DownloadDivulgação/Secretaria de Agricultura e Abastecimento
Fruto de integração do trabalho de extensionistas da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, que atuam na Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) Regional Piracicaba, pesquisadores da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP) e produtores rurais da região investigam as questões relacionadas à virose do maracujá. A iniciativa está em fase de implementação em uma área total de três hectares.
Com recursos de mais de R$ 180 mil, aprovados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o projeto, com foco em sanidade na fruticultura, intitulado “Roguing para o manejo do endurecimento dos frutos do maracujazeiro”, é implementado em escala comercial na região de Piracicaba.
Segundo Gustavo Ferraz de Arruda Vieira, diretor da CDRS Regional Piracicaba, a finalidade é realizar um trabalho de pesquisa de campo sobre a virose do maracujá, doença disseminada em todas as áreas de produção no Brasil e que causa grandes danos na produção e produtividade, com consequentes prejuízos econômicos aos fruticultores.
“Identificamos a presença da doença em nossa região, mas temos a dimensão do seu impacto no Estado. Em um trabalho integrado com a pesquisa da Esalq e três produtores que entenderam a importância do projeto e disponibilizaram áreas de um hectare cada, estamos em fase de instalação dos pomares (somente um dos produtores cultiva maracujá) para iniciar as pesquisas”, salienta Gustavo, que, ao lado dos engenheiros agrônomos Décio Leite e Ricardo Paterniani, os quais atuam respectivamente nas Casas da Agricultura de Rafard e Charqueada, conduz o projeto pela extensão rural, com apoio do produtor e engenheiro agrônomo da Prefeitura de Rafard, André Luiz Quagliato.
Controle
Décio Leite, que teve a iniciativa do projeto com foco no controle da virose, explica a importância da iniciativa. “Com a virose disseminada, ocorre uma redução da vida útil dos pomares, de 36 para cerca de 18 meses de produção. Sendo assim, com ações de controle e erradicação das plantas contaminadas, balizadas pela pesquisa, a tendência é tentar mudar esse cenário de forma positiva para os produtores”, pontua.
De acordo com o professor Jorge Alberto Marques Rezende, do Departamento de Fitopatologia e Nematologia da Esalq-USP, coordenador da pesquisa, e com apoio do pós-graduando Gabriel Madoglio Favara, o objetivo do trabalho é validar a estratégia da erradicação sistemática de plantas doentes (roguing), por meio de inspeções semanais, como forma eficiente e duradoura de manejo da doença no campo. “Por ser um projeto de aplicação prática, essa parceria entre a pesquisa, a extensão e o produtor rural é condição ímpar para sua execução”, afirma.
Segundo o docente, a pesquisa tem previsão de conclusão em cerca de três anos. “Em dois plantios, as plantas serão individualizadas nas espaldeiras e as infectadas serão imediatamente erradicadas e substituídas por mudas sadias. No terceiro plantio, conduzido sem individualização e erradicação de plantas doentes, será feito o controle. A produção quantitativa e qualitativa será avaliada e comparada. Ao final do segundo ano, nosso objetivo é realizar um Dia de Campo para divulgação dos resultados aos produtores de maracujá”, salienta, dizendo que o cronograma já está estabelecido.
“Estamos na fase de produção das mudas da variedade Gigante Amarelo em estufa plástica protegida contra insetos. Em setembro, elas serão transplantadas no campo e conduzidas no sistema tradicional em espaldeiras de um fio de arame. Em duas propriedades será adotado o monitoramento semanal, para manter as plantas individualizadas e as plantas doentes serão erradicadas. Na terceira propriedade será realizado o plantio convencional anual, sem a erradicação de plantas doentes como forma de controle, para a comparação da produção”, diz Jorge.
Plantios
Os plantios serão realizados nas cidades de Santa Bárbara D’Oeste, Rafard e Capivari. Um dos produtores envolvidos é João Rodrigues de Oliveira Neto, que se mostra feliz em participar. “Planto maracujá há muitos anos, antes na região de Marília e agora aqui em Santa Bárbara. Hoje, um dos maiores entraves, que limita a produção, é a virose, pois quando ela ataca, os frutos ficam duros e fica inviável a comercialização”, diz.
“Geralmente, perdemos a roça, pois não há produto para contornar a situação. Participar desse projeto será um grande ganho; aprenderemos muito e trocaremos experiências. A expectativa pelos resultados é muito boa, para que possamos continuar produzindo em quantidade e com qualidade. Além disso, com a proximidade dos técnicos, outros problemas ou questões que forem surgindo relacionados à cultura podemos solucionar juntos e mais rápido”, avalia.
Virose do maracujá
O Brasil cultiva maracujazeiro praticamente em toda a sua extensão territorial e a doença predominante em quase todas as regiões produtoras é denominada endurecimento dos frutos, causada pelo potyvirusCowpeaaphid-borne mosaicvirus (CABMV), disseminado principalmente por afídeos.
“Esse vírus induz sintomas em maracujazeiro que se caracterizam pela presença de mosaico, bolhas e deformação foliar, além de provocar o endurecimento e a redução no tamanho de alguns frutos, tornando-os inviáveis para a comercialização” explica o professor Jorge, que destaca a dificuldade no combate.
“O controle do endurecimento dos frutos é difícil, sobretudo porque as espécies de Passiflora exploradas comercialmente não são resistentes ao vírus ou tolerantes à doença. Acrescenta-se que o controle químico do inseto vetor (pulgões) não é eficiente. As alternativas de manejo hoje disponíveis geralmente são insuficientes e apenas diminuem parcialmente os danos provocados pelo CABMV em maracujazeiro”, enfatiza o docente.
Em São Paulo, estudos quantitativos sobre o efeito do vírus no desenvolvimento e na produção do maracujazeiro foram realizados em 2000. “Plantas inoculadas com o vírus em condições de casa de vegetação mostraram redução na área foliar da ordem de 50%, quando comparadas com plantas sadias da mesma idade, com grande impacto na produtividade”, informa o professor, ressaltando a importância de se realizar este projeto com maior abrangência em campo.