Antes de existir na vida social do Santos FC, o Bloco “Flor do Ambiente”, já existiam no clube, os grupos carnavalescos de nomes: “Celeste Aída”, “Grêmio Alvinegro” e o grupo de patuscos “Viúvas do soldado desconhecido”. Todos eram compostos por sócios, simpatizantes e jogadores santistas. O “Flor do Ambiente” foi fundado em 1928. São seus fundadores: Aloísio Boa morte, Álvaro Morgado, Antônio Bento de Amorim Filho, Alfredo Bompeixe, Luiz Vieira de Carvalho, Urbano Caldeira, Mário Sardinha, Feliciano Firmo Ferreira (Javali), Anacleto da Conceição, Artur Martins (Tutu), Antoninho Freitas Guimarães e Hermann Palmeira Martins.
No Carnaval do ano de sua fundação, o Bloco se exibiu com muita desenvoltura e organização nas ruas do centro histórico de Santos e foi aplaudidíssimo não só pelas autoridades presentes ao desfile, como também pelos diretores e associados do Peixe. O “Flor do Ambiente” deixou de existir com a morte do seu sócio fundador Urbano Caldeira, que era conhecido no tríduo momístico com “Lorde Urbanidade” no ano de 1933.
Um dos foliões que mais amava o bloco era Luiz Marciano Vieira de Carvalho, conhecido no grupo como “Lulu carioca” um dos idealizadores do “Banho da dona Doroteia”, em 1923 e foi ele quem relatou que: “Em 1927, o “Flor do Ambiente”, desfilou com apenas 12 integrantes, e com modesta fantasia de empregada: vestido preto e avental branco, mas, a partir de 1928, e, até 1932, não só o número de participantes passou a ser maior, até 22 – limite permitido, embora fossem muitos os pretendentes – como os uniformes ou fantasias passaram a ser melhores. Isso sem nos custar quase nada porque, às vésperas dos Carnavais, alguns de nós (e eu fui um deles), procurávamos os representantes da Brahma ou da Antártica e aquele que nos oferecesse mais para ajudar nas despesas, tinha de nós o compromisso de só consumirmos seus produtos, o que sempre cumpríamos, só frequentando os estabelecimentos que fornecessem as cervejas e os refrigerantes da marca vencedora da “concorrência”.
No Carnaval de 1928, o “Flor do Ambiente” se apresentou com 22 integrantes, e, tal e qual o “Bola Preta”, com bonitos macacões brancos, contendo ao peito, o escudo do Santos. Saímos com 6 violões, 1 banjo, 1 cavaquinho, 1 trombone de vara e instrumentos de percussão. Foi também nesse ano que estreamos nosso novo estandarte, pintado por Máximo Azevedo Marques; era sem dúvida, uma linda obra de arte criticada por alguns puritanos porque apresentava uma bela mulher envolta por um simples véu, com um pandeiro na mão. Se fosse hoje, talvez achassem que o véu era demais…
Nosso repertório de sambas e marchas estava sempre em dia, com as músicas que apareciam antes de cada Carnaval. Só um pequeno número de compositores tinha suas músicas em discos, não existia o rádio. O remédio era, como eu fazia, procurar gravar na memória boas composições carnavalescas nos teatros e revistas e rodas de samba no Rio, como as de Vila Isabel, no Morro dos Macacos e perto da rua Torres Homem. Dessas rodas de samba participavam alguns malandros e ás vezes, as reuniões eram em locais escondidos, por causa da Polícia, como em certa vez, em que o encontro foi à noite, num capinzal e no escuro, todos estavam sentados no chão, e aí em voz, baixa, um ou outro “soletrava”, como se dizia nessas rodas, o que sabia ou compusera. As letras não eram às vezes boas, mas quanta coisa bonita se ouvia. Eram músicas simples, de inspiração espontânea. Uns versos que ouvi, não no Rio, mas numa festa do Monte Serrat, demonstram a intervenção da Polícia nas rodas de samba: “Eu tava na roda do samba quando a Polícia chegou, vamos pará com essa samba que seu Delegado mandou”.
Além das músicas, tínhamos também o que chamávamos de “saudações”, a exemplo dos “Coros Kraneanos” do São Cristóvão do Rio, clube com que o Santos mantinha laços de fraternidade. Dizia-se que quem era sócio de um dos clubes, era considerado como também do outro. Esses “Coros Kraneanos”, eram muito interessantes e um de seus integrantes de mais evidência era um Almeida Rego. Uma das tais “saudações”, que nós do “Flor do Ambiente” também cantávamos, dizia: “Caracol ia subir numa folha de repolho; no caminho ia a pensar pra poder entrar no olho”. Ao que eu acrescentei o coro: “Papafi, o fiodó”. Usávamos essas “saudações” para quando chegávamos a alguma festa, ou em clubes, como no fechado “Clube Quinze”, que ficava na rua Sete de Setembro, esquina da Conselheiro Nébias, e onde eramos recebidos com palmas. Cantávamos coisas lindas como essa: “Vem! Vem! Que eu dou tudo a você, menos vaidade, tenho vontade, mas é que não pode ser”.
Relação dos principais participantes do bloco:
Urbano Caldeira, Nabor, Paulo Fernandes, Antônio Sá, (Pipoca), Araken Patusca, Siriri, Tutu Martins, Sardinha, Oscar do Trombone, Aloysio Boa Morte, Beicinho, Anacleto, Fifi, Juca do Violão, Renato Pimenta, Amorim, Filé do Banjo, Maninho, Filhinho, Juca, Javali, Chico Tico-Tico, Cepo, Jarbas, Antoninho Freitas Guimarães e Lulu Carioca.
Guilherme Guarche – Coordenador do Centro de Memória e Estatística