Manifestação nas ruas, revolta nas redes sociais, abandono de aliados e fechamento da bolsa de valores de São Paulo. Essas foram algumas das consequências da revelação feita pelo jornal O Globo da delação premiada dos irmãos Batistas, donos do frigorífico JBS. Se a primeira informação era de que Temer ouvia Joesley Batista dizer explicitamente sobre uma mesada para silenciar Eduardo Cunha na prisão, o áudio revelado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) não é claro quanto a isso.
A gravação tem quase 39 minutos, mas vários trechos são inaudíveis. A fala de Temer, em diversos momentos, desaparece ou é incompreensível. Em nenhum momento se fala explicitamente sobre pagamentos a Cunha, muito menos cita valor. Joesley cita que está “de bem com o Eduardo [Cunha]”. O presidente ordena: “Tem que manter isso, viu?”. E o empresário completa: “Todo mês também. “Eu ‘tô’ segurando as pontas” (leia a íntegra do trecho abaixo).
Nesta quinta-feira (18), durante pronunciamento à nação, antes da divulgação do áudio, Temer negou que renunciaria ao cargo, lamentou o escândalo e ainda disse que ele acontece bem na semana em que seu governo — que completou um ano na última semana — vivia seu melhor momento.
— Ontem, contudo, a revelação da conversa gravada clandestinamente trouxe de volta o fantasma de crise política de proporção ainda não dimensionada.
O presidente confirma a conversa, mas nega qualquer irregularidade.
— Ouvi realmente o relato de um empresário, que por ter relações com um ex-deputado, auxiliava a família do ex-parlamentar. Não solicitei que isso acontecesse e somente tive conhecimento deste fato nesta conversa pedida pelo empresário. Repito e ressalto, em nenhum momento autorizei que pagassem a quem quer que seja para ficar calado. Não comprei o silêncio de ninguém. Por uma razão singelíssima exata e precisamente, porque não tenho relação.
Segundo a coluna Painel, da Folha de S.Paulo, desta sexta-feira (19), o Planalto ainda desconfia de que o áudio da conversa foi editado e decidiu enviar a gravação feita por Joesley Batista para perícia. Temer se diz vítima de uma “conspiração”, o que seria corroborado se comprovada a suspeita de edição.
Nesta quinta-feira (18), o ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no STF, autorizou abertura de inquérito para investigar Temer, a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República). Com isso, o presidente passou para a condição de investigado. Mas os detalhes do processo, que segue em sigilo, não foram revelados.
Leia o trecho em que Temer e Joesley Batista falam sobre Eduardo Cunha:
Joesley Batista: Eu queria primeiro dizer o seguinte. E tamo junto aí, o que o senhor precisar de mim me fala. É, eu queria te ouvir um pouco, presidente. Como é que o senhor tá nessa situação toda aí do Eduardo, do não sei o quê […].
Michel Temer: O Eduardo tentou me fustigar.
Joesley Batista: E como é que tá essa relação?
Michel Temer: Ah tá […] e na hora de ir para a defesa indeferiu 21 perguntas dele que não tem nada a ver com a defesa dele. Era pra me […]. Eu não fiz nada com ele […] no Supremo Tribunal Federal. Ó só […] fatalidade […]. E tá aí, rapaz [..], mas os meus ministros […]
Joesley Batista: Dentro do possível eu fiz o máximo que deu ali. Zerei tudo o que tinha, alguma pendência daqui prali zerou e tal. […] deu tudo e ele foi firme em cima, ele já tava lá [preso em Curitiba] , veio, cobrou, tal, tal, tal. Pronto, acelerei o passo e tirei da frente. O […], companheiro dele […] que o Geddel sempre tava.
Michel Temer: […]
Joesley Batista: Geddel que andava sempre ali. Mas o Geddel também com esse negócio, eu perdi o contato também, porque ele virou investigado. Agora eu não posso também …
Michel Temer: É complicado.
Joesley Batista: Eu não posso encontrar ele.
Michel Temer: […] perigosíssimo.
Joesley Batista: Isso, isso. O negócio dos vazamentos, o telefone lá do […] com o Geddel, volta e meia citava alguma coisa meio tangenciando a nós, eu tô lá me defendendo. O que eu mais ou menos dei conta de fazer até agora? Tô de bem com o Eduardo.
Michel Temer: Tem que manter isso, viu.
Joesley Batista: Todo mês também. Eu tô segurando as pontas, tô indo. […]. Eu tô meio enrolado aqui no processo assim.
Michel Temer: […]
Joesley Batista: Isso, isso. investigado. Eu não tenho ainda denúncia. […] Aqui eu dei conta de um lado com o juiz, dá uma segurada. Do outro lado o juiz substituto, que é o cara que ficou.
Michel Temer: Tá segurando os dois?
Joesley Batista: Tô segurando os dois.
Michel Temer: Ótimo, ótimo.
Joesley Batista: Consegui […] dentro