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Lançado oficialmente em 2019, o Projeto Gigante Guarani reúne organizações da sociedade civil e instituições públicas e privadas com o objetivo de restaurar ecologicamente a Mata Atlântica em áreas de recarga do Aquífero Guarani na Cuesta de Botucatu, no interior de São Paulo.
O objetivo é a restauração de uma área total de 200 hectares de Mata Atlântica, associada à produção agroecológica, em Áreas de Preservação Permanente dos municípios de Itatinga, Bofete e Pardinho. Para tanto, a ação obteve termos de compromisso de dezenas de agricultores da região, que buscam a agroecologia e a restauração como alternativas econômicas para a adequação ambiental de suas propriedades. O projeto conta com o apoio financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Paralelamente ao replantio de matas nativas e à implantação de sistemas agroflorestais para geração de renda, o Gigante Guarani promove oficinas sobre temas da cadeia produtiva da restauração florestal, captação de recursos, elaboração de projetos e acesso a políticas públicas para agricultores, jovens da área rural e técnicos do serviço público.
Os objetivos do projeto e seus resultados serão divulgados para efeito multiplicador na região e para a criação de um mecanismo de mobilização social e sustentabilidade a longo prazo.
Produtores
Para balizar as informações transmitidas aos produtores e as decisões tomadas pela equipe técnica do Gigante Guarani, há ainda uma vertente menos conhecida, embora de importância fundamental: a realização de estudos científicos. “A pesquisa é um diferencial. São estudos bastante práticos, que fornecem resultados que nos auxiliam a fazer opções dentro das atividades de restauração”, comenta a professora Magali Ribeiro da Silva, coordenadora do Núcleo de Pesquisa do projeto, ao Portal da Unesp.
Mesmo com a pandemia de COVID-19, atualmente, duas dissertações de mestrado e duas pesquisas de pós-doutorados estão em andamento junto à Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), do campus de Botucatu, desenvolvidas no âmbito do Gigante Guarani.
Os dois trabalhos de mestrado buscam embasar decisões sobre qual o tipo de muda que melhor se adequa aos objetivos da restauração nas áreas selecionadas. A pesquisa “Avaliação do desenvolvimento inicial em campo de sete espécies florestais nativas da mata atlântica em três diferentes embalagens”, desenvolvida como mestrado de Luís Renato de Ulhôa Cintra Lopes e orientada pela professora Magali junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Florestal da FCA, tem como objetivo avaliar se o padrão de mudas produzidas em embalagens distintas pode afetar o desenvolvimento inicial das plantas e a manutenção da área reflorestada.
Por sua vez, o estudo “Gestão econômica para recuperação de uma mata ciliar: uma abordagem estocástica”, desenvolvido como mestrado por Jean Fernando Silva Gil, sob orientação do professor Danilo Simões e coorientação da professora Magali, busca analisar sob condições de incerteza, a viabilidade econômica de três projetos de restauração florestal que se distinguem na escolha de mudas produzidas em diferentes recipientes.
“Hoje, no mercado, há uma diferença no custo das mudas, de acordo com o modo como elas são produzidas e comercializadas. Queríamos saber quais seriam os desempenhos para avaliar o custo-benefício de um determinado tipo de muda”, explica a professora Magali.
“Essas pesquisas já estão sendo finalizadas e ajudarão a definir os tipos de muda que serão utilizadas, de acordo com a situação e as características de cada área. São trabalhos que respondem diretamente aos interesses do produtor rural”, acrescenta.
Semeadura direta
Os trabalhos de pós-doutorado, por sua vez, buscam avaliar a semeadura direta e aspectos econômicos do projeto. “Eficiência da semeadura direta com espécies arbóreas nativas e diferentes densidades de mudas plantadas no enriquecimento”, desenvolvido por Richardson Barbosa Gomes da Silva, sob a supervisão da professora Magali, tem como objetivo avaliar a eficiência da técnica de semeadura direta com espécies arbóreas nativas e diferentes densidades de mudas plantadas no enriquecimento visando à restauração da área.
Já a pós-doutoranda Daniela Polizeli Trafficante desenvolve o trabalho “Valoração Econômica da Restauração Florestal de uma Área de Preservação Permanente”, sob a supervisão do professor Danilo Simões. O objetivo do estudo é a levantar informações que para embasar o planejamento da sustentabilidade ambiental nas propriedades beneficiadas pelo projeto.
A pesquisa com a semeadura direta, técnica também conhecida como “muvuca”, palavra indígena que significa mistura, começou no início de 2020, no município de Pardinho. A “muvuca” é uma alternativa ao plantio de mudas e é feita com a mistura de diversas espécies de sementes nativas, grãos e areia. O custo de implantação é menor, pois o custo das sementes é menor do que o das mudas, além de exigir uma quantidade menor de operações no campo, quando comparado ao plantio convencional.
A “muvuca” associada com alguma cultura plantada pode ser uma boa ferramenta para ajudar a controlar o mato que atrapalha a restauração. “Um desafio desse projeto é reflorestar sem usar herbicida, ou com o mínimo uso. Para isso, nesta pesquisa, investigamos se adubação verde auxilia nesse processo. Também buscamos trabalhar com o plantio de melancia e milho nas entrelinhas para ajudar o produtor rural a ter uma renda inicial e ajudar no controle do mato”, relata a professora Magali.
Esse estudo tem o apoio da Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica, na pessoa do engenheiro agrônomo Pedro Jovchelevich, e do Instituto Socioambiental (ISA).
Resultados
Segundo a docente da FCA, mesmo com os atrasos e as dificuldades impostas pela pandemia, em breve os executores do projeto terão em mãos alguns resultados que servirão de subsídios para a implantação das atividades de restauração.
“O projeto é de 200 hectares e esses resultados ajudarão a definir os melhores modelos para nossa região. São pesquisas que geram resultados muito práticos, mas como são feitas em âmbito de mestrado e pós-doutorado requerem uma série de avaliações e análises para embasar os resultados. É preciso explicar os resultados, não apenas expô-los. Mas de qualquer modo, é uma maneira de atender as necessidades do pequeno produtor rural, que precisa de respostas para seus problemas”, diz.
Trabalham para a execução do projeto Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Unesp, Instituto Giramundo Mutuando, Instituto Itapoty, Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica, Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) e a Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais (Fepaf), além das prefeituras municipais de Itatinga, Bofete e Pardinho.