DownloadDivulgação/Secretaria de Agricultura e Abastecimento
O interesse sobre a meliponicultura – criação de abelhas nativas sem ferrão – vem crescendo exponencialmente nos últimos anos. Berço de mais de três mil espécies, o Brasil, com sua rica biodiversidade, é um habitat natural para abelhas como a Jataí, a Mandaçaia, entre outras que, com hábitos solitários ou sociais, produzem méis diferenciados, considerados por alguns como uma preciosidade de alto valor no mercado.
Contudo, segundo os especialistas, o seu produto mais precioso é a polinização das plantas, que tem um impacto imenso na produção de alimentos e na recomposição de florestas e demais áreas verdes.
Nesse cenário, há alguns anos, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, por meio da extensão rural, tem desenvolvido projetos em parceria com entidades ligadas ao segmento para incentivar a meliponicultura, difundindo conhecimento e apoiando meliponicultores e interessados em iniciar na atividade. Um exemplo desse trabalho foi a realização, no dia 9 de junho, da oficina “Cuidados com as abelhas nativas no período do inverno”, organizada pela Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) Regional Jaú, ligada à pasta.
“Essa oficina integra um conjunto de ações realizadas por meio do Projeto Regional de Meliponicultura, instituído com parceiros dos setores público e privado, tendo por objetivo promover iniciativas de educação ambiental e capacitações técnicas para o desenvolvimento e profissionalização da meliponicultura como atividade rentável e sustentável”, salienta Júlio Simões, médico veterinário que coordena o Projeto na CDRS Regional Jaú.
Capacitação
João André Miranda de Almeida Prado, diretor da CDRS Regional Jaú, destaca a importância da capacitação em ambiente virtual. “Vivemos um tempo em que é preciso nos reinventarmos para estarmos próximos ao nosso público. A cada dia temos investido na tecnologia como ferramenta de contato com os produtores rurais, de forma a continuar atendendo às suas demandas”, diz.
“A oficina proporcionou uma boa interação entre os participantes e o instrutor, no entanto é preciso enfatizar que a atividade realizada por meio de recurso virtual foi interessante no sentido de aproximar as pessoas para a discussão do assunto nesse momento de pandemia, porém não substitui as capacitações presenciais, nas quais os participantes podem colocar em prática os conhecimentos adquiridos, sentir as dificuldades na realização das tarefas e solucionar suas dúvidas com os instrutores”, completa.
Os extensionistas informam que a divulgação da atividade foi feita em grupos de aplicativos com interesse no assunto, com convite e link para formulário de inscrição. “Posteriormente foi enviado, por e-mail, o link de acesso aos participantes que puderam acessar o ambiente do Google Meet e assistir e interagir com os presentes. O retorno dos participantes foi muito animador e nos embasou para aprimorar ainda mais futuras atividades técnicas”, avalia Júlio.
Principais abordagens
Instrutor da capacitação, Richard Fabri, do Meliponário Paradise, localizado em Bauru, compartilhou sua experiência de vida em contato com as abelhas desde sua infância, quando acompanhava seu avô apicultor, e hoje se dedicando aos estudos e à criação de abelhas nativas. “Durante a nossa ‘conversa’, pudemos desenvolver bem os tópicos ligados ao manejo do meliponário no inverno e o preparo e a administração de alimentação artificial às abelhas nesse período”, afirma.
Inicialmente, o meliponicultor falou sobre a alimentação artificial, esclarecendo em quais situações deve ser feito e os cuidados para não haver contaminação do mel. “No inverno é necessário suplementar a alimentação das abelhas, por conta da escassez de recursos florais, tanto pela época do ano quanto pelo desmatamento e a diminuição dos fragmentos florestais”, explicou Richard, mostrando aos participantes o modo correto de preparar o xarope, que é uma fonte de suprimento energético, e as formas de sua administração, bem como do fornecimento de pólen.
Ao longo da apresentação, Richard deu importantes dicas sobre o manejo do meliponário. “É importante observar a movimentação das abelhas logo cedo; identificar e quantificar os potes de alimentos abertos no interior da colônia, onde mais de três potes abertos e com alimento indica que a quantidade de xarope está satisfatória, devendo-se, assim, controlar a quantidade ofertada”, informou. Ele falou também sobre os cuidados necessários para não alterar o ambiente interno das colmeias, resguardando-as de ataque de inimigos naturais.
Outro assunto abordado em relação ao período do frio foi o dimensionamento adequado das caixas e a espessura da madeira a ser utilizada. “Devem-se utilizar caixas confeccionadas com madeiras de espessura mínima de três centímetros”, finalizou Richard.
Ação integrada
O Projeto de Meliponicultura de Jaú é uma ação integrada de servidores públicos de várias instituições, com o objetivo de organizar a meliponicultura regional, investindo na criação e multiplicação de espécies de abelhas nativas e das ameaçadas de extinção; ações de educação ambiental e conscientização sobre a importância delas no meio ambiente; incentivo ao plantio de espécies melitófilas e melhoria do pasto apícola; difusão da meliponicultura como atividade econômica e sustentável em propriedades rurais e ainda a capacitação técnica e profissionalizante dos interessados na atividade.
“A criação e preservação das abelhas nativas, que desempenham fundamental papel de serviço ecossistêmico de polinização, é uma atividade essencial. Os insetos são os principais polinizadores da flora do planeta e as abelhas se destacam como o grupo mais importante”, explica Julio.
“Elas se alimentam exclusivamente de pólen e néctar e precisam visitar quantidade enorme de flores por dia para suprir suas necessidades individuais e de suas crias. Respondem pela polinização de mais de 50% das plantas das florestas tropicais e no Cerrado brasileiro, podem chegar a polinizar mais de 80% das espécies vegetais”, completa.
O médico veterinário da CDRS afirma ainda que, considerando as plantas cultivadas e utilizadas de forma direta ou indireta na alimentação humana, as abelhas são responsáveis pela polinização de 73% do total e de 42% das 57 espécies vegetais mais plantadas no mundo. “Diante desse cenário, implementamos o Projeto, pois entendemos que são de extrema importância ações direcionadas à criação, preservação e multiplicação dessas espécies, assim como ações que produzam e propaguem conhecimento para a população como um todo, dada a importância desses insetos no nosso cotidiano”, diz.
Aporte financeiro
Os atores envolvidos no desenvolvimento desse projeto são a Secretaria de Agricultura e Abastecimento, por meio da CDRS Regional Jaú; o Instituto Florestal/Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente; a Etec “Prof. Urias Ferreira”, do Centro Paula Souza; o Horto Florestal Municipal de Jaú/Secretaria Municipal de Meio Ambiente; a RPPN Amadeu Botelho de Jaú; e o Parque Zoológico Municipal de Bauru. “Cada uma das instituições tem seu plano de trabalho a ser desenvolvido nos próximos dois anos, com os objetivos específicos alinhados com suas diretrizes institucionais”, informa Júlio.
O aporte financeiro para a implantação das estruturas, aquisição de enxames e insumos para o manejo das abelhas, mudas nativas, frutíferas e exóticas, e cadernos para as atividades de educação ambiental ocorre por meio do Ministério Público do Estado de São Paulo, pelos Ajustamentos de Conduta firmados pela Promotoria do Meio Ambiente do município de Jaú.
“Entendemos a importância e relevância do assunto e nos sensibilizamos com a causa, por isso a promotoria decidiu colocar em seus Termos de Ajuste de Conduta (TACs) cláusula de compensação social, pela qual o infrator, além do cumprimento da obrigação principal (ambiental ou não), se compromete com a doação do material para o desenvolvimento do projeto”, relata Luis Fernando Rossetto, 4º promotor do meio ambiente de Jaú, salientando que o valor do investimento nessa fase inicial é de aproximadamente R$ 220 mil.
O projeto conta com a instalação de meliponários didáticos (14 abrigos distribuídos em cinco instituições); doação de 240 enxames de abelhas nativas de 11 espécies diferentes; 142 caixas modelo INPA para as futuras divisões; insumos para alimentação no período crítico de floradas (142 unidades do alimentador do tipo Roso, 1.420kg de açúcar grosso tipo demerara ou VHP, 71kg de Cera apícola e 45kg pólen apícola); 54 caixas didáticas; 16 banners ilustrativos; 350 cadernos de educação ambiental, 37 mudas frutíferas, sendo 16 delas em vasos grandes; 3.000 mudas de Eucalipto Eufat; 5.000 mudas nativas; e dois perfuradores de solo a gasolina.
Escolas
Algumas das ações ambientais serão desenvolvidas com alunos do Ensino Fundamental. “Os Cadernos de Atividades para Educação Ambiental, elaborados pela ONG Bee OrNotTo Be, foram escritos pelo professor Lionel Segui, um dos maiores especialistas brasileiros e entusiasta das abelhas. Inicialmente, eles serão trabalhados em três escolas do ensino fundamental, com 302 crianças e 24 educadores. As escolas já estão cadastradas em nosso projeto e a capacitação pedagógica das professoras estava programada para o dia 17 de março [Dia do Mel] deste ano, no entanto foi adiada devido à pandemia”, salienta Júlio.
Na área de capacitações, o médico veterinário da CDRS Regional Jaú conta que foram realizados, em 2019, treinamentos com o público interessado como o I Workshop de Meliponicultura de Jaú e Região; a Oficina de transferência de abelhas nativas; e o I Encontro Jahu Cidade Amiga das Abelhas. “Em 2020, foi dado início às capacitações técnicas para os responsáveis pela recepção e manejo das abelhas nos meliponários, com um primeiro encontro realizado em fevereiro deste ano”, diz Júlio.
Coordenador do Grupo Gestor de Apicultura e Meliponicultura da CDRS, Osmar Mosca Diz, engenheiro agrônomo da Divisão de Extensão Rural, enfatiza a relevância desse projeto. “O trabalho que está sendo desenvolvido em Jaú é um exemplo de vanguarda e mostra que é possível estabelecermos excelentes parcerias que contribuam para o bom desempenho dos processos produtivos e, consequentemente, dos agricultores e criadores de abelhas. A interação entre a meliponicultura, a apicultura e as culturas agrícolas são muito benéficas e necessárias a partir de uma visão sustentável de agricultura”, pontua.