A Justiça Federal embargou a obra de manutenção e preservação da rodovia pelo Departamento de Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit). O termo que era um acordo entre o Dnit e o Ibama e permitia apenas obras para a conservação. O Ibama lançou pedido de embargo e a decisão acata ao pedido do Ministério Público Federal do Amazonas (MPF-AM). A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-AM) disse que vai recorrer da decisão.
A BR-319 é a única estrada que liga Manaus via terrestre aos outros Estados e foi inaugurada em 1976. Tem uma extensão aproximada de 877 quilômetros. O fato é que a rodovia é a única forma de locomoção para os moradores das cidades do sul do Amazonas e, que dependem da BR para escoar alimentos para o mercado amazonense, em épocas de chuva fica intransitável a passagem, deixando vários trechos alagados e consequentemente os moradores ilhados, afetando bruscamente as formas de sustento.
Durante o trajeto Clério Rodrigues de Sousa, morador de Apuí e, Dalton que estava chegando de Manaus, comentaram a situação da BR. Segundo eles, o descaso não pode continuar acontecendo, pois existem pessoas que dependem da BR para sobreviver:
“Espero que os senadores olhem por nós aqui. A estrada já existe, agora é só preciso manter. Nós dependemos dessa estrada para sobreviver, existem famílias que vivem aqui, e que passam todos os dias aqui. Essa pista é importante, pois liga duas capitais. O tambaqui que vem para o Amazonas é de Porto Velho, Manaus é feita de indústrias, a CMM limpou uns buracos, mas se chover vai ficar tudo perdido, se não existir um carinho especial por nós como que fica?”, disse Clério.
Importância para economia de Rondônia e Amazonas
A estrada além importante para a economia dos dois Estados, se faz necessária para os produtores locais, que residem com suas famílias às margens da estrada e, esperam anos para que seja feita alguma melhoria no lugar, como é o caso do Agricultor Rubens Schroeder, que vive na localidade há 26 anos, focado no cultivo, em tempos de chuva ele perde toda a sua produção, pois, não existe acesso em certas partes da BR, sobre as dificuldades que enfrenta ele explica:
“Nós não temos o amparo de poder escoar a nossa produção, aqui se torna inviável produzir alguma coisa devido as condições da BR, quando chega esta época de chuva a estrada fica intransitável e, toda vez que vai começar uma obra começa este processo de embargo, então ficamos aqui isolados, pois não tem como passar nenhum veículo, todos ficamos nesta situação, mora muita gente por aqui, tudo que plantamos aqui, nós colhemos, mas para quê? Se tudo que plantamos não temos como escoar, então vai se perdendo, não temos condições para armazenar, até o mês passado não tinha como andar aqui, está ficando cada vez mais longe a nossa esperança, eles deveriam começar agora, pois, quando chegar dezembro fica impossível, agora é a época para a estrada ser reformada, eu ainda acredito que vou ver aqui asfaltado, mas com tudo isso vamos desanimando, mas precisamos pensar nas nossas crianças, elas também dependem desta estrada, precisam de ônibus para ir ao colégio”, disse o agricultor.
Próximo ao acampamento existe um restaurante, feito para atender aos turistas e trabalhadores que passam pelo local, seu Leocir Ribeiro, conhecido na região como Gaúcho é o proprietário, ele diz que o local é muito movimentado, que a rodovia é o seu principal sustento, e que se a pista fosse reformada melhoraria o seu serviço:
“Nós temos essa terra há 5 anos. Fizemos este restaurante para atender o pessoal que precisa. Muitos turistas passam por aqui, mas esse inverno sofremos muito aqui, estamos esperando as melhorias”, diz.
Duas empresas estavam fazendo a manutenção
O Dnit terceirizou o serviço e duas empresas executavam o serviço de manutenção, a Tescom e CMM. Cada um responsável por um trecho diferente da BR, mas com uma semana de serviços veio o mandato de embargo para parar a obra, os trabalhadores foram dispensados e as máquinas que haviam acabado de chegar estão paradas nos acampamentos.
Alguns pontos foram recuperados como é o caso do trecho que liga Humaitá ao distrito de Realidade. Mesmo em um trabalho primário, é possível notar a melhoria, mas sem continuação da obra a primeira chuva que acometer a estrada desmanchará todos os reparos de recomposição mecanizada de aterro feitos até agora.
vigia de máquinas paradas
Francisco Oceli é apontador de mão de obra, e presta serviços a CMM. Desde sexta-feira ele continua com uma equipe reduzida no acampamento, construído no trecho do Piquiá que é a zona mais crítica da estrada, para vigiar as máquinas paradas. Ele comenta sobre como ficou sabendo do processo de embargo e sobre o sentimento de não poder mais trabalhar: “Já levaram parte do maquinário, a esteira e a outra máquina está esperando para ser removida para Humaitá, existe uma certa frustração, nós já estávamos preparados para trabalhar, os outros trabalhadores deixaram suas famílias nas outras cidades para ‘estar’ aqui, agora não sabemos como vai ser”, disse o apontador.
Fonte:Diário da Amazônia