Maria Antonia é a primeira de uma geração de lavradores que hoje sonha em ser professora.Foto-Handson Chagas
Os avós são lavradores, o pai é borracheiro, mas Maria Antonia Alves, 13 anos, quer ser professora. E logo da matéria mais difícil: Matemática. As notas são “mais ou menos”, segundo ela, mas a vontade de aprender é grande.
Grande também é a distância para chegar à primeira Escola Digna do Maranhão, onde Maria Antonia terminou o Ensino Fundamental, e agora estudam três de seus seis irmãos. De São Luís para Fortaleza dos Nogueiras, Sul do Maranhão, são 12 horas de viagem. Mais uma hora até chegar ao povoado Muriçoca, zona rural do município.
Quando tudo é longe, é fácil ser esquecido. Era como as 50 famílias da comunidade viviam, incluída a família Alves, e suas várias gerações de agricultores. A escola anterior, um barracão com duas salas apertadas, inundava quando chovia. A sala menor, de 4 por 2 metros, mal acomodava a turma de 20 alunos.
“As carteiras ficavam umas topadas nas outras”, conta o professor Leandro Brito da Silva, que também é diretor da escola, e acompanhou a construção do novo prédio desde o primeiro tijolo, até a entrega, em julho de 2016.
Maria Antonia e os irmãos na primeira Escola Digna do estado
Com a nova estrutura, o aperto passou. Tanto que foi possível formar mais uma turma, e acolher alunos de povoados vizinhos, como Butiquim e Ponta da Serra. A UE Pedro Álvares Cabral virou referência.
“Faço de tudo para manter a escola conservada, e a comunidade ajuda muito”, diz Leandro. O carinho pela Escola Digna é unânime: alunos, pais e professores, todos agradecem. “Até os ex-alunos, quando voltam para a escola por causa de algum evento, ajudam a cuidar”, afirma. Crianças como Maria Antonia, que por meio da educação, projetam uma vida diferente dos pais e avós.
“Agora, meus netos têm futuro”, diz o lavrador Ananias Alves da Silva, 67 anos, avô de Maria Antonia. Ele não teve estudo. A esposa Josefa Alves, 68 anos, estudou pouco, já adolescente, quando teve acesso a uma escola pública. “Sei assinar meu nome, mas meus netos vão saber mais, vão ter emprego”, diz.
Professor, diretor de escola, advogado. São as profissões que o pai José Henrique da Silva Alves, 40 anos, imagina para Maria Antonia e os demais filhos, depois da Escola Digna. “Aonde eu não cheguei, eles vão chegar”, sentencia.
Motivo de orgulho
Com a chegada da Escola Digna, Muriçoca deixou de ser um povoado ignorado para virar a menina dos olhos da cidade. “Hoje acontece de a gente estar em sala de aula e chegar pessoas para visitar a escola. E o que a gente mais escuta é que a escola é linda”, diz o professor Leandro.
Para ele, não tinha outro lugar melhor para receber a primeira Escola Digna. “Afirmo, com certeza, que essa escola está no lugar certo. Nossos alunos eram estigmatizados, porque não conseguiam aprender nem a escrever. Após três anos, o rendimento deles é outro”, diz.
Maria Antonia, que se espelha em Leandro, e sonha em ser professora, concorda. Depois da escola, tudo mudou. “Mudou várias coisas. Eu aprendi muita coisa que eu não sabia, o professor me ensinou e eu estou bem melhor”. Lembra da entrega do prédio: “Tive vontade de chorar quando vi a escola já feita”.
O choro de alegria virou esperança. Carlos Henrique, 10 anos, Maurício, 9 anos, e Maria Julia, 4 anos, irmãos de Maria Antonia e novos alunos da Escola Digna, podem sonhar, como ela, com um mundo novo, cheio de outras possibilidades além de lavrar a terra.
A UE Pedro Álvares Cabral é a primeira das 850 Escolas Dignas que o Governo do Maranhão já construiu, reconstruiu ou reformou, em três anos de investimentos em prol do Ensino Público do estado.
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