentar. A nossa crítica é feita à falta de reposição.”
Recentemente, circulou na imprensa a informação de que um novo PDV seria anunciado pelo banco, gerando a eventual saída de 18 mil funcionários. Contudo, o Banco do Brasil negou esse novo PDV. Apesar disso, Wagner Nascimento acredita em novos planos de aposentadoria incentivada, o que deixaria o quadro em situação mais preocupante.
“Pode não ter um plano de demissão, como o banco disse à imprensa e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Entretanto, o Plano de Aposentadoria Incentivada (PAI) sempre é feito, e não duvido que um novo apareça. Contudo, fazer um novo PAI sem abrir concursos só irá piorar a situação”, argumenta Wagner.
Sindicalista: crise não impede concurso
O concurso para escriturários do Banco do Brasil é uma das principais reivindicações dos funcionários, segundo o diretor executivo do Sindicato dos Bancários, Cláudio Luis.
Ele afirma ainda que o BB tem plenas condições de realizar os concursos e contratar os aprovados. “Iniciamos nossa Campanha Nacional, e o Banco do Brasil, assim como o setor bancário de forma geral, continua lucrando alto. Portanto, não há justificativas para que não atenda às demandas da categoria.
Sobrecarga de departamentos
A situação nas agências e departamentos está cada vez pior. Os trabalhadores estão sobrecarregados e adoecendo. Nossa pauta também conta com uma série de reivindicações por melhoria das condições de trabalho, que podem muito bem ser atendidas pelo banco”, afirma.
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos (Dieese) ratifica o que disse o sindicalista. Segundo o supervisor técnico do Dieese, Max Leno, um recente estudo mostra que, a partir do lucro dos bancos, há plenas condições de as reivindicações serem atendidas.
“A situação dos bancos permite que essas reivindicações efetivamente possam ser discutidas, debatidas e até mesmo virem a ser atendidas.”
A aprovação do reajuste salarial dos funcionários é outro fator que confirma a possibilidade de o Banco do Brasil abrir os concursos.
Perguntado, o Banco do Brasil informou que, por enquanto, não há previsão de abertura de concursos públicos. Contudo, isso não costuma dizer muito, pois antes de saírem as seleções para o Nordeste, em 2015, por exemplo, o BB dava a mesma resposta à imprensa.
Concurso já tinha até organizadora
O Banco do Brasil esteve muito perto de divulgar o edital do concurso para escriturários no Rio de Janeiro, Amazonas, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que seria o primeiro com vagas imediatas, após acordo do BB com o Ministério Público do Trabalho do Distrito Federal (MPT-RF).
A seleção, inicialmente, seria aberta antes de setembro, justamente para o banco não ficar sem um cadastro de aprovados válido, o que fatalmente aconteceu. O que atrapalhou o banco foi a crise política e econômica do país.
O BB já tinha vários detalhes da disputa definidos, tais como a Fundação Cesgranrio escolhida como organizadora. A empresa já sabia também como avaliaria os candidatos.
Na ideia do BB, seriam propostas prova objetiva, com 70 questões e tendo o Inglês como novidade, e redação. Acredita-se que essas decisões sejam mantidas para o próximo concurso, que deverá englobar no mesmo edital os 14 estados. A objetiva teria 25 itens de Conhecimentos Básicos e 45 de Conhecimentos Específicos.
Fonte: Folha Dirigida