Após ser comprovado que o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, da chikungunya e do zika, também está relacionado – devido ao zika – à microcefalia, o alerta em relação ao inseto se intensificou.
No final de 2016, um surto da doença atingiu a região Nordeste do país, afetando muitos recém-nascidos. A malformação congênita faz com que tanto o cérebro quanto o crânio da criança sejam significativamente menores do que outras crianças na mesma faixa etária e sexo, além de causar uma série de outros problemas.
E enquanto para muitos pais ter um bebê com a doença é visto como um enorme transtorno ou fatalidade, o mesmo não pode ser dito de Valéria Gomes Ribeiro, de 46 anos, moradora de Paulista, em Pernambuco. A mulher que já era mãe de um adolescente de 19 anos portador de necessidades especiais, protagonizou mais uma linda atitude de amor e agora tem a guarda do pequeno João, um bebê portador de microcefalia e que sofria maus tratos de sua mãe biológica.
Em entrevista à Folha de São Paulo, Valéria conta que todos os dias ela acorda às 3h da manhã para que possa levar o menino para suas consultas e terapias. A mãe relata que conheceu o garotinho ainda quando ele vivia com sua mãe biológica e seus onze irmãos (um deles, uma menina gêmea de João), pouco tempo após ele nascer em agosto de 2015.
- Foto: Thays Estarque/G1
Ela relata que logo identificou que o bebê havia nascido com algum problema, mas de início, não percebeu que se tratava da microcefalia. Valéria conversou com a mãe do garoto explicando a ela como cuidar de uma criança especial, mas o que se viu, na prática, era bem diferente do que ela procurava ensinar.
A mãe biológica encaminhava a criança todos os dias até a casa de Valéria, que não se importava em prestar cuidados a ela. O problema é que João chegava sempre sujo, com remelas nos olhos e molhado de xixi. Além disso, era de costume que ele chorasse mais do que o normal. Valéria relata que com ela, o menino se sentia mais calmo, mais confortável, sentindo uma paz que não sentia em seu lar, onde era cuidado mais pelas irmãos do que pela mãe, e poucos tinham paciência com ele.
De acordo com Valéria, a microcefalia foi descoberta quando ela precisou levar João até uma unidade da UPA após uma crise de convulsão. Lá, veio o diagnóstico, e a mãe biológica confirmou que havia sido vítima do zika na gravidez.
A essa altura do campeonato, o Conselho Tutelar já estava de olho na mãe das 11 crianças. Seus filhos eram cuidados pela vizinhança, pois em casa eles eram praticamente abandonados à própria sorte. Felizmente, havia pessoas de bem que ajudavam as crianças. E a gota d’água para os representantes do Conselho foi quando em uma das visitas, eles flagraram a mãe maltratando o bebê com microcefalia.
Imediatamente, eles decidiram que João seria levado para um abrigo. Não havia condições de viver sob aquela situação. E foi nessa hora que uma senhora, vizinha da família, contou sobre o ocorrido para Valéria. A mulher, então, não teve dúvidas sobre o que fazer: decidiu buscar a guarda de João, até que em junho, ela conseguiu a provisória. O objetivo agora é alcançar a guarda definitiva do garoto.
Emocionada, Valéria relata ao jornal que não consegue mais imaginar sua vida sem João. “Meu sonho é vê-lo andar, falar, me chamar de mamãe ou mainha”, conta ela. E com toda a força, ela encara uma dura rotina para que o filho adotivo possa passar por suas consultas e terapias em Recife. Eles pegam de oito a dez ônibus por dia, enfrentando lotações sobrecarregadas e olhares de preconceito. Ela relata que, às vezes, precisa se fingir de surda para não arrumar briga dentro do transporte público.
Um outro problema é o fato do menino ter o direito a um benefício social – no valor de R$880,00 -, porém quem o recebe ainda é a mãe biológica, que não ajuda em nada em relação ao menino. Valéria afirma que vizinhos e pessoas solidárias são quem mais a amparam para que ela possa cuidar de João.
Orgulhosa, ela se encanta com cada avanço do menino após os cuidados médicos. Antes, ela mal conseguia movimentar seus braços e hoje ele já é capaz de sorrir, enxergar, acompanhá-la com o olhar. Enfim, se desenvolver de acordo com sua capacidade.
E assim como ela mudou a vida de João, ele mudou a sua. Valéria passava por um momento complicado, triste, vivendo em um casamento marcado por brigas e por desunião. Ela estava deprimida, se deixando levar pela obesidade e pelo vício no cigarro, mas a chegada do menino a fez ter forças para reagir. E ela promete que não vai mais fumar e que fará todo o possível para que emagreça e possa viver com mais saúde se conseguir a guarda em definitivo.
E para isso, nós torcemos. Valéria se mostra um exemplo de mulher de fibra, solidária, altruísta, que, em quanto muitos se preocupam em julgar, ela se preocupa a fazer o bem. Que ao lado de sua família, possa reencontrar cada vez mais sua felicidade.
Fonte: Bestofweb