Por Thales Vasconcelos*
Venho aqui mais uma vez
E antes que eu esqueça
Francisco Firmino é meu nome
Vamos martelar cabeça
Quem sabe bem o que fez
Por favor, não esmoreça
Mostre o talento que tem
Mesmo que alguém se aborreça
Zezin, sujeito apressado
Não viu o que a pressa lhe fez:
Passou por mau elemento
Por falta de polidez
E só salvou sua imagem
Sentindo a estupidez
Isso aconteceu num dia
Que ele vestiu-se de rei
E na fila da padaria
Furou quem tava na vez:
Uma senhora gestante
Com uma criança de colo
Chamando um outro menino
Gritando pr’ele vir logo
“Se tu ficar aí lesando
Chegar em casa eu te esfolo!”
Seus nervos naquele dia
Não tavam muito alinhados
Trabalho foi muito tenso
Trânsito paralisado
O que ele achava mais certo
É que tudo tava errado
Só lhe faltava alguém
Pra considerar culpado
Aproveitou o momento
No meio da confusão
Passou na frente da dona
Pensando reclamação
“Só quero ir logo pra casa
E tomar aquela ducha
É fila atrás de fila
Meu Deus do Céu, pura bucha!”
Naquele mesmo momento
Ouvindo alguém chamando
Zezin se passou de surdo
E seguiu ignorando
Quem chamou não desistiu
E veio se aproximar
Cutucou ele no ombro
Pedindo pra respeitar
“O menino já apareceu
Deixe a dona passar!”
Seus nervos foram a mil
Zezin se viu no direito
De ainda argumentar
Sem nem olhar pro sujeito
Inda levantou a voz
Querendo impor respeito
A voz falou bem mansinho
Na maior da calmaria
Lhe disse só uma coisinha
Que foi um banho de água fria
“A mulher que te criou
Já passou por muita fila
E assim como essa senhora
Esperou ser atendida
Preste atenção que a lição
Não deve ser esquecida!”
Zezin olhou para traz
E veja só que ironia
Bem abaixo do seu ombro
Tinha uma velha baixinha
Quando ele olhou em seus olhos
Exclamou forte: “Mãezinha!?”
“Não me desonre, seu cabra!
Que eu lhe criei sozinha
E nunca lhe ensinei
A pisar fora da linha
Mesmo com a dificuldade
Que tive no dia-a-dia!”
Sentindo-se envergonhado
Pensando até em ir embora
Devolveu o lugar devido
Pr’aquela dona senhora
A dona vendo Zezin
Mostrando constrangimento
Estendeu-lhe a sua mão
Sem nenhum ressentimento
Elogiando a atitude
De um novo comportamento
Falou de um ditado antigo
Que vale de fechamento
“Quem corrigir o seu erro
Ouvindo um bom argumento
Pode erguer na sua vida
Majestoso monumento
De humildade e caráter
Firmeza e bom exemplo
Mesmo falhando comigo
Tem meu reconhecimento”.
*Thales Vasconcelos é psicólogo e artista de cultura popular. Atualmente, está cursando mestrado em Artes Cênicas na Ufac. Francisco Firmino é um personagem cordelista e repentista acreano que busca, em suas manifestações artísticas, abordar as questões sociais com as quais se depara no dia a dia