O presidente Jair Bolsonaro (PSL) procurou o chefe da estatal Petrobras, Roberto Castello Branco, para criticar o aumento que havia sido anunciado para o diesel. Após o contato, a petroleira recuou e adiou o aumento, o que foi encarado pelo mercado como uma ação intervencionista do governo. Como consequência, as ações da companhia caíram 7% nesta sexta-feira (12/4).
“Não sou economista, já falei que não entendia de economia, quem entendia afundou o Brasil, tá certo? Estou preocupado também com o transporte de cargas no Brasil, com os caminhoneiros. São pessoas que realmente movimentam as riquezas, de norte a sul, leste a oeste e que tem que ser tratados com devido carinho e consideração. Nós queremos um preço justo para o óleo diesel”, disse o presidente em viagem a Macapá.
Na capital do Amapá, onde participou da inauguração de um aeroporto, nesta sexta-feira, Bolsonaro confirmou que entrou em contato com Castello Branco, mas afirmou que não vai ser “intervencionista”. O presidente disse que se surpreendeu o com o aumento anunciado pela estatal, de 5,7%.
Ele afirmou que não vai praticar a política de preços do passado e que quer ver os números da petroleira. “Na terça, vou me reunir com todos da Petrobras para esclarecer por que 5,7%, quando a inflação projetada para este ano está abaixo de 5%”, disse. “Se me convencerem, tudo bem, senão me convencerem vamos dar a resposta adequada a vocês.”
O presidente ressaltou que está preocupado com o transporte de carga e com os caminhoneiros. “São pessoas que realmente movimentam riquezas. Queremos um preço justo para o óleo diesel.”
As ações da Petrobras, que já haviam começado o dia em queda na Bolsa de São Paulo e em Nova York, aceleraram a tendência negativa após as declarações de Bolsonaro. As ações ON caem 7,19%, mas chegaram a perder 7,50%. Já os papéis PN recuam 6,86%. Pouco antes das declarações feitas em Macapá, as ações perdiam cerca de 5%.
Mourão
Pela manhã, o vice, Hamilton Mourão, afirmou, em entrevista à CBN, que a determinação de Bolsonaro para a Petrobras recuar do reajuste no diesel foi um caso “isolado”. Também disse crer em bom senso e que não se repetirá a política de preços adotada do governo Dilma Rousseff (PT), que segurou os preços dos combustíveis para manter a inflação dentro da meta.
Pressão dos caminhoneiros
O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência monitora atentamente as movimentações de caminhoneiros em direção a uma nova greve desde o mês passado. O governo quer evitar o início de uma greve com receio de que tome as mesmas proporções da que ocorreu no ano passado, quando a paralisação durou 11 dias. O estopim, na época, foi justamente as altas do preço do diesel.
A avaliação de um integrante do governo é de que os caminhoneiros “conheceram a sua força” na última greve e que agora possuem maior poder de negociação.
Na manhã desta sexta, um dos principais líderes dos caminhoneiros, Wallace Landim, o Chorão, creditou ao presidente Bolsonaro e a ministros palacianos o recuo da Petrobras sobre o aumento do diesel, na noite desta quinta-feira. “Isso prova que mais uma vez o presidente está do nosso lado, ao lado da categoria. É um comprometimento que ele teve com a categoria e que a gente teve apoiando a sua candidatura.”
Ele afirmou que os ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e da Secretaria-Geral, Floriano Peixoto, foram os responsáveis por levar o “problema” do aumento de preços para Bolsonaro na quinta. “Eu preciso agradecer num primeiro momento o ministro Onyx (Lorenzoni, da Casa Civil) e o ministro Floriano Peixoto (da Secretaria-Geral), que levaram o problema (do aumento de preços) para o nosso presidente”, contou ao Broadcast Político.
“A gente fica muito feliz, porque vê que ele (Bolsonaro) está olhando por nós. Só que a gente também sabe que não é uma situação muito fácil, vem chumbo grosso por aí, pode ter certeza, porque querendo ou não interfere na política de preços (da Petrobras)”, declarou.
Mal-estar
O conselho de administração da Petrobras recebeu mal a notícia de que a empresa voltou atrás na decisão de reajustar o preço do diesel, segundo fonte.
Aos conselheiros, Castello Branco tentou passar mensagem de segurança, de que não está fugindo à linha de gestão que prometeu adotar – de independência e prioridade ao retorno dos investimentos.
Em resposta aos questionamentos de membros do colegiado, disse que se explicará pessoalmente na próxima reunião do conselho, marcada para o dia 24 deste mês.
Esta é a segunda vez em poucos dias que membros do colegiado demonstram insatisfação com decisões tomadas pela diretoria. A primeira foi com o tamanho do crédito acertado com a União pela cessão onerosa. O valor de cerca de US$ 9 bilhões foi considerado baixo por alguns deles. Fonte:
ESTADÃO CONTEÚDO