A decisão do PSDB de permanecer no governo Michel Temer fortalece o presidente em sua batalha para chegar ao fim do mandato, mas pode custar caro aos tucanos na eleição de 2018, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil.
Em reunião nesta segunda-feira (12), o PSDB anunciou que continuará a integrar o governo e a apoiar as reformas defendidas por Temer, contrapondo-se a congressistas da sigla que defendiam uma ruptura. A decisão ocorre três dias após o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) absolver a chapa Dilma Rousseff-Michel Temer de acusações de irregularidades na campanha de 2014.
Desde a divulgação em maio do encontro entre Temer e o empresário Joesley Batista, da JBS, o PSDB dá sinais de que poderia deixar o governo.
Uma ala de congressistas jovens do partido, apelidada de “cabeças pretas”, defende o defecção, avaliando que a permanência seria ruim para a imagem do PSDB e prejudicaria a sigla nas eleições de 2018.
O temor é que o desgaste do presidente acabe contaminando os tucanos e fragilizando o discurso anticorrupção entoado por congressistas do partido.
Mas vários caciques tucanos — entre os quais o governador Geraldo Alckmin (SP) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso — adotam tom mais cauteloso. Eles dizem que um desembarque poderia prejudicar o país, dificultando a aprovação das reformas encampadas por Temer e gerando mais turbulência num momento em que a economia ainda está bastante fragilizada.
Para Sérgio Praça, professor de ciência política da FGV-SP, a saída do PSDB seria péssima para Temer, pois trata-se de “um partido que dá alguma legitimidade ao governo”.
O PSDB tem a terceira maior bancada na Câmara dos Deputados, com 46 dos 513 deputados, e a segunda maior do Senado, com 11 dos 81 senadores.
Se o partido deixasse o governo, Praça diz que alguns deputados poderiam se sentir livres para votar a favor de um eventual pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para que Temer seja processado com base nas delações da JBS.
Para que Temer seja denunciado, são necessários os votos de ao menos 342 dos 513 deputados. Há relatos de que Janot apresentará o pedido nos próximos dias.
Ativos eleitorais
Para Praça, ao decidir permanecer no governo, o PSDB deve ter levado em conta os prejuízos de perder os ministérios que atualmente comanda.
O PSDB chefia os ministérios das Cidades, Relações Exteriores, Secretaria de Governo e Direitos Humanos. Segundo o professor, Cidades e Relações Exteriores são pastas com prestígio, e chefiar a primeira é vantajoso para qualquer partido, já que ela é responsável por vultosos gastos com obras públicas Brasil afora. A importância da pasta cresce ainda mais em vésperas de eleição, diz Praça.
Mas o cientista político lembra que o próprio ministro das Cidades, Bruno Araújo, endossou o movimento pela saída do PSDB do governo.
“Daí se vê como é difícil o cálculo deles entre ficar ou sair do governo.”
Futuro de Aécio
O envolvimento do presidente do PSDB, senador Aécio Neves, na delação da JBS complicou ainda mais a decisão.
Afastado do Senado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) após gravações em que tratou de formas de frear a Operação Lava Jato, Aécio ainda não foi formalmente desligado do cargo — algo que depende dos próprios senadores.
O procurador-geral da República solicitou ao STF a prisão de Aécio, mas teve o pedido negado.
Para Esther Solano, professora de sociologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), é do interesse de Aécio e de seus aliados ter o apoio do PMDB para tentar esticar seu mandato e se proteger da Lava Jato.
O movimento, diz ela, é parte de um esforço maior de “blindagem coletiva da classe política” ameaçada pela operação.
“Há uma tentativa de um grande acordo PSDB-PMDB numa espécie de abraço de afogados, baseada na ideia de que ‘se cairmos, que caiamos juntos'”, afirma Solano.
Para ela, o PSDB decide se permanece ou não no governo de olho na eleição de 2018. “Em termos eleitorais, talvez não valha a pena para o PSDB ter o PMDB como inimigo perto de um pleito tão complicado.”
Caciques peemedebistas têm sinalizado que, em troca do apoio a Temer, o PMDB poderia apoiar uma candidatura tucana em 2018.
Mas a estratégia tem riscos, diz Solano — especialmente se o prefeito de São Paulo, João Dória, for o candidato tucano à Presidência em 2018.
“Dória me parece o candidato que mais teria a perder [com a permanência do PSDB no governo], pois surge com um discurso em prol de uma nova política, de uma ruptura com a política tradicional.”
O próprio Doria, no entanto, tem defendido a continuidade da aliança PSDB-PMDB — mesma posição de seu padrinho político, Geraldo Alckmin.
Fonte: R7