Ultrapassar barreiras e conquistar novos caminhos, essa é a forma que o jovem Alex Marques encara a vida após iniciar no esporte. O atleta é o primeiro fisiculturista amputado de Rondônia a participar de uma competição no estado. Além de estrear a categoria especial, Alex levou o trofeú e se prepara para novas disputas.
Depois de um acidente que causou a amputação da perna esquerda, Alex procurou uma academia para melhorar a resistência e força com ajuda da musculação. Com o esporte, encontrou uma nova paixão e estímulo para ultrapassar limites, além de uma forma de superar o próprio preconceito.
– No começo de 2016 entrei na academia para passar o tempo, buscar algumas melhorias em meu corpo e condicionamento, afinal, precisava fortalecer meus musculos para conseguir seguir normalmente meu dia a dia. Foi quando percebi que a rotina de treino estava me fazendo bem, além de me estimular a diariamente buscar novos desafios. Conheci meu treinador e senti vontade de conhecer mais a fundo do fisiculturismo. Para mostrar para mim mesmo que sou capaz, passei a focar nas competições.
Alex perdeu a perna aos 14 anos, após o desabamento de um muro. O atleta explica que depois da recuperação começou a usar a perna mecânica, e por vezes sentiu vergonha de mostrar para as pessoas. A fase da aceitação foi mais drástica que o acidente, de acordo com o atleta. O fisiculturista afirma que a recuperação é diária e deve ao esporte a força para seguir rompendo o preconceito.
– Tinha vergonha das pessoas, não queria me aceitar, foi mais traumático a adaptação após o acidente do que o fato em si. Fiquei internado fora de Rondônia, mas devido a hemorragia não foi possível nenhum tratamento, apenas a amputação. O processo de autoaceitação foi lento, mas posso dizer que pelo esporte venci mais essa barreira, me recupero a cada dia, me renovo a cada treino e supero meus limites do corpo e da mente.
Com perna amputada, atleta de RO perde 42kg e supera o preconceito
Sem mostrar as pernas em público desde o acidente, o atleta conta que passou a usar short apenas um mês antes da competição. Alex diz que a parte mais difícil antes da apresentação foi usar sunga, pois evitava até de se olhar no espelho após o acidente.
– Não usava short desde que perdi minha perna, não era preconceito, apenas medo de como as pessoas passariam a me olhar e um mês antes de competir passei a usar nos treinos, depois usei em casa e agora não tenho mais problema algum. Tenho me reconhecido após cada limite superado. Evitava me olhar no espelho, pois tinha medo do que iria sentir, pensando que as pessoas me olhariam de forma diferente e não quero isso.
A primeira competição de Alex foi em maio deste ano, mas novos desafios já são estudados pelo atleta que afirma que ser mais um representante do estado é de suma importância. O fisiculturista diz que seu objetivo é representar Rondônia em competições nacionais.
– Hoje tenho um estímulo ainda maior para seguir, me reconheço e me orgulho do que vejo, são barreiras quebradas, quando vou treinar as poses por exemplo, percebo que tenho evoluído e sei que a minha história motivará muita gente. Vou superando cada limite, cada obstáculo com a cabeça focada sempre em evoluir. Meu legado é mostrar que a força independe da condição e quebrar as barreiras que eu mesmo impus para mim e tenho obtido sucesso nisso. Creio que nas próximas competições, representando meu estado, terei ainda mais histórias para me orgulhar.
Alex treina de segunda a sábado, em média duas horas por dia, para o próximo campeonato que está marcado para 16 de dezembro. O 3º Campeonato de Fisiculturismo Rondoniense, conforme o atleta será a segunda oportunidade de romper suas barreiras físicas e mentais.
– Hoje meu trabalho não é apenas físico, minha mente me leva muito além, só o fato de parar após um treino e perceber que o que no passado para mim era impossível e agora estou realizando é uma sensação indescritível. Espero que um dia possa inspirar aquelas pessoas que arrumam qualquer motivo para ficar em casa, em uma vida sedentária, pois o que nos faz vencedor é apenas o querer ser.
Emocionado Alex Marques destaca a importância da inclusão no esporte e afirma que por meio das atividades físicas algumas barreiras estão sendo quebradas e declara que uma nova geração deve surgir.
– Acredito que estamos em uma era nova, aqueles que antigamente não tinham vez estão mostrando a força e o esporte é uma grande ponte. Esse número de atletas ainda crescerá. Nós, que somos tidos como diferentes na sociedade, não precisamos de pena, apenas de respeito, pois temos sonhos a serem construídos e muita força para correr atrás deles. É dessa forma que hoje me reconheço e isso só foi possível pois respirei fundo e decidi me levantar, deixando para trás as coisas que me prendiam naquele acidente.
Fonte: Globoesporte.com