DownloadDivulgação/Secretaria de Agricultura e Abastecimento
Produtores de Tapiraí e Piedade, na região de Sorocaba, e de Ubatuba, no Litoral Norte de São Paulo, têm no gengibre uma fonte de renda. Com o mercado cada vez maior, pelo uso em várias preparações culinárias, o produto deve voltar a ser exportado de forma mais significativa, segundo Ivanete Borba, presidente da Associação Rural Comunitária de Promoção Humana e Proteção à Natureza, que congrega um grupo de 19 associados, todos familiares, que se dedicam ao cultivo do Zingiberofficinale roscoe, planta originária da Índia e China e que se disseminou pelo mundo, principalmente em países de clima tropical.
A associação é sediada em Tapiraí, município que detém a marca de maior produtor de gengibre no estado de São Paulo (51% da produção estadual), seguido pelo município de Piedade (34% da produção estadual), ambos da área de atuação da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) Regional Sorocaba, ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Segundo a presidente, que está há quatro anos à frente da organização, o desafio é a transição para o sistema orgânico de cultivo e a exportação.
“A Secretaria de Agricultura [via extensão rural] nos ajudou por meio do Projeto Microbacias II, que possibilitou, em 2018, a aquisição de um veículo utilitário que abriu as portas para o melhor escoamento da produção, com o aumento da área de comercialização, embora grande parte, tanto do gengibre quanto do inhame produzidos, vá para as Centrais de Abastecimento de São Paulo e Sorocaba”, explicou.
Assistência técnica
Ivanete explica que a organização, que tem 16 anos de existência, passou a contar também com a assistência técnica do engenheiro agrônomo Cláudio Nadaleto ‒ o qual tem auxiliado o grupo a fazer um planejamento do próprio negócio e da produção ‒ e também procurado capacitações para que venham, posteriormente, em segundo momento, agregar valor ao produto, trazendo novas propostas de investimento no gengibre.
“O mais importante é que estamos saindo da ‘mão dos atravessadores’. Aprendemos muito nos últimos tempos devido às várias capacitações feitas via Sindicato Rural, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural [Senar] e passamos a contar com recursos provenientes de políticas públicas. O número de associados também tem aumentado e podemos pensar para o próximo ano na formação de uma cooperativa, para que possamos entrar no mercado de exportação”, afirma a gestora.
“O gengibre é desintoxicante, muito utilizado na melhora de problemas nas vias respiratórias, além de possuir o gingerol, potente termogênico que ajuda na elevação da atividade metabólica. Essa raiz pode ser acrescentada a sucos, chás, bolos, biscoitos, molhos e diversas outras preparações culinárias, proporcionando mais sabor e maior valor nutricional”, destacou Sizele Rodrigues dos Santos, nutricionista da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, lotada na Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios (Codeagro).
Entre as vantagens do gengibre está a capacidade de ‘ficar no chão’ esperando um melhor momento para a comercialização. “Vamos fazendo a colheita de forma escalonada, leva de seis meses a um ano para colher, com início em maio até novembro”, conta Ivanete, que é produtora de gengibre, inhame e olerícolas em geral, na Serra de Paranapiacaba, onde está situada a maior região produtora de gengibre no estado (70 toneladas anuais).
Cada produtor da associação destina, em média, 1,5 hectare da propriedade para o cultivo de gengibre, sempre aliado a outras culturas. “O gengibre é uma poupança guardada embaixo da terra”, ensina a produtora, portanto, uma boa alternativa, já que há bastante mercado devido às suas qualidades para a saúde e ao uso disseminado em várias preparações culinárias.
Atendimento
A Casa da Agricultura e os produtores do município são atendidos pela CDRS Regional Sorocaba, explica o engenheiro agrônomo Caetano Mainine, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento.
“Os produtores de gengibre estão otimistas, pois conseguiram, mesmo nesses tempos de pandemia, se organizar e fazer entregas diretas para um projeto da Fundação Banco do Brasil, que distribuiu cestas de alimentos em algumas regiões do Estado para famílias em vulnerabilidade”, disse. Mainine conta que o gengibre é bem característico de pequenas propriedades, alguns, devido à declividade da Serra, ainda fazem o plantio usando tração animal.
“Goiás e Espírito Santo figuram entre os maiores produtores, porém há espaço para quem quiser ter essa alternativa de renda. Trata-se de uma boa alternativa, com mercado em expansão”, explana o técnico da Secretaria.
O ponto alto da safra é em julho, mas os agricultores já começam a colher o rizoma a partir de março. “Conforme se acumulam sólidos solúveis, o gengibre vai atingindo a maturidade fisiológica, com isso passa a ter maior valor no mercado e maior tempo de prateleira”, ensinou Mainine.
Alimentação
Nesta época do ano, de festas juninas (mesmo que em casa), o gengibre costuma ser bastante lembrado por ser utilizado no preparo do quentão, nos chás de inverno e também por favorecer a imunidade em tempo de gripes, resfriados e, este ano em especial, de COVID-19. As folhas da planta também passaram a ser utilizadas na alimentação como Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC), um outro nicho de mercado que vem se abrindo e que permite o uso integral da planta, parte aérea e caule.
“O gengibre é um caso muito peculiar de eficiência da agricultura familiar em pequenas propriedades. Com uma produção média, um hectare de gengibre produz de 30 a 40 toneladas, porém tem potencial para produzir 100 toneladas por hectare”, confirmou o engenheiro agrônomo Antônio Marchiori, extensionista da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, hoje aposentado, mas que marcou toda sua carreira no Litoral Norte de São Paulo, em especial Ubatuba, onde comandou a Casa da Agricultura local.
Segundo Marchiori, há grande capacidade de os pequenos produtores direcionarem a sua produção para exportação. Ubatuba foi um dos municípios pioneiros no cultivo dessa planta no Brasil e já exportou muito gengibre.
Quem relembra é Anne Yoriko Kamiyama, conhecida por produzir e processar o gengibre em sua propriedade e ser um marco na região. “No início, nós éramos 26 produtores de gengibre, mas a fusariose levou muitos a desistirem do cultivo. No litoral temos vários problemas com enchentes e isso foi fatal para a cultura; com as enchentes ocasionadas pelo assoreamento dos rios e riachos, vêm as doenças, então o cultivo ficou delimitado apenas nas partes mais altas do município”, conta a produtora, que já há algum tempo voltou seu foco para o turismo rural e ecológico, com trilha de 1,5 km na Mata Atlântica para o turismo de aventura.
Quem se aventurar ainda poderá, no fim da expedição, adquirir os mais variados produtos feitos à base de gengibre, os quais são processados pela equipe de Anne, composta por três funcionários fixos e outros diaristas para as épocas de maior necessidade.
Diferencial
Outro pioneiro no cultivo do gengibre orgânico foi Amarildo Pazelli, produtor de gengibre em Ubatuba há mais de 30 anos. “O grande diferencial do gengibre de Ubatuba é que, hoje, dominamos as formas de produção orgânica. Tivemos apoio da extensão rural da Secretaria de Agricultura e, hoje, tenho orgulho de dizer que, com práticas orgânicas, o gengibre de Ubatuba consegue ter um padrão de qualidade melhor do que o gengibre produzido da forma convencional”, afirmou.
Segundo Antônio Marchiori, o gengibre tem um aspecto muito interessante, que é o seu melhor desenvolvimento em condições de meia-sombra. Os estudos realizados por Marchiori em Ubatuba, usando técnicas de cultivo orgânico, mostraram que a planta tem grande potencial para o cultivo em sistemas agroflorestais de base agroecológica, ideal para a preservação ambiental, grande preocupação do extensionista, que veio a direcionar todo o seu trabalho em extensão.
Porém, este ano, as chuvas castigaram sua produção, houve perda total na área destinada ao cultivo orgânico, que é de 1ha e costuma somar em torno de 40 toneladas de rizomas graúdos para preparo de doces e conservas. “Já os miúdos, que são usados no processamento de xaropes, licores e pó de gengibre, chegam a 70 toneladas anuais. Os meses de colheita são junho e julho; em agosto e setembro estamos novamente plantando, o ponto ideal para colheita é em torno de 10 meses pós plantio. Uso toda a produção, convencional e orgânica, no processamento”, diz dona Anne.
Ela voltou a frisar que o turismo rural e ecológico tem sido o seu foco de atuação, principalmente depois de vir a contar, também, com a parceria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que montou uma base para pesquisas em geografia e geologia em suas terras, elevando ainda mais o potencial para o turismo rural.