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Quem vê a voz baixa e a fala mansa da empreendedora Iodete Matos, não imagina a força desta roraimense, que, juntamente com outros empresários, batalha para promover o desenvolvimento da Serra do Tepequém, aliando o turismo à preservação ambiental. A região, que fica a 210km de Boa Vista (RR), foi visitada pela Expedição #AquiTemSebrae, que desde outubro de 2018 tem percorrido o Brasil, mostrando histórias inspiradoras de empreendedores.
Iodete nasceu no Tepequém, se mudou com a família para Boa Vista aos 8 anos e conta que sempre pensou em montar um negócio. O sonho começou a se tornar realidade em 2007, quando ela e o marido, Quildo Melo, compraram um terreno na entrada da Vila, construíram 5 apartamentos e um pequeno restaurante. Ao batizar o empreendimento, a Pousada PSJ, o casal homenageou os filhos Pablo, Saymon e João Victor.
O empreendimento, que tem gestão familiar, hoje conta com 20 quartos e tem mais do que o dobro de leitos de quando foi inaugurado. Segundo ela, a falta de regularização das terras, a distância e as dificuldades na compra de insumos e contratação de pessoal são os principais obstáculos para o negócio. “Tem os desafios, dá trabalho, mas estou muito feliz com o que eu escolhi para fazer, é muito gratificante. Sempre digo aos meus filhos que há muitas formas de trabalhar, sem ser no serviço público”, afirma.
Apesar das dificuldades dos empreendedores da Vila do Tepequém, Iodete afirma que a força de vontade faz com que eles não desistam. O próximo passo dela é integrar a pousada ao turismo rural. Ela está estruturando um sítio no terreno, com criação de peixes, galinhas e várias árvores frutíferas, permitindo uma maior integração do turista com a natureza. “Pra mim, os grandes tesouros do Tepequém são as suas belezas naturais. O verdadeiro diamante de nossa região é o potencial turístico que nós temos e que batalhamos diariamente para preservar”, ressalta a empresária.
Foco no desenvolvimento
A Associação de Empreendedores em Turismo do Tepequém (Assett) reúne 25 membros. Por meio de um projeto focado no Turismo, o Sebrae em Roraima promove capacitações técnicas e gerenciais; consultorias em gestão financeira, planejamento estratégico, atendimento ao cliente e manipulação de alimentos; além da promoção de ações de inovação e sustentabilidade e a participação dos empresários em missões a eventos nacionais e/ou destinos de referência no Brasil.
De acordo com o gestor do projeto, Josué Costa, a formalização da associação fortalece os empreendedores e amplia as perspectivas para a promoção do destino. “Foi uma iniciativa dos empresários e este é um fator muito positivo. A profissionalização do turismo nesta região passa pela liderança desta associação. Por meio do projeto, buscamos contribuir com a melhoria da gestão dos empreendimentos e promover a região, com ações integradas para a realização de eventos que atraiam visitantes e a comunidade, a exemplo dos eventos do calendário anual da região: Uphill Tepequém, Festival de Inverno, Festival de Jazz e os Festejos Juninos”, conta ele.
História e natureza
Durante mais de seis décadas, a região da Serra do Tepequém foi explorada pelo garimpo de ouro e diamantes, com todas as questões sociais e ambientais que estão associadas à exploração irregular de minérios. A mineração com máquinas foi proibida pelo governo federal em 1996, enquanto a manual ainda persiste aqui e ali, mas não em volume, como era na década de 30, quando teve início do garimpo. O movimento começou quando fazendeiros da região descobriram a riqueza em cima da serra (em formato de mesa, de difícil acesso), que era avistada das propriedades, a partir das grandes áreas planas, chamadas na região de lavrado. Diamantários belgas compraram a área do garimpo em 1953, onde permaneceram por quatro anos. Depois que foram embora, a serra foi dividida em vários pequenos garimpos e ninguém sabe, ao certo, a quantidade de diamante que saiu do Tepequém.
Quem conta esta história, com riqueza de detalhes, é o agrônomo, pesquisador e empreendedor Francisco Joaci de Freitas Luz, vice-presidente da Assett. Ele ressalta que, depois do fim do garimpo, a comunidade passou a considerar o turismo como uma possibilidade de desenvolvimento econômico para a região. “Isto começou a aparecer como uma alternativa, quando os espaços de beleza natural começaram a se descortinar como uma oportunidade para o turismo ecológico. Então, a comunidade se mobilizou para que o governo construísse a estrada, o Sesc fez um hotel na subida da serra, pousadas e restaurantes começaram a se estabelecer na vila e o movimento começou a aumentar. E agora, com a crise na Venezuela, os turistas que antes iam para lá, começaram a descobrir o Tepequém”, diz ele.
Joaci encarava o turismo como um projeto de aposentaria, mas hoje ele vê como uma segunda chance, de ter um novo trabalho na vida. “O Tepequém é um lugar muito especial, porque no raio de apenas sete quilômetros você encontra diversos atrativos, como cavernas, lagos naturais, paredões pra escalada, cachoeiras, corredeiras, orquídeas, pássaros. Pra mim, o projeto da pousada e do barzinho representa a possibilidade de envelhecer falando de coisas boas, em vez de falar sobre doenças, hospital, remédios e dificuldades. Sem fugir da realidade da vida, queremos estar mais em contato com a natureza e vivenciar bons momentos”, conta ele.
Foi assim que ele decidiu começar seu empreendimento, o Platô do Tepequém, em 2012. O bar (Platô 2112)foi o primeiro a ficar pronto, depois a pizzaria, em 2014, e por último, a pousada, em 2015. A ideia principal da pousada era ser um espaço que interagisse com a natureza. As árvores, a grama, as pedras são todas do Tepequém. Para ter um aspecto mais urbano, o barzinho integra a pousada com a Vila. “O barzinho é um centro cultural, onde trabalhamos fortemente cultura regional, por meio da música, das artes plásticas e da literatura”, afirmou Joaci. Hoje, a pousada conta com quatro chalés, 2 iglus e uma área de camping.
Joaci sempre contou com o apoio do Sebrae. Ele participa do projeto de Turismo, coordenado pelo Sebrae em Roraima. “É muito importante, tenho aprendido muito sobre o que é o turismo como empreendedor e não como turista. E estamos desenvolvendo o projeto Tepequém é Mais, que envolve diversos órgãos e tem como foco promover o desenvolvimento sustentável, com a melhoria da infraestrutura, o aperfeiçoamento dos estabelecimentos e a promoção do destino”, ressalta. Sua esposa, Shâmara Saraiva, também empreende no Tepequém, falicitando o contato dos hóspedes e visitantes com as belezas naturais da região. Ela é guia de turismo e disponibiliza vários passeios para as cachoeiras e trilhas.
Aventura
Hélio Zanona, estabelecido na capital, Boa Vista, é também um empreendedor que tem forte ligação com a região. Ele e o sócio, Francisco Diniz de Oliveira, estão a frente da Makunaima Expedições, que oferece, entre outros roteiros, a possibilidade de subir a serra correndo. Isso mesmo, correndo. Eles coordenam a Tepequém Uphill, uma prova realizada na estrada que dá acesso à Serra do Tepequém. A corrida tem um percurso único de 10Km e começou a ser realizada em 2017. Na edição deste ano, que será em setembro, devem participar 400 competidores.
No começo, a Makunaima era voltada para atender o público local. “Percebemos que tinha uma demanda de pessoas do estado querendo conhecer e não tinha opções. A gente resolveu oferecer Serra do Tepequém, Serra Grande, Monte Roraima, enfim, atrativos de todas as regiões do estado”, relembrou. Em 2010, com a crise econômica, eles sofreram com uma queda nas vendas e para remediar, decidiram divulgar Roraima para o público de outros estados. Foi nesse momento também que começaram a participar dos projetos do Sebrae, consultorias e eventos do segmento.
Uma jornada pelo Brasil
A Expedição #AquiTemSebrae, que começou em outubro de 2018, tem percorrido municípios das cinco regiões do Brasil. São contadas histórias de perseverança e dedicação, que mostram como o empreendedorismo transforma vidas, famílias, comunidades e cidades inteiras, de norte a sul do País. Antes da região do Tepequém, em Roraima, visitamos Esperantina (PI), Olhos D`Água (GO), Cachoeira do Arari (PA), Campinas (SP), Brusque (SC), Águas Claras (DF), Cruzeiro do Sul (AC), Cascavel (CE), Serra (ES) e Petrolina (PE). Nossos próximos destinos, em agosto, serão Minas Gerais e Alagoas.
Em Roraima, tem Sebrae
O Estado de Roraima conta com 20.481 pequenos negócios formalizados, sendo 11.354 microempreendedores individuais e 7.118 microempresas e 2.009 empresas de pequeno porte. Em 2018, o Sebrae atendeu a 6.696 pequenos negócios no Estado.
O Sebrae e os pequenos negócios
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) promove a competitividade e o desenvolvimento sustentável dos empreendimentos de micro e pequeno porte. Em 2019, a instituição completa 47 anos de atividades com foco no fortalecimento do empreendedorismo e na melhoria do ambiente de negócios para as micro e pequenas empresas, por meio de programas de capacitação e parcerias com os setores público e privado para promover acesso ao crédito, à inovação e a novos mercados.
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