A Polícia Civil de Ariquemes (RO), no Vale do Jamari, declarou na segunda-feira (4) que está investigando se houve negligência do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) no atendimento da adolescente grávida de 16 anos, morta por um disparo de arma de fogo na frente de uma boate. Segundo a família, a equipe de socorro não prestou o atendimento de forma correta à jovem, que próxima do 8° mês de gestação, o que contribuiu com que o bebê também viesse a óbito.
Conforme o diretor clínico do Samu, Dr. Bruno Brasil, a equipe médica constatou que a jovem estava em óbito no local, mas eles não foram informados no momento do atendimento de socorro que a adolescente atingida pelo disparo de arma de fogo estava grávida.
“Foi constatado que a adolescente estava em óbito, mas a princípio ninguém informou a equipe médica que ela estava grávida, tanto na solicitação via telefone quanto no local. A equipe médica em uma avaliação que temos como protocolo, conseguiu visualizar que ela estava grávida, mas de forma alguma se havia certeza, era apenas uma presunção por conta do volume abdominal, mas não houve a informação de que ela estava gestante”, afirma.
Por estar em um cenário com múltiplas vítimas, sendo quatro pessoas possivelmente atingidas pelos disparos e uma pessoa desacordada, ao perceber que a jovem estava em óbito, os profissionais realizaram o atendimento das outras vítimas.
“Em um caso de múltiplas vítima e com uma delas desacordada, o atendimento foi correto, por enquanto não vejo nada que desabone as equipes ou que tenha ocorrido algum erro ou falha, não houve negligência de forma alguma”, destaca Bruno Brasil.
Para o comandante do Corpo de Bombeiros de Ariquemes, Klivton Reis, o protocolo utilizado pela equipe médica do Samu foi a correta, na qual é analisado quais as vítimas podem ser salvas. Como foi evidenciado que a adolescente estava em óbito, tinha que ser dado prioridade para os outros feridos.
“A equipe dos bombeiros foi acionada posteriormente a do Samu e no local foi encontrada uma grande comoção das pessoas presentes, eles insistiram para que levasse a adolescente ao hospital e ela foi encaminhada à unidade hospitalar”, relata o comandante.
O marido da vítima, Ademias Bastos, de 20 anos, contou que entre o atendimento do Samu e a chegada dos bombeiros se passaram 15 minutos, o que foi um fator crucial para que a esposa e a criança na barriga da esposa não resistissem.
“Se eles tivessem levado ela imediatamente ao hospital, daria tempo de salvar ao menos o nosso filho. Eu rasguei a roupa dela no local e era visível que ela estava grávida, aí o Samu chegou e iluminou o rosto dela e disse que estava morta, eu chamei eles de volta, mas saíram do local. Quando os bombeiros chegaram, eu senti a última batida do coração dela e comecei a entrar em desespero, só depois a levaram para o hospital”, conta o auxiliar de serviços gerais.
De acordo com o delegado regional Rodrigo Duarte, a denúncia de negligência por parte dos familiares da vítima de que o atendimento da equipe do Samu não foi correto não está descartada, mas as informações foram recebidas com reservas.
“A família cobrou o atendimento e disse que a vítima respirava, mas o médico possui uma resposta técnica para isso. Nós temos que ver se de fato havia vida, porque depois os bombeiros foram socorrê-la, e a questão do feto que precisa ser avaliada. Então todas essas questões serão melhores esmiuçados para que possamos identificar se houve negligência no atendimento da vítima e no socorro do bebê”, detalha o delegado.
Inquérito policial
Segundo o delegado regional o inquérito está sendo investigado como homicídio doloso, porém o policial militar que realizava a segurança do evento não tinha a intenção de assassinar a vítima, mas assumiu o risco de atingir alguém ao efetuar os disparos na frente da boate.
“Não temos ainda totalmente o contexto para saber o por quê do segundo disparo, mas a intenção direta ficou evidente nas oitivas preliminares que ele não teve. A segunda possibilidade que se abre em relação ao homicídio doloso, é quando a pessoa que efetua o disparo, muito embora não tenha a intenção direta em atingir a pessoa, assume o risco com o seu comportamento e é com base nessa tese que o delegado plantonista procedeu ao enquadramento típico”, comenta.
A Polícia Civil entendeu que em um ambiente com diversas pessoas brigando, a utilização de uma arma de fogo por um policial, que possui treinamento, se presume que ele agiu assumindo o risco de acertar alguém.
Conforme Rodrigo Duarte, o militar foi conduzido ao Centro de Correição da PM e a polícia agora trabalha com um prazo de 10 dias para esclarecer de fato como ocorreu o crime. “A Polícia Civil agora tem a difícil missão de esclarecer todas as questões e apresentar o inquérito da forma mais completa ao Ministério Público para que eles decidam quem processar e pelo o que”, ressalta.
Fonte: G1rondonia