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Uma em cada quatro mulheres relatam que sofrem agressões na hora de dar à luz

31/01/2017
in Brasil


” Meu parto foi horroroso, um dos dias mais terríveis da minha vida. Quando meu filho nasceu, o obstetra ainda fez um comentário de muito mau gosto: ‘Mais um para pagar imposto!'”.
O relato, feito pela jornalista Patrícia Poeta à revista Marie Claire, joga luz sobre um tema incômodo sobre a maternidade: a violência obstétrica.
Patríca se refere ao nascimento de Felipe, hoje com 14 anos, fruto de seu casamento com Amauri Soares, de 50, diretor da Central Globo de Produções. O jovem nasceu em Nova York, Estados Unidos, onde Patrícia morava e trabalhava com o marido. Ela revelou que o obstetra a fez esperar até a 42ª semana para o parto, e mesmo depois de passar 14 horas com contrações fortíssimas, ele optou pela cesárea. O trauma colaborou para que Patrícia desistisse de aumentar a família.
Mas ela não está sozinha nisso. No Brasil, a situação não é muito diferente. De acordo com uma pesquisa divulgada em 2011 pela Fundação Perseu Abramo, uma em cada quatro mulheres sofre violência obstétrica no País. É o caso de Sheila Gregorio, que contou sua história para o R7.

À espera do primeiro filho, a vendedora Sheila Gregorio foi de São João do Meriti (RJ) a um hospital da zona norte do Rio de Janeiro para um exame pré-natal. Diante dos médicos, a bolsa estourou e ela foi encaminhada à internação para dar à luz Humberto Eduardo, hoje com 11 anos.
Durante a espera pelo atendimento, se concentrava para driblar a dor e não chorar, com medo da reação das enfermeiras. Quando não resistiu mais, ouviu de uma delas:
— Faz força, neguinha. Na hora de colocar para dentro você não chorou, agora tem que colocar para fora.
Cumprir a ordem da enfermeira não ajudou. Quanto mais Sheila empurrava, pior era a dor, e nada de Humberto nascer.
Porque já estava há quinze horas no hospital e havia começado a vomitar na sala, pediu socorro a um médico que entrava no plantão.
— Pedi pelo amor de Deus que tirasse a criança de dentro de mim porque não estava mais aguentando. E que não fizesse mais exame de toque porque eu já estava com 10 centímetros de dilatação.
Foi só então que a equipe descobriu que Humberto estava em pé, com os pés no colo do útero de Sheila, o que impossibilitava o nascimento. Após tanto tempo de trabalho de parto, a criança já entrava em sofrimento fetal, e a cesárea foi feita às pressas, antes que a sala de cirurgia pudesse ser preparada.
O bebê nasceu saudável, e embora a mãe tenha sofrido com o tratamento da equipe, voltou ao hospital três anos depois para dar à luz Sarah Beathriz. O segundo parto também foi marcado pela violência obstétrica e desencadeou sequelas físicas.
— Eles deixaram a placa do bisturi ligada. Eu reclamava de dor e uma mãe que estava no mesmo quarto avisou que a parte de trás das minhas coxas estava toda queimada.
Agora, grávida de 7 meses da caçula Sandra Elizabeth, pretende dar à luz no hospital da zona norte do Rio novamente.
— Mesmo com tudo o que eu passei, sei que é um hospital que tem uma infraestrutura. Por eu ser uma gestante de alto risco, se for para outro lugar posso ter algum problema e não conseguiriam salvar nem a mim nem ao bebê.
O tratamento agressivo e negligente narrado por Sheila é mais frequente no Brasil do que se imagina. A médica, obstetra e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, Carla Polido, utiliza a definição proposta pelo médico venezuelano Rogelio Pérez D’Gregorio para explicar o que é violência obstétrica.
— A apropriação dos processos do corpo e processos reprodutivos das mulheres, por profissional de saúde, expressada por tratamento desumano, abuso de medicamentos e conversão dos processos naturais em patológicos, trazendo com isso a perda de autonomia e da capacidade de decidir livremente sobre seu corpo e sexualidade, impactando negativamente a qualidade de vida das mulheres.
Entre os procedimentos médicos que, de acordo com a especialista, são considerados violentos, estão: violência psicológica, como humilhação de exposição desnecessária de genitália e agressões verbais; manobras para aceleração de saída da criança, como empurrar a barriga da mãe; “pique” no períneo; separação do acompanhante; exames vaginais frequentes, dolorosos e sem explicação; não oferecimento de métodos para controle de dor e abuso da indicação de cesarianas desnecessárias.
Para Carla, as agressões ocorrem com frequência e sequer são encaradas como violência porque são rituais médicos muito antigos que não são questionados por novos profisionais.
— Há ritos e rituais na assistência obstétrica que repetimos desde a época em que não havia estudos controlados mostrando que essas práticas são prejudiciais. A maioria dos profissionais apenas repete o que aprendeu, sem nenhum questionamento.  Muitos não percebem mesmo que estão desrespeitando as gestantes, tão habituados que estão em comandar a situação.
“Não pude nem pegar minha filha no colo”
As consequências de um atendimento repleto de procedimentos violentos deixa marcas. A autora do blog Corpo Novo, Mente Nova, Bruna Justino, começou a sentir contrações em um domingo, no final de outubro de 2012. Foi a dois hospitais públicos da zona leste de São Paulo (SP) e os médicos mandaram-na de volta para casa, por falta de vagas na UTI neonatal e porque ela tinha apenas dois centímetros de dilatação.
Na noite de terça-feira, Bruna perdeu o tampão, muco que mantém o útero bloqueado, e voltou ao segundo hospital.
— Fizeram 18 exames de toque. Os médicos só colocavam luva se minha família pedisse, e um dos que me examinou estava com um pirulito na boca.
Foi mandada de volta para casa novamente e depois de tentar outro hospital, ainda com três centímetros de dilatação, sua bolsa estourou com mecônio. Correu para a maternidade e ainda aguardou mais 6 horas até que Alice nascesse, na sexta-feira de 2 de novembro, por cesárea.
— Eles eram agressivos e falavam que quanto mais eu gritasse, menos iam me atender. Riam da minha cara, faziam piada. A enfermeira disse que as mães que gritam são as mais frescas. Uma mulher me tirou de dentro do chuveiro pelos cabelos porque não podia molhá-los. Depois, me fizeram assinar um documento com o dedo dizendo que estava ciente que poderia sofrer choques elétricos pelo bisturi.
Quando a cesárea aconteceu, Bruna não viu a filha. A bebê foi levada direto para a UTI e a mãe só se lembra que a criança não chorou.
Na manhã seguinte, visitou Alice na UTI neonatal e recebeu a notícia de que a bebê estava com pneumonia. Foi perto da hora do almoço que ouviu os pêsames de uma funcionária do hospital.
— Todo mundo já sabia, menos eu.
Bruna e o marido foram chamados em uma sala reservada para receber a notícia.
— A pediatra falou a frase que até hoje eu escuto. “Você é muito nova, era seu primeiro filho, e infelizmente…”. Quando ela falou infelizmente eu levantei, empurrei-a e vi a minha filha já morta. Não pude nem pegá-la no colo pela primeira vez.
Depois de velar a filha recém-nascida, Bruna voltou ao hospital porque os pontos da cesárea vertiam líquido.
— Fui internada e falaram que era uma infecção gravíssima.
Depois de drenagens e uma curetagem, um anestesista admitiu que os médicos haviam deixado restos da placenta no útero de Bruna.
O ano que se seguiu à morte de Alice foi marcado por uma internação em hospital psiquiátrico e tratamentos psicológicos para que Bruna se recuperasse do sofrimento.
Hoje, ela atualiza um blog com histórias de superação para dar força a outras pessoas que passam por momentos tão difíceis quanto o seu. E sabe que muito de seu sofrimento foi causado pelo atendimento que recebeu nos hospitais.
— A culpa é muito grande. A culpa por não ter feito nada.
Consequências da violência
Embora casos como o de Bruna sejam ainda mais trágicos e dolorosos, qualquer situação de violência obstétrica deixa sequelas.
A psicanalista e diretora do Instituto Brasileiro de Psicologia Perinatal Gerar, Vera Iaconelli, explica que a violência obstétrica está inserida na cadeia da violência contra a mulher. E, de acordo com a especialista, toda agressão costuma deixar marcas.
— Tudo que é um evento traumático precisa de escuta e elaboração, senão a vítima pode desenvolver sintomas. Se já tiver uma estrutura psicótica, o trauma pode desencadear um surto.
O mais difícil, segundo ela, é que a vítima se dê conta de que sofreu abusos.
— Quando uma pessoa é assaltada, todos reconhecem o ato como violência e isso ajuda a vítima a lidar com a situação. No caso da obstétrica, a falta de conhecimento de que é uma violência faz com que fique mais difícil para a mulher reconhecer as consequências, e ela também é mais problemática por isso.
Culpa, depressão e bloqueio sexual são alguns dos problemas comuns em mulheres que passaram por atendimentos desumanos em hospitais. A violência obstétrica também pode afetar a relação entre mãe e filho.
— Como a mãe vai cuidar de um bebê se tem que lidar com uma cena de violência? Ela fica com dificuldades de reconhecer o bebê como um ganho.
Mesmo assim, as mães vítimas da violência obstétrica demonstram força na recuperação. Sheila, a mãe que vai dar à luz pela terceira vez em um hospital marcado pelo descaso no atendimento, consegue ver beleza em parir.
—  Filho é benção. A gente não deve só pensar na parte ruim, deve ver a parte boa também.
Fonte: R7

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Tags: agressãoparto

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